sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Chamada de trabalhos para publicação
É com imensa satisfação que informamos que, em 12. 12. 2012, durante a realização do II Simpósio Nacional de Texto e Ensino (II SINATE), foi publicado o Vol. 01. N.02 (2012), da revista Diálogo das Letras, dedicado à temática "Questões de ensino de textos", organizado pelo prof. Wellington Mendes. Visitem a página da revista a partir do link abaixo e vejam os textos publicados:
http://periodicos.uern.br/index.php/dialogodasletras/issue/current/showToc
Por oportuno, queremos expressar nosso agradecimento a todos os nossos colaboradores, dos que publicaram nesse número aos que não tiveram textos aceitos. Nossa satisfação seria completa, se pudéssemos acolher todos os trabalhos submetidos. Infelizmente, isso não é possível. De todo modo, fica o convite para o estabelecimento do diálogo para os próximos números, cujas chamadas já se encontram abertas (cf. descrito abaixo), para as quais pedimos a gentileza da divulgação, na sua instituição, entre seus colegas professores e alunos.
Chamada de trabalhos para o volume 02, número 01 – jan. a jun. 2013
Prazo para submissão: 30 de abril de 2013. Previsão de publicação: 31 de julho de 2013. Temática: ESTUDOS EM ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA E NO DISCURSO Ementa: Com a temática Estudos em Argumentação na Língua e no Discurso, a revistaDiálogo das Letras pretende reunir trabalhos teóricos e/ou empíricos que, ancorados em quaisquer das correntes teóricas das ciências da linguagem (Nova Retórica, Teorias da Argumentação na Língua, Semântica Argumentativa, entre outras), explorem questões sobre a argumentatividade da linguagem ou que abordem propostas de trabalho com o texto argumentativo verbal, visual ou verbo-visual. Organizadores: Prof. Lidiane de Morais Diógenes Bezerra Prof. Gilton Sampaio de Souza
Chamada de trabalhos para o volume 02, número 02 – jul. a dez. 2013
Prazo para submissão: 30 de setembro de 2013. Previsão de publicação: 20 de dezembro de 2013. Temática: ABORDAGENS SOBRE O TEXTO LITERÁRIO NO ENSINO DE LÍNGUAS E LITERATURA Ementa: Com a temática Abordagens sobre o texto literário no ensino de línguas e literatura, a revista Diálogo das Letras objetiva acolher trabalhos que deem conta de traçar um panorama e apontar perspectivas de abordagens do texto literário no ensino de línguas e literaturas. Privilegiam-se ainda, neste número, estudos de teorias do texto literário, em diferentes abordagens tais como Sociologia da Leitura, Psicolinguística, Estética da Recepção, Interacionismo sociodiscursivo, Teoria do Efeito, que compreendam, entre outras, as dimensões estética, linguística, ideológica, histórica, filosófica, pedagógica do texto literário, bem como a contribuição deste para a constituição do leitor. Organizadoras: Profa. Maria Edileuza da Costa Profa. Maria Lúcia Pessoa Sampaio
Por fim, desejamos um natal de muita luz e um próspero e abençoado ano novo.
http://periodicos.uern.br/index.php/dialogodasletras/issue/current/showToc
Por oportuno, queremos expressar nosso agradecimento a todos os nossos colaboradores, dos que publicaram nesse número aos que não tiveram textos aceitos. Nossa satisfação seria completa, se pudéssemos acolher todos os trabalhos submetidos. Infelizmente, isso não é possível. De todo modo, fica o convite para o estabelecimento do diálogo para os próximos números, cujas chamadas já se encontram abertas (cf. descrito abaixo), para as quais pedimos a gentileza da divulgação, na sua instituição, entre seus colegas professores e alunos.
Chamada de trabalhos para o volume 02, número 01 – jan. a jun. 2013
Prazo para submissão: 30 de abril de 2013. Previsão de publicação: 31 de julho de 2013. Temática: ESTUDOS EM ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA E NO DISCURSO Ementa: Com a temática Estudos em Argumentação na Língua e no Discurso, a revistaDiálogo das Letras pretende reunir trabalhos teóricos e/ou empíricos que, ancorados em quaisquer das correntes teóricas das ciências da linguagem (Nova Retórica, Teorias da Argumentação na Língua, Semântica Argumentativa, entre outras), explorem questões sobre a argumentatividade da linguagem ou que abordem propostas de trabalho com o texto argumentativo verbal, visual ou verbo-visual. Organizadores: Prof. Lidiane de Morais Diógenes Bezerra Prof. Gilton Sampaio de Souza
Chamada de trabalhos para o volume 02, número 02 – jul. a dez. 2013
Prazo para submissão: 30 de setembro de 2013. Previsão de publicação: 20 de dezembro de 2013. Temática: ABORDAGENS SOBRE O TEXTO LITERÁRIO NO ENSINO DE LÍNGUAS E LITERATURA Ementa: Com a temática Abordagens sobre o texto literário no ensino de línguas e literatura, a revista Diálogo das Letras objetiva acolher trabalhos que deem conta de traçar um panorama e apontar perspectivas de abordagens do texto literário no ensino de línguas e literaturas. Privilegiam-se ainda, neste número, estudos de teorias do texto literário, em diferentes abordagens tais como Sociologia da Leitura, Psicolinguística, Estética da Recepção, Interacionismo sociodiscursivo, Teoria do Efeito, que compreendam, entre outras, as dimensões estética, linguística, ideológica, histórica, filosófica, pedagógica do texto literário, bem como a contribuição deste para a constituição do leitor. Organizadoras: Profa. Maria Edileuza da Costa Profa. Maria Lúcia Pessoa Sampaio
Por fim, desejamos um natal de muita luz e um próspero e abençoado ano novo.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Recredenciamento dos membros do GT Estudos Bakhtinianos
Prezados Membros do GT/ANPOLL/Estudos Bakhtinianos
Considerando a Resolução 01/ANPOLL/2012
http://www.anpoll.org.br/portal/index.php/resolucoes/ que estabelece normas para a constituição e funcionamento dos GTs, e que o Presidente da ANPOLL, Prof. Dr. Heronides Moura, no uso de suas atribuições e com base no Estatuto da ANPOLL, resolveu aprovar as seguintes normas para a constituição e funcionamento dos Grupos de Trabalho (GTs) da ANPOLL:
http://www.anpoll.org.br/portal/index.php/resolucoes/ que estabelece normas para a constituição e funcionamento dos GTs, e que o Presidente da ANPOLL, Prof. Dr. Heronides Moura, no uso de suas atribuições e com base no Estatuto da ANPOLL, resolveu aprovar as seguintes normas para a constituição e funcionamento dos Grupos de Trabalho (GTs) da ANPOLL:
Art. 1º. Os GTs são constituídos por professores e/ou pesquisadores em estágio pós-doutoral, vinculados a programas de pós-graduação, conforme definido pelo estatuto da ANPOLL (Art. 15º).
Parágrafo único:
Pós-graduandos podem, a critério da cada GT, participar das atividades dos Grupos de Trabalho, mas não podem ser considerados membros dos GTs.
Pós-graduandos podem, a critério da cada GT, participar das atividades dos Grupos de Trabalho, mas não podem ser considerados membros dos GTs.
Art 2º. Os coordenadores dos GTs devem promover o recredenciamento bianual de todos os membros, segundo normas estabelecidas pelos próprios GTs, e informar, no Plano de Atividades do biênio, a lista de membros recredenciados, e as regras estabelecidas para o recredenciamento.
Parágrafo único:
O número mínimo, por GT, de membros recredenciados deve ser de dez professores e/ou pesquisadores.
O número mínimo, por GT, de membros recredenciados deve ser de dez professores e/ou pesquisadores.
Art 3º. Os coordenadores de GT, para terem direito ao auxílio financeiro da ANPOLL quando da participação nos encontros da Associação, devem apresentar os seguintes documentos, no prazo estabelecido pela Diretoria da ANPOLL:
- Relatório de Atividades do biênio anterior.
- Plano de Atividades do biênio em curso, contendo a lista atualizada de membros recredenciados do GT.
- Descrição da programação a ser desenvolvida, pelo GT, nos encontros da ANPOLL.
Art. 4º Para que o auxílio financeiro ao coordenador seja disponibilizado, é preciso que a programação apresentada conte com a participação de ao menos oito professores e/ou pesquisadores.
Nós, Beth Brait e Maria Inês Campos, coordenadora e vice-coordenadora do GT Estudos Bakhtinianos, informamos que:
- O Relatório de Atividades do biênio anterior (2010-2012) está no site http://www.linguagemememoria.com.br/mater
- O Plano de Trabalho para 2012-2014, discutido no XXVII Encontro Nacional da ANPOLL, realizado no período de 10 a 13 de julho, em Niterói/RJ, quando o GT Estudos Bakhtinianos se reuniu durante dois dias, está no site http://www.linguagemememoria.com.br/materias.php?cd_secao=145 ;
- A Programação completa encontra-se em http://www.linguagemememoria.com.br/materias.php?cd_secao=178 ;
- O Plano de Atividades do Biênio em curso deve conter a lista atualizada de membros recredenciados do GT.
Nesse sentido, e para atender as normas da ANPOLL, essa coordenação levou em conta, para o recredenciamento, o LATTES de cada participante, observados dois itens:
a) projeto de pesquisa contemplando os estudos bakhtinianos;
b) produção intelectual nos últimos dois anos relacionada aos estudos bakhtinianos. - Quanto ao próximo recredenciamento dos membros, é importante destacar a participação nos próximos dois Encontros Acadêmicos (anual/2013/2014), previamente marcados em assembleia pelo GT, caso contrário, acarretará no não recredenciamento do pesquisador;
- Membros recredenciados e credenciados recentemente:
Adail Ubirajara Sobral, UCPEL;
Doris de Arruda Carneiro da Cunha/UFPE/CNPq;
Elisabeth Brait (Beth Brait)/ PUCSP/USP/CNPq;
Jean Carlos Gonçalves/UFPR/CNPq (último membro credenciado);
João Bosco Cabral dos Santos/UFU;
Juscelino Pernambuco, Universidade de Franca;
Maria Cristina Hennes Sampaio/UFPE;
Maria de Fátima Almeida/UFPB;
Maria de Fátima F. G. de Castro/UFU;
Maria Inês Batista Campos/USP;
Maria da Penha Casado Alves/UFRN;
Miriam Bauab Puzzo/UNITAU;
Pedro Farias Francelino/UFPB;
Renata Coelho Marchezan/UNESP;
Sheila Vieira de Camargo Grillo/USP/CNPq;
Sonia Sueli Berti Santos/UNICSUL. - Descrição da programação a ser desenvolvida, pelo GT, nos encontros da ANPOLL; Art. 4º Para que o auxílio financeiro ao coordenador seja disponibilizado, é preciso que a programação apresentada conte com a participação de ao menos oito professores e/ou pesquisadores.
Conforme definido no Encontro de julho de 2012/ XXVII ANPOLL, o tema previsto para os próximos encontros é Contribuição de Bakhtin e do Círculo para uma teoria da linguagem e para o ensino e a previsão, salvo impedimento pessoal de última hora, é a de que todos os membros participem, discutindo o tema a partir de suas pesquisas em andamento.
Lembramos que ficou definido que cada membro do GT/Estudos Bakhtinianos enviaria, à coordenação e aos demais colegas, até setembro de 2012, uma Proposta de Trabalho que contemple a temática prevista para o biênio 2012- 2014.
Todos que ainda não enviaram, poderão fazê-lo até 15 de março de 2013 para organizarmos a Programação do próximo encontro, que acontecerá de 09 a 11 de outubro de 2013, durante a realização do InPLA em São Paulo.
São Paulo, 20 de novembro de 2012.
Beth Brait
Maria Inês Campos
Maria Inês Campos
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Mercadante comenta o tema da redação do ENEM
"Temos uma comissão competente que considerou, entre tantas sugestões de tema, este o mais adequado. Ele pressupõe a capacidade de articular informações e refletir sobre o momento que o Brasil está vivendo. O Brasil é um País que teve uma diáspora, mas com a estabilidade, a democracia, hoje atrai povos. Acho que é um tema bastante contemporâneo, desafiador e não previsto", disse, após participar de cerimônia no Palácio do Planalto. Ele acrescentou que, ao longo das questões, a prova trazia exemplos que ajudavam na reflexão sobre o tema da redação.
Para Mercadante, não se deve comemorar o sucesso do Enem já que o exame só pode ser considerado encerrado após o dia 28 de dezembro, quando for divulgado o resultado. "Não tem nada para comemorar. A equipe tem que continuar trabalhando com seriedade e pé no chão", minimizou.
Em relação à segurança das provas, o ministro avaliou que os problemas ocorridos em edição anterior fizeram com que o planejamento fosse reforçado, evitando novas ocorrências. "Todos aprendem com os erros e os erros serviram para triplicarmos o nível de exigência no planejamento. Ampliamos o esforço na área de segurança, de elaboração de provas", explicou.
Sobre a informação falsa divulgada, duas vezes, na internet que a prova do Enem teria sido cancelada, Mercadante reforçou que a Polícia Federal investiga o caso. "Precisamos inclusive de ajustes na legislação para que não tenha tentativa de desestabilizar o processo que para a ampla maioria dos brasileiros é um momento decisivo".
O Enem deste ano registrou abstenção de 27,9% dos participantes. Ao todo, compareceram 4,1 milhões de alunos nos 15.076 locais de provas localizados em 1.615 municípios.
Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 pelo governo federal com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica. A partir de 2009, o teste passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para ingresso no ensino superior.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 pelo governo federal com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica. A partir de 2009, o teste passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para ingresso no ensino superior.
Neste ano, o candidato resolveu no sábado, dia 3 de novembro, questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias e de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Já no domingo, dia 4, foi a vez dos testes de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, e Redação. O gabarito oficial tem divulgação prevista para 7 de novembro e os resultados, para 28 de dezembro.
Escrito por Stella Bortoni
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Projeto Pontes
Grupo de Pesquisa coordenado pela professora Stella Maris Bortoni-Ricardo, da UnB, com o objetivo de construir "pontes" entre a Sociolinguística Educacional e a formação de professores.
A proposta desse projeto é construir pontes entre a pesquisa sociolinguística e a formação de professores de várias áreas do conhecimento e níveis de ensino, para posterior intervenção na práticas pedagógica..
Clique aqui para ir no grupo do Facebook.
IV SIMPÓSIO MUNDIAL DE ESTUDOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
O IV SIMELP ocorrerá de 02 a 05 de julho de 2013, na Faculdade Letras da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, Goiás, Brasil.
O SIMELP tem como concepção básica a ideia de congregar estudiosos da língua portuguesa de todo o mundo – no que diz respeito à divulgação, ao ensino e à pesquisa – em Simpósios constituídos como espaços de discussão nas áreas da língua, da linguística, da literatura e da cultura. Para isso, como na primeira edição em 2008 (na USP, Brasil), na segunda em 2009 (na Universidade de Évora, Portugal), e na terceira em 2011 (na Universidade de Macau), contamos com a participação de universidades de todos os continentes. Pretende-se que esse evento seja democrático e crie um ambiente propício para trocas entre experientes pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas que têm a língua portuguesa como objeto de interesse.
Diálogo é a palavra-chave do IVSIMELP GYN. O IV SIMELP integra o conjunto de eventos comemorativos aos 50 anos da Faculdade de Letras e aos 40 anos do Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da UFG.
Queremos realizar um grande evento em 2013 e será muito bom ter você conosco!
COMISSÃO EXECUTIVA
Vânia Cristina Casseb Galvão
Tânia F. Rezende Santos
Silvia Lúcia Bigonjal Braggio
Leosmar Aparecido Silva
Lennie Aryete Dias P. Bertoque
COORDENAÇÃO GERAL
Vânia Cristina Casseb Galvão
Francisco José Quaresma de Figueiredo
Mais informações aqui.
O SIMELP tem como concepção básica a ideia de congregar estudiosos da língua portuguesa de todo o mundo – no que diz respeito à divulgação, ao ensino e à pesquisa – em Simpósios constituídos como espaços de discussão nas áreas da língua, da linguística, da literatura e da cultura. Para isso, como na primeira edição em 2008 (na USP, Brasil), na segunda em 2009 (na Universidade de Évora, Portugal), e na terceira em 2011 (na Universidade de Macau), contamos com a participação de universidades de todos os continentes. Pretende-se que esse evento seja democrático e crie um ambiente propício para trocas entre experientes pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas que têm a língua portuguesa como objeto de interesse.
Diálogo é a palavra-chave do IVSIMELP GYN. O IV SIMELP integra o conjunto de eventos comemorativos aos 50 anos da Faculdade de Letras e aos 40 anos do Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da UFG.
Queremos realizar um grande evento em 2013 e será muito bom ter você conosco!
COMISSÃO EXECUTIVA
Vânia Cristina Casseb Galvão
Tânia F. Rezende Santos
Silvia Lúcia Bigonjal Braggio
Leosmar Aparecido Silva
Lennie Aryete Dias P. Bertoque
COORDENAÇÃO GERAL
Vânia Cristina Casseb Galvão
Francisco José Quaresma de Figueiredo
Mais informações aqui.
GT - Estudos Bakthinianos
O GT Estudos Bakhtinianos foi idealizado em três importantes eventos científicos:
- Thirteenth International Mikhaïl Bakhtin Conference, realizado de 28 de julho a 01 de agosto de 2008, na University of Western Ontario, London/ Canadá;
- XV Congreso Internacional da Asociación de Linguistica y Filología de America Latina/ALFAL, em Montevideo, em agosto de 2008;
- VI Congresso Internacional e XIX Instituto de Linguística da ABRALIN, em João Pessoa, em março de 2009.
Antes dessas reuniões, pesquisadores de diferentes universidades, interessados na análise dialógica do discurso (ADD), advinda do pensamento bakhtiniano, assim como em seu diálogo com outras vertentes dos estudos do discurso, vinham se comunicando com o objetivo de organizar e oficializar um grupo de trabalho que os congregasse.
Esses contatos foram se constituindo a partir de várias atividades acadêmico-científicas, desenvolvidas ao longo de vários anos:
- apresentação e discussão de pesquisas em vários encontros científicos nacionais e internacionais;
- cursos regulares e minicursos ministrados em IES e em eventos científicos, tendo por tema e base a teoria/análise do discurso bakhtiniana;
- orientação de Iniciação Científica, dissertações e teses;
- participação em bancas Mestrado e Doutorado, em que, de alguma forma, os trabalhos apoiavam-se na fundamentação teórica advinda de Bakhtin e o Círculo;
- publicações de livros (teóricos, didáticos e paradidáticos), capítulos de livros e artigos que explicitam, divulgam, tornam visível e aplicável a vertente bakhtiniana dos estudos da linguagem;
- grupos de pesquisa certificados pelo CNPq em que uma das fontes teórico-metodológicas é Bakhtin e o Círculo;
- intercâmbios com algumas universidades brasileiras:
IEL/UNICAMP – Silvana Serrani;
FE/UNICAMP - Luci Banks;
UFSCar – Roberto Leiser Baronas;
UFRGS- Ana Zandwais;
UFRN - Maria da Penha Casado Alves;
UFPB - Maria de Fátima Almeida/Pedro Farias Francelino.
Linhas de pesquisa
Para mais informações, acesse a página do GT aqui.
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Chamada Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso
Chamada: Bakhtiniana - Volume 8/Número 2 - a ser publicada em novembro de 2013
Tema: ANÁLISE DA VERBO-VISUALIDADE, CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS DO DISCURSO
Diferentes tendências de análise de discurso passaram a incorporar a relação verbo-visual, que caracteriza produções advindas de diferentes campos e esferas de atividades, como um de seus objetos de reflexão. Sem se confundir com a Estética ou com as propostas da Semiótica e da Semiologia, as diferentes ADs propõem assumir o mesmo rigor que assumem com os discursos unicamente verbais com esse novo objeto. Este número espera contar com reflexões que contribuam para o dimensionamento, leitura e análise do discurso verbo-visual. Os artigos aprovados para este número serão reenviados aos autores para que providenciem a versão em inglês. Desde o número 7, Bakhtiniana é bilíngue.
Solicitamos que os autores leiam cuidadosamente as orientações das Normas de Submissão em http://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/about/submissions
Prazo limite para submissão dos originais: 15 de fevereiro de 2013.
Chamada: Bakhtiniana - Volume 8/Número 1 - a ser publicada em junho de 2013 Tema: A PRODUTIVIDADE DOS CONCEITOS DE DIALOGISMO E POLIFONIA NOS ESTUDOS DA LINGUAGEM
Considerando que esses dois conceitos têm grande abrangência teórica e implicam controvérsias no que se refere à mobilização em análises de textos e discursos, este número espera contar com reflexões que contribuam para o dimensionamento da produtividade de ambos nos estudos da linguagem.
Os artigos aprovados para este número serão reenviados aos autores para que providenciem a versão em inglês. Desde o número 7, Bakhtiniana é bilíngue.
Solicitamos que os autores leiam cuidadosamente as orientações das Normas de Submissão em http://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/about/submissions
Prazo limite para submissão dos originais: 15 de fevereiro de 2013.
VIII CONGRESSO INTERNACIONAL E XXI INSTITUTO DA ABRALIN
A Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) e o Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) têm o prazer de anunciar o VIII CONGRESSO INTERNACIONAL e o XXI INSTITUTO DA ABRALIN, a realizar-se no período de 28 de janeiro a 06 de fevereiro de 2013, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Serão aceitas inscrições para comunicações orais em Grupos Temáticos, apresentação de pôsteres e inscrição em minicursos. Informações sobre o evento no site www.abralin.org.
Normas para inscrição na ABRALIN/2013:
- As inscrições para participação no VIII Congresso Internacional da ABRALIN, em todas as modalidades, serão feitas exclusivamente pelo site www.abralin.org.
- Somente os sócios da ABRALIN podem apresentar comunicação oral nos Grupos Temáticos. Os alunos de graduação, que só podem apresentar trabalhos na modalidade pôster, não precisam se associar.
- Para se inscrever em minicursos, o participante não precisa ser sócio da ABRALIN.
- Para se inscrever, os associados precisam estar em dia com a anuidade de 2012.
- Todos os pagamentos deverão ser efetuados através do site da ABRALIN.
- Todos os participantes poderão inscrever,no máximo, duas propostas de trabalho – em duas modalidades distintas (pôster e comunicação oral) ou em uma mesma modalidade –, independentemente do fato de ser autor ou coautor. Importante considerar que aluno de graduação poderá apresentar apenas pôster.
- Trabalhos em coautoria: para cada proposta de trabalho submetida APENAS o primeiro autor deverá enviar o resumo. Os coautores (no máximo no número de 4) devem estar inscritos no Congresso e efetuar o pagamento da inscrição referente a sua categoria.
- Contatos para esclarecimentos sobre inscrição poderão ser feitos através do endereço eletrônicoabralinrn@gmail.com, disponibilizado na página da ABRALIN.
Prazos e Valores
* Obs.: Os valores serão convertidos para Real no momento do pagamento.
LEITURAS: VIVÊNCIAS COM O ENSINO FUNDAMENTAL
Maria
de Fátima Almeida (UFPB)
falmed@uol.com.br
1. INTRODUÇÃO
Apresentamos
uma experiência do projeto Formação docente: uma proposta dialógica de leitura,
mostrando práticas leitoras desenvolvidas com professores do ensino fundamental
em escolas públicas em João Pessoa. Fundamentamo-nos na concepção dialógica de
linguagem de Bakhtin (2004) e no aporte teórico-metodológico da Educação Básica
voltada para o ensino e aprendizagem da leitura. O eixo central das reflexões
concentra-se na formação continuada de professores, destacando a importância de
os professores manterem-se informados e sempre atualizados para o exercício
profissional. Articulam-se ações que integram docentes e discentes de
diferentes áreas do conhecimento, compartilhando e interagindo os diversos
saberes. A metodologia aplicada permite aos educadores utilizarem diversas
modalidades e estratégicas pedagógicas de ler para dinamização da sala de aula
de diferentes escolas. Sugerimos que a formação continuada de docentes do
ensino fundamental deva ser executada a partir de um conjunto de estratégias compostas
por cursos, oficinas, palestras, seminários temáticos e de avaliação. Os
resultados sugerem o trabalho com linguagem e não apenas com língua, pois
abrange aspectos lingüísticos e não lingüísticos bem como o contexto
sócio-histórico. Esperamos contribuir não só com a formação de educadores
capazes de atuar nas escolas, mas também que formem outros membros da
comunidade para uma educação cidadã. A sociedade atual carece de bons
profissionais e de indivíduos competentes para um mundo melhor e mais educado.
Concluímos que a formação docente na perspectiva do dialogismo bakhtiniano
produz leitores críticos e criativos
para a sociedade globalizada. Faz-se necessário uma formação permanente de
estudos para acompanhamento e atualização dos educadores de todos os níveis.
2. A
ABORDAGEM TEÓRICA
A
abordagem teórica é constituída pela orientação dialógica da linguagem, pautada
em Bakhtin (1929/1981 e 1992), em François (1996/1998/2000) e pelas teorias
sobre os gêneros discursivos e as do ensino e aprendizagem da leitura e da
escrita. Abordamos, também, a importante contribuição de Paulo Freire (1982b)
ao afirmar que o processo de compreensão crítica do ato de ler não se esgota na
decodificação pura e simples da palavra ou da linguagem escrita, mas que se
antecipa e se amplia na compreensão do mundo do leitor. A concepção dialógica
de Bakhtin (1929) é a contribuição maior para as mudanças que se desenvolvem,
atualmente, nos diversos domínios de estudo da linguagem. A posição desse autor
contra os partidários das tendências linguístico-filosóficas coloca em
evidência, também, o comportamento dos interlocutores na interação. Na visão
dialógica, o locutor constrói seu enunciado em função do interlocutor, que tem
um papel ativo constitutivo na formulação dos enunciados. Visivelmente, é o
outro (interlocutor) quem condiciona o que o locutor diz e, desse modo, ambos
são colocados no mesmo plano. A contribuição da perspectiva bakhtiniana para o
ensino tem avançado e revelado a necessidade do trabalho com a linguagem na escola.
Para
este estudo, fundamentamo-nos na concepção de linguagem de Bakhtin/Volochinov
(1929/1981) e Bakhtin (1992) para quem a linguagem é interação que só existe na
reciprocidade do diálogo e, que se caracteriza pela diversidade de movimentos e
modos de significar. A teoria dialógica da linguagem que fundamentará a análise
das práticas leitoras postula que linguagem é fenômeno heterogêneo, vivo,
variável e flexível, sempre situada num contexto sócio-histórico. A leitura é
atividade multifacetada, que se realiza pela interação do autor/leitor/texto ou
autor/professor/aluno/texto, no contexto de sala de aula. Desse modo caracterizada a leitura permite
visualizar suas modalidades ou estratégias reveladas pelos movimentos e papéis
do sujeito no processo de construção de sentido, no espaço escolar.
Nessa
perspectiva, mostramos que a leitura é interação e compreensão responsiva, que
a produção de sentido resulta das múltiplas formas de ver e de ser do sujeito
leitor no mundo e não apenas das formas da língua. Tal como afirma Brandão
(1997), na leitura, o leitor se situa entre a disseminação dos sentidos (a
polissemia) e as coerções, os artefatos que organizam o texto. Consideramos que
a prática de leitura no processo dialógico é capaz de minimizar as dificuldades
do ensino e aprendizagem, decorrentes de várias falhas na formação do educador
e do aluno leitor, dentre elas: a falta de condição para a produção da leitura
e de acesso às novas teorias lingüísticas, acerca do funcionamento da
linguagem; da falta de aquisição de livros e de participação em eventos
culturais que lhe propiciem uma melhor formação; o não prazer pela leitura por
não a experimentarem desde cedo, tendo os primeiros contatos na escola.
Essa é uma proposta interdisciplinar voltada
para a formação e o letramento docente, mais particularmente comprometido com a
ampliação das competências técnico-científicas e metodológicas do docente para
trabalhar as noções de linguagem, de leitura, de texto, de gênero textual, de
letramento e outras indispensáveis à sua formação e atuação nos nível
Fundamental de Ensino. Outro fator
relevante é articular teoria e prática e possibilitar a integração dos alunos
dos cursos de Letras e professores de língua portuguesa da rede pública de
ensino das áreas atendidas, assim como visar à melhoria do ensino de língua
portuguesa nas escolas públicas do Estado da Paraíba.
3. A ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE PEDAGÓGICA
A experiência está dividida em diversas
modalidades práticas e teve maior visibilidade articulada a projetos de
extensão, em que foram realizadas leituras dos textos teóricos sobe a
literatura e usados para embasar as atividades e oficinas aplicadas na escola,
assim como participação em encontros periódicos para as discussões e debates
dos textos e para esclarecimentos de dúvidas. Outro momento importante foi a
elaboração do material didático para as oficinas, confecção de slides e seleção
de gêneros para as atividades dinâmicas e interativas que foram aplicadas aos
professores e alunos de uma escola da rede pública de Ensino Fundamental da
cidade de João Pessoa. Destacamos as pesquisas relativas à descrição do
português e às metodologias alternativas para a otimização da prática
pedagógica no Ensino Fundamental. Ao final, houve um tempo especial para a divulgação,
socialização e exposição do material produzido, em eventos que
participamos na escola, através das oficinas mostrando os resultados obtidos.
4. VIVÊNCIAS COM A LEITURA E A ESCRITA
As principais atividades foram desenvolvidas
pela bolsista e se apresentam da seguinte maneira: oficinas pedagógicas de
leitura e escrita, realização de dinâmicas, exposição dos pressupostos
linguísticos e pedagógicos que fundamentam os conteúdos trabalhados nas
oficinas, elaboração de material e leituras de textos; socialização e exposição
do material produzido; participação em eventos (XIII Encontro de
Extensão/SECITEAC e I Seminário de Extensão do CCHLA: o pensar e o fazer
extensionista); divulgação do projeto e dos resultados.
Tomamos como
exemplo a oficina realizada na sala de informática e áudio visual de uma escola
do ensino fundamental. As estratégias usadas para a elaboração e aplicação da
oficina de leitura e escrita foram divididas em seis passos específicos.
No
primeiro passo foram discutidos os procedimentos das atividades a serem
desenvolvidas. Durante a apresentação foram introduzidos, inicialmente, os
objetivos da oficina, para que os participantes conhecessem e percebessem a
importância dos gêneros textuais que estavam sendo usados.
Apesar
dos docentes estarem em contato com os gêneros textuais, eles desconhecem,
quase sempre, a importância desses textos dentro da sociedade. Assim, levá-los
a conhecer diferentes gêneros textuais, promoverá uma reflexão sobre a função
social que eles exercem na vida das crianças e jovens e na constituição do
leitor enquanto ser humano.
No
segundo passo foi realizada uma dinâmica. Nela foram usadas duas caixas com
objetos dentro para que os alunos, somente, através do toque com as mãos, descobrissem
quais eram os objetos. Fez necessário que os participantes, envolvidos na
atividade, pudessem explicitar para seus colegas os procedimentos que
utilizaram para identificar e atribuir “sentidos”, como e por quais pistas foi
possível realizar inferências e fazer antecipações. No jogo de construir
sentido, afirma Bakhtin (1981), “a linguagem e a leitura são processos de
interação e na construção do sentido cruzam-se o dito e o não-dito, os
implícitos e os entornos que circulam nas atividades comunicativas”. Esta
dinâmica, posteriormente, foi relacionada com as leituras de diferentes gêneros
textuais, assim como proporcionou a participação ativa dos envolvidos na
atividade.
No
terceiro passo – a estratégia didática – foi feita a leitura de um gênero textual
(conto) para o trabalho de formação de leitores. O conto é um ensinamento que
versa sobre a verdade da vida, ou seja, a postura que cada indivíduo assume
para julgar algo e chegar a uma determinada verdade. Se julga cegamente ou
procura ouvir todos os lados. A aprendizagem de leitura assumiu uma função
social de resgate de cidadania, uma vez que possibilitou aos leitores conhecer,
refletir e atuar sobre uma dada realidade.
No
quarto passo, após a leitura do conto, foram feitos questionamentos acerca de
quais pistas possibilitaram a atribuição de determinados sentidos ao texto. Os
questionamentos foram direcionados às vivências, experiências e conhecimentos
de mundo dos participantes e os levaram a compreender a melhor maneira de como
os textos devem ser interrogados e diferenciados entre realidade ou ficção,
ajudaram na identificação de recursos persuasivos, assim como a interpretação
dos sentidos figurados e a identificação de quais seriam os verdadeiros temas e
a intenções dos locutores. Segundo afirma Paulo Freire ((1982b), “o processo de
compreensão crítica do ato de ler não se esgota na decodificação pura e simples
da palavra ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se amplia na
compreensão do mundo”.
No quinto passo foi feita uma leitura
colaborativa de um outro tipo de gênero – poema. Esse texto foi usado como
referencial para que se percebesse como um único tema surge e é possível e
realizável em diferentes gêneros textuais, de diferentes formas de leituras e
pode ser relacionado à vida de cada indivíduo.
No
último passo foi solicitada uma produção textual de escrita. Nessa produção, os
participantes se transformaram em personagens do conto e deram suas opiniões
acerca das suas “verdades”. Na concepção dialógica de Bakhtin (1929), o
comportamento dos interlocutores na interação é colocado em evidência, pois “o
locutor constrói seu enunciado em função do interlocutor, que tem um papel
ativo constitutivo na formulação dos enunciados”.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
As
conclusões apontam que as atividades desenvolvidas direcionaram o público-alvo
à compreensão das especificidades, dos elementos constitutivos e da função
social dos gêneros textuais, assim como trabalhar as noções de texto, de
leitura, de letramento e ampliar as competências metodológicas dos docentes,
indispensáveis à sua formação e atuação no nível Fundamental de Ensino. Apesar
dos docentes estarem em contato com os gêneros textuais, eles desconhecem a
importância desses textos dentro da sociedade. Sendo assim, levá-los a conhecer
os diferentes tipos de gêneros, promoveu uma reflexão sobre a função social que
os textos exercem na vida das crianças e jovens, na constituição do leitor
enquanto ser humano e serviu como expedientes ao ensino das boas maneiras, dos
bons hábitos, dos deveres e direitos dos cidadãos, dos sentidos e
multiplicidades do mundo, dos valores e da moral, entre outros.
Portanto, os participantes tiveram contato com
diferentes tipos de leitura, compreenderam o funcionamento dos gêneros
textuais, suas funções e seus formatos, desenvolveram a capacidade de reflexão
sobre os aspectos específicos de cada gênero textual usado nas oficinas,
participaram da interação professor/aluno/texto no processo de ensino e
aprendizagem, promoveram a discussão acerca dos textos e das produções textuais
de leitura e escrita.
Ao término das oficinas, os participantes
compreenderam como os gêneros textuais podem ser reescritos e se relacionarem
com outros textos e outros discursos. Perceberam que ao “sair do texto”, ou
seja, ao procurar estabelecer relações com a realidade, encontram outras
“chaves” de leitura contidas em valores ideológicos, históricos, culturais,
inerentes aos discursos.
Este projeto não busca somente uma proposta
de formação de professores para trazer melhorias para a qualidade do ensino,
mas apresenta os fundamentos necessários à compreensão da linguagem, gêneros
textuais, ensino, leitura e escrita e contribui para o desenvolvimento da
atitude crítica necessária ao desenvolvimento do conhecimento sobre o ensino de
língua portuguesa e a integração com o sistema de ensino oficial. Portanto, a
avaliação constante de todos os projetos vem permitindo que as ações ou
mudanças de atitudes com relação ao ensino da língua portuguesa,
particularmente ao ensino do processo de leitura e de escrita comprovem os
resultados concretos, até então alcançados.
As teorias usadas para embasar este projeto
são importantes para o aprofundamento da área temática principal da ação e
oferece possibilidades para estudantes universitários e pesquisadores, de
realizar, planejar e desenvolver as próprias pesquisas na graduação e
pós-graduação, utilizando-se do rigor necessário à produção de conhecimentos
nessa área. É de grande auxílio, principalmente, àqueles que desenvolvem trabalhos
acadêmicos no campo do ensino de língua portuguesa. O assunto sobre esse ensino
é instigante e vasto, podendo ser trabalhado a partir de novas hipóteses que
não foram desenvolvidos mais detalhadamente e foram deixadas como provocações e
estímulo a quem se interessar a continuar na linha de Pesquisa, Ensino e
Extensão.
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Glossário Bakhtin
Bakhtin desenvolve a noção de acabamento ao
analisar a relação entre autor e personagem e a criação dessa última. Ao
pensarmos na noção de acabamento, há que se dizer, antes de mais nada, que se
trata de uma especificidade estética (relacionado ao mundo artístico): não é
nem ética (relacionado ao mundo da vida), nem cognitiva (relacionado ao
psíquico), embora não se possa desconsiderar uma imbricação de elementos ativos
éticocognitivo-estéticos. No plano artístico, elementos da vida são
reorganizados de modo a compor uma nova unidade, da qual o próprio “autor
-criador” aparece como sendo ao mesmo tempo um elemento constituinte e
organizador. O autor aparece como a apropriação de uma voz social que ordena o
todo estético e essa ordenação é sempre um “ato valorativo”, mas ela só se
realiza porque a ele é conferida ao mesmo tempo uma posição privilegiada em
relação ao seu herói e seu mundo: uma posição exterior. No plano da vida (o
plano ético), somente um excedente de visão permite completar um indivíduo
“naqueles elementos em que ele não pode completar-se.” Eu não posso, ao
contemplar-me, realizar um acabamento de mim, pois não me é possível abarcar
todos os elementos plásticos e picturais, isto é, o horizonte atrás de mim e a
minha própria imagem externa, nem expressividades volitivoemocionais que
constituirão um todo. E também porque essa minha autocontemplação se realiza na
linguagem das minhas auto-sensações internas; em outras palavra s, seria
demasiadamente subjetiva. Deste modo, o acabamento que o outro me dá, e que só
é possível a ele pela posição que ocupa em relação a mim, é uma conferência de
valores aos elementos (que me completam) que me são inacessíveis e transgredientes.
Como vivo em sociedade, com outro s, este acabamento é provisório até o
encontro com outra alteridade.
Interioridade, imediatidade. Nas palavra s de
Bakhtin “sou o único em toda existência a ser eu-para-mim”. A alma é a
percepção que o eu tem de si mesmo. Sou o único na face da Terra que posso
tornar-me objeto de análise, para além do sentido empírico. Posso sentir-me em pensamento. A alma é
a experiência de si. Diferente é a experiência do outro. O meu horizonte nunca
se coincide com o horizonte daquele que contemplo à minha frente. Assim como
dois seres não compartilham o mesmo lugar no espaço, não compartilham também a
mesma alma. Sempre devemos voltar a nós mesmos quando de alguma forma
participamos da alma do outro . Se não houver essa volta a nós mesmos, caímos
em uma patologia que não gera nada, pois “sentiremos a dor do outro como nossa
e nada mais”. O outro é um corpo que não responde as nossas vontades imediatas.
Sua interioridade não nos pertence. Não conseguimos sentir em nossa pele o
arrepio da pele do outro , nem conseguimos compartilhar os pensamentos do
outro. Essas experiências são próprias da alma de cada um. A alma é o que é
inerente a si mesmo, ou, é tudo aquilo
que do outro nos escapa. Nossa alma tem seus
limites, “é o todo fechado da vida interior, o qual é igual a si mesmo,
coincide consigo mesmo e postula o ativismo amoroso distanciado do outro. A
alma é uma dádiva do meu espírito ao outro ”. Só podemos abraçar o outro para
nos sentirmos realmente abraçados: Minha imediatidade, minha alma, não me
permite um “auto abraço” emotivovalorativo, só físico. A alma é um aqui, o
outro é um ali. Essa sensação, essa impossibilidade de sentir-se outro , mas só
a si mesmo, caracteriza a presença de nossa interioridade. Jamais vou conseguir
me alojar por inteiro em qualquer objeto, pois “excedo qualquer objeto como seu
sujeito ativo”.
Para Bakhtin, é na relação com a alteridade que os
indivíduos se constituem. O ser se reflete no outro, refrata-se. A partir do
momento em que o indivíduo se constitui, ele também se altera, constantemente.
E esse processo não surge de sua própria consciência, é algo que se consolida
socialmente, através das interações, das palavras, dos signos. Constituímos-nos
e nos transformamos sempre através do outro . É isso também que move a língua .
“Toda refração ideológica do ser em processo de formação, seja qual for a
natureza de seu material significante, é acompanhada de uma refração ideológica
verbal, como fenômeno obrigatoriamente concomitante.” Nos atos de
interpretação e compreensão, a palavra alheia se faz sempre presente. Na
filosofia de Bakhtin, a noção de alteridade se relaciona com pluralidade,
heteroglossia, polissemia, muitas vozes, ideologia. Em “Estética da Criação
Verbal”, Bakhtin afirma que “é impossível alguém defender sua posição
sem correlacioná-la a outras posições”, o que nos faz refletir sobre o
processo de construção da identidade do sujeito, cujos pensamentos, opiniões,
visões de mundo, consciência etc. se constituem e se elaboram a partir de
relações dialógicas e valorativas com outros sujeitos, opiniões e dizeres. A
alteridade é fundamento da identidade.
Para entender as considerações sobre
arquitetônica, contidas em “O problema do conteúdo, do material e da forma na
criação literária” (“Questões de literatura e estética”), devemos levar em
conta algumas considerações de “O autor e o herói ” (“Estética da criação
verbal”). O conceito de arquitetônica presente, inicialmente, em “Arte e
Responsabilidade ”, vincula-se às considerações feitas pelo filósofo russo
acerca da relação entre arte e vida e da noção de responsabilidade. A
arquitetônica é a construção ou estruturação do discurso – sempre
relativamente estável -, que une e integra o material, a forma e o conteúdo. De
acordo com Bakhtin, a arquitetônica da visão artística organiza tanto o espaço
e o tempo quanto o sentido. Um todo arquitetônico é imbuído da unidade advinda
do sentido. O “todo” tem relação com o acabamento , que se vincula ao excedente
de visão como elemento constitutivo basal tanto da interação quanto da
atividade autoral. As formas arquitetônicas (visão artística e processo de
acabamento ) determinam os procedimentos estéticos externos (as formas de
composição): a ordem, a disposição, o acabamento. Assim, a forma arquitetônica
é a concepção da obra como objeto estético. A forma composicional, por sua vez,
é o modo específico de estruturação da obra externa a partir de sua concepção
arquitetônica. O momento arquitetônico, do objeto estético, poderia ser
comparado à formação do gênero, enquanto que o momento composicional, da obra
material, poderia ser pensado como a textualização do gênero concebido. Em
suma, podemos dizer que a arquitetônica é a criação de um todo integrado.
Diz-se, também, de uma arquitetônica do pensamento bakhtiniano, que defende que
as categorias desenvolvidas em seus estudos devem ser compreendidas em diálogo.
Dado que a consciência adquire forma e existência
no signo ideológico, qualquer reflexão ou tomada de consciência não dispensa a
expressão exterior e tampouco pode dispensar a elaboração ideológica. Por isso,
seja qual for a direção inflexiva da experiência, toda atividade mental, enquanto
discurso interior, somente pode realizar-se a partir de uma orientação
social. A atividade mental do eu e a atividade mental do nós são os dois
limites dentro dos quais se realiza a elaboração ideológica; os distintos
graus na consciência, na clareza e na diferenciação da orientação social da
experiência mental. A “atividade mental do eu” tende para a auto-eliminação;
ela constitui o nível inferior da “ideologia do cotidiano”, e quanto mais
próxima de seu limite, mais distante fica de uma forma acabada. Isto é, quanto
menos dotada de um auditório social , menos dotada será de uma representação
verbal e uma modelagem ideológica. Sua atividade está diretamente ligada ao
grau de orientação social, e se não se enraíza socialmente, fenece e perde sua
clareza e modelagem ideológica. Já a “atividade mental do nós”, pelo contrário,
constitui um nível superior na “ideologia do cotidiano”, que está diretamente
vinculada à firmeza e à estabilidade da orientação social. Quanto mais próxima
de seu limite, mais distinta e definida será essa atividade mental . Tal
vínculo é de grande importância, pois quanto “mais forte, mais bem organizada e
diferenciada for a coletividade no interior da qual o indivíduo se orienta,
mais distinto e complexo será o seu mundo interior”; a atividade mental deve
buscar construir vínculos materiais objetivos sólidos com seu grupo organizado,
pois isso favorece a constituição de um “terreno mais favorável para um
desenvolvimento nítido e ideologicamente bem formado”; e “quanto mais acultura
do for o indivíduo, mais o auditório social se aproximará do auditório médio da
criação ideológica”.
“O autor é o agente da unidade tensamente ativa do
todo acabado, do todo da personagem e do todo da obra, e este é transgrediente
a cada elemento particular desta.” Bakhtin, em “O Autor e o Herói” (O autor e a
personagem), ao conferir ao autor o caráter de unidade, o coloca em relação
dialógica (de responsividade ) com todos os aspectos de sua obra. Por ter um
excedente de visão específico e uma memória de futuro específica em relação a
sua obra, o autor possui um domínio do todo acabado dessa obra, ao mesmo tempo
em que esse domínio responde ao todo de cada uma das unidades também tensamente
ativas que fazem parte da obra. A relação de responsividade entre o autor e os
elementos da obra, principalmente o herói , possibilitou o desenvolvimento da
noção de equipolência de vozes, fundamentando a tese de Bakhtin sobre o romance
polifônico de Dostoievski, relativizando o domínio do autor em relação ao todo
acabado da obra. Mesmo assim, Bakhtin enfatiza que o autor se orienta no mundo
Estético e o herói “vive de modo cognitivo e ético. Seu ato se orienta em um
acontecimento aberto e ético da vida ou no mundo dado do conhecimento”. Em
contraponto ao formalismo, Bakhtin irá defender que para encontrarmos o autor
de uma obra não é suficiente buscarmos na vida do autor acontecimento s que se
liguem de forma mecânica a um ou outro elemento da obra, mas atentar para todos
os elementos presentes na obra em relação com a unidade tensa e ativa do todo
da obra, unidade da qual é agente o autor. O autor “é participante do
acontecimento artístico”. E nem há uma passagem mecânica de pontos de vista e da
vida do autor-pessoa para os trabalhos estéticos do autor. Para haver
acontecimento estético é preciso haver transgrediência, é necessário haver duas
consciências que não coincidem; caso contrário estamos diante de acontecimentos
éticos [quando a personagem e o autor coincidem ou estão lado a lado diante de
um valor comum ou frente a frente como inimigos, o que se dá no panfleto, no
manifesto, no discurso-acusatório etc], ou acontecimentos cognitivos [um
tratado, um artigo, uma conferência], ou até mesmo acontecimentos religiosos [a
outra consciência é uma consciência englobante].
Esse conceito nos remete de imediato ao signo
carnaval. Porém, é necessário esclarecer que, dentro da arquitetônica
bakhtiniana, este signo possui um significado diferente do que a maioria
das pessoas entende, atualmente, por carnaval, ou seja, um espetáculo de
desfiles que acontece em um local fechado para um público restrito assistir ou
ver por televisão. Bakhtin considera o carnaval como festa popular universal
que se passa no espaço público aberto da cidade (ruas, praças), como momento de
liberação das relações hierárquicas de poder, êxtase do ser, rompimento de
regras e tabus, sem privilégios e assimetrias, apontando para um tempo futuro
incompleto, de renovações. A lógica desse carnaval dionisíaco é a do “homo
demens” que o transforma no “lócus” privilegiado da inversão, da
ridicularização e da desobediência a tudo que seja oficial. A essa visão ativa
e dinâmica do carnaval, que é uma forma alternativa e alegre de relativizar as
verdades e o poder, podemos denominar carnavalização . Seu traço principal
é o avesso que se pode evidenciar com permutações entre o alto (cabeça, face =
espírito, dignidade, sagrado, puro) e o baixo (traseiro, genitais = obsceno,
profano, sujo). Esses traços se evidenciam no que Bakhtin chama de corpo
grotesco que está em constante movimento em torno do cosmos e seus quatro
elementos: água, ar, terra e fogo. Estes elementos, submetidos às leis
cósmicas, anunciam nascimento e morte de todas as coisas da terra. Ao contrário
do corpo estético padrão do “homo sapiens” apolíneo, o corpo grotesco não
coloca a sexualidade como “raison d’être” da existência humana, uma vez que os
verbos utilizados para caracterizá-lo estão no mesmo eixo sintagmático, sem
hierarquias. Desse modo, urinar, arrotar, trepar, comer, beber, cuspir, defecar
etc. nos remetem a travessuras e diabruras típicas do carnaval, o que nos
permite estabelecer um diálogo com o outro por meio do: a) livre contato – não
há diferença entre classes sociais, pois no espaço aberto da rua e praças todos
podem brincar, pular, dançar como desejam. Todas as fantasias são permitidas.
Por exemplo, um homem do campo pode sair vestido de rei, uma senhora rica pode
fantasiar-se de prostituta, homens se vestem de mulheres. A paródia entra como
elemento essencial para separar a barreira entre o cotidiano e o privado; b) da
excentricidade – violam o que é comum e deslocam a vida ao colocar, por
exemplo, bolas de futebol para aumentar as nádegas ou formar os seios, o que
provoca o riso indicando a mudança de poderes, de verdades, renovação; c) das
“mésalliances” - aqui se dá a união de algo considerado superior (rei - oficial)
com outro de valor inferior (escravo – nãooficial). As Saturnais, festa da Roma
antiga, nos serve para ilustrar o que seria a união entre o oficial sério e o
nãooficial do riso. Nesta festa os escravos sentavam-se à mesa e eram servidos
pelos seus senhores, o que lhes conferia um poder efêmero, paródico, invertendo
a ordem social; d) da profanação - o religioso é parodiado, profanado quando,
por exemplo, usam-se elementos ou hierarquias da igreja, considerados
sagrados, nas ruas e praças durante o carnaval: freiras grávidas, padres
bêbados. Tais categorias carnavalescas apontam para a morte do velho e o
nascimento do novo que, mesmo que seja de forma simbólica, nos remetem a um
mundo utópico, sem privilégio do individual, sem hierarquias fechadas de valores,
fenômenos e ideologias que imperam na vida extracarnavalesca.
Bakhtin trabalha com esta categoria para mostrar
que sempre quando falamos ou ouvimos, produzimos enunciados que respondem ao
nosso interlocutor. Enquanto ouvimos, também falamos. Ouvir e falar são
movimentos de uma mesma atividade. Desta forma, nossas respostas são formuladas
a partir da nossa relação com a alteridade, ou seja, são contrapalavra s às
palavra s do outro. Troco signos alheios por signos próprios. Desta forma é que
construo a compreensão . Compreensão ativa e responsiva. É importante ressaltar
também que a contrapalavra, assim como a palavra , está estritamente associada
ao tema da interação - aos sentidos que são construídos na interação com outro,
e à entonação escolhida para a enunciação . Não é possível compreender a
palavra do outro arrancando a palavra da corrente da comunicação verbal.
Pensando assim, a palavra já é alheia mesmo ainda não tendo sido incorporada
pelo outro .
Para Bakhtin, o homem constrói sua existência
dentro das condições sócio-econômicas objetivas de uma sociedade. Somente como
membro de um grupo social, de uma classe social é que o indivíduo ascende a uma
realidade histórica e a uma produtividade cultural . O nascimento físico não é
uma condição suficiente para o homem ingressar na história, pois o animal
também nasce fisicamente e não entra na história. “Portanto, é necessário, um
segundo nascimento, um nascimento social , o qual se dá através de cada
fenômeno da cultura que é concreto e sistemático, ocupa uma posição substancial
qualquer em relação à realidade preexistente de outras atitudes cultura is e
por isso mesmo participa da unidade cultura l prescrita”. O domínio da cultura
não é uma entidade espacial qualquer. Todo ato cultural vive por essência sobre
fronteiras, sem estas ele perde terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera
e morre. Enfim, deve-se dizer que nem um ato vive nem se movimenta no vazio,
mas na atmosfera valorizante, tensa, em um mundo vivo e também significante,
assim proporcionando e proporcionado pela cultura em determinado tempo e
espaço.
Conceito da dialética do movimento, da dialética
que não exclui, que não exauri a essência da linguagem: o diálogo Eu/Outro.
Dialogia é atividade do diálogo e atividade dinâmica entre EU e Outro em um
território preciso socialmente organizado em interação linguística. Seria uma
dialética que explica o homem pela produção do diálogo , pela atividade humana
da linguagem . As ideias de Bakhtin sobre o homem e a vida são caracterizadas
pelo princípio dialógico. A alteridade marca o ser humano, pois o outro é
imprescindível para sua constituição. A dialogia é o confronto das entoações e
dos sistemas de valores que posicionam as mais variadas visões de mundo dentro
de um campo de visão: “na vida agimos assim, julgando-nos do ponto de vista dos
outro s, tentando compreender, levar em conta o que é transcendente à nossa
própria consciência: assim levamos em conta o valor conferido ao nosso aspecto
em função da impressão que ele pode causar em outrem [...]”. Ainda na mesa
direção, “A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do
diálogo : interrogar, ouvir, responder, concordar etc. Nesse diálogo o homem
participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma,
o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra , e essa
palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal” (ano,
p.). No movimento dialógico, Bakhtin vê três tipos de relações: a) as relações
entre os objetos (entre coisas, entre fenômenos físicos, químicos; relações
causais, relações matemáticas, lógicas, relações linguísticas etc; b) relações
entre o sujeito e o objeto; c) relações entre sujeito s (relações
pessoais, personalistas; relações dialógicas entre enunciado s, relações
éticas; relações entre consciências, verdades, influências mútuas, o amor, o
ódio, a mentira, o respeito, a confiança, a desconfiança etc.). Na dialogia as
vozes estão presentes, as entonações (pessoais – emocionais) são fundamentais,
valoram e ideologizam, as palavra s e as réplicas são vivas, e as consciências
estão em interação . Ao apagar isso tudo, temos a dialética . Pergunta e
resposta não estabelecem relações lógicas, pois não podem caber em uma só consciência;
elas supõem uma distância recíproca, exigem o diálogo.
Processo de interação Eu - Outro. O Eu existe em
interação com o Outro , porque “ser significa ser para o outro e, através dele,
para si mesmo”. Diferencia-se da dialética hegeliana, em que o Eu é a negação
do Outro, já que o Ser depende do não-Ser, para constituir-se como Ser criando
apenas diálogo s sintéticos e lógicos. Na dialética para Bakhtin, o Eu não
apenas nega, mas, exige a presença do Outro para a constituição do EU. O Eu
necessita estética e eticamente do Outro , sendo que a interação é variável de
acordo com a situação, o espaço, o tempo (cronotopo) e o modo como as partes se
relacionam gerando movimentos – dialogia . Bakhtin vai paulatinamente optando
pelo conceito de dialogia e diálogo , pois para ele a dialética trabalha com
conceitos e juízos abstratos, aceita uma consciência abstrata, transforma
enunciado s em orações, transforma entonações pessoais e emotivas em sons sem
relações; não exige contrapalavras , anula os inter-agentes. A dialética trata
doproblema da inter-relação semântica, e é teorética, enquanto que a
dialogia é vivencial.
Bakhtin demonstra que a “dinâmica psíquica”
elaborada pela psicanálise como a luta de forças psíquicas na relação entre
consciência e inconsciente é uma noção arbitrária que transfere para a alma
individual a complexidade do jogo social em que o indivíduo se constitui. Para
Bakhtin essa relação se dá entre consciência oficial e consciência não oficial
, sendo os conflitos entre motivos reflexo das inter-relações sociais e,
portanto, como fenômenos da experiência objetiva, ideológicos. O conflito entre
motivos, em verdade, revela a luta entre correntes ideológicas contraditórias
que se desencadeia no terreno da ideologia do cotidiano (do discurso interior e
exterior), de modo que a consciência não oficial (o inconsciente da psicanálise)
corresponde às camadas mais instáveis dessa ideologia, as que se encontram mais
distantes da ideologia oficial. Já a consciência oficial corresponde às camadas
superiores, mais estáveis, próximas da ideologia oficial e enformada.
Portanto, a compreensão do comportamento e do enunciado verbalizado do homem a
partir de uma “dinâmica psíquica” que se dá por um conflito entre motivos
subjetivos se mostra como apenas mais uma expressão de uma visão psicologizante
ou de um subjetivismo idealista.
Este termo é trabalhado por Bakhtin, mais
incisivamente nos capítulos 9 e 10 do livro “Marxismo e Filosofia da
Linguagem”. Nestes capítulos, Bakhtin desenvolve suas teorias sobre
linguagem a partir de exemplos concretos da utilização do discurso citado
(discurso de outrem) no decorrer dos últimos séculos na literatura, que
desemboca em uma análise mais específica desenvolvida no capítulo 11 do mesmo
livro. Tomando as palavra s do próprio Bakhtin, percebemos um direcionamento
claro da discussão do Círculo com relação ao discurso de outrem: “O discurso
citado é o discurso no discurso, a enunciação na enunciação, mas é, ao mesmo
tempo, um discurso sobre o discurso, uma enunciação sobre a enunciação (...) o
discurso citado conserva sua autonomia estrutural e semântica sem nem por isso
alterar a trama linguística do contexto que o integrou”. Com isso, Bakhtin
defende que o “contexto narrativo” (ou contexto de transmissão) e o discurso
citado propriamente dito, incluído neste contexto, fazem parte de uma
“inter-relação dinâmica”, que de certa forma “reflete a dinâmica da
inter-relação social dos indivíduos na comunicação ideológica verbal”. Esta
relação social entre os sujeito s falantes faz com que haja uma constante
interação verbal. Assim, todo discurso concreto presente nas diferentes esferas
humanas nunca é totalmente “inédito”, pois traz ecos de outro s discursos, ou
seja, discursos de outrem, reorganizados dialogicamente nas falas dos sujeito
s, podendo aparecer mais explicitamente marcados pelos recursos linguísticos
(utilizados estilisticamente pelos falantes), como no discurso direto, ou de
maneira “diluída” e menos marcada, como ocorre no discurso indireto e indireto
livre, este, “a forma última de enfraquecimento das fronteiras do discurso
citado ”(p.).
Bakhtin sustenta que a unidade real da língua é
o enunciado posto em diálogo : “a interação de pelo menos duas
enunciações”. Como mundo partilhado, lida-se com o inconcluso, com uma
realidade em constante formação. Nesse mundo partilhado, afirma Bakhtin,
vive-se “em um mundo de palavras do outro, de tal modo que
as complexas relações de reciprocidade com a palavra do outro em
todos os campos da cultura e da atividade completam toda a vida do homem”.
A alternância dos sujeito s do discurso é uma das características do
diálogo , que exige um princípio absoluto e um fim absoluto na ação
de cada falante. Essa conclusibilidade específica do diálogo garante a ação
responsiva e estabelece relações de pergunta, objeção, aceitação, ordem
etc. O diálogo real entre dois falantes é constituído por ao menos
dois enunciado s plenos a acabados, e se constitui na forma
mais simples e clássica da comunicação discursiva.
Bakhtin vai dizer que, na interação , a forma
linguística não tem importância “enquanto sinal estável e sempre igual a si
mesmo”. Nesse sentido, no acontecimento das interações atribuem-se sentidos,
negociam-se signo s ideologicamente marcados; e estes signos estão impregnados
de valores. Dependendo da orientação de sentidos e valores que se responde à
alteridade , orienta-se também uma entonação . Ela é considerada elemento
expresso do enunciado , ou seja, “a relação subjetiva emocionalmente valorativa
do falante com o conteúdo do objeto e do sentido do enunciado ” (“Os gêneros do
discurso ”). A entonação registra claramente a presença do outro; por via da
entonação , exprimimos um juízo sobre o que estamos simultaneamente
transmitindo como informação em uma certa enunciação. É como se uma “mesma”
palavra , impregnada de diferentes entonações, atendesse a novas, irrepetíveis
e particulares situações. A entonação é a minha presença na palavra, é o modo
de passar à palavra o meu ponto de vista, o valor que atribuo àquele pedaço do
mundo significado; pela entonação ideologizo a palavra.
Se procurarmos diferenciar enunciado de enunciação
, ao levarmos em conta a natureza dialógica da comunicação discursiva, tal
diferenciação perde sua importância. Vemos que o enunciado é compreendido como
elemento da comunicação em relação indissociável com a vida. Neste sentido, o
enunciado concreto é um evento social e não pode ser reduzido a abstrações. Em
“Marxismo e filosofia da linguagem” , a palavra enunciação é utilizada muitas
vezes como ato de fala. A enunciação concreta é a realização exterior da atividade
mental orientada por uma orientação social mais ampla, uma mais imediata e,
também, a interação com interlocutores concretos. Em“Os gêneros do discurso”, o
enunciado é definido como a unidade real da comunicação discursiva,
diferenciando esta unidade (real) das unidades da língua, como palavras e
orações (convencional). Neste texto, Bakhtin discute as três principais
peculiaridades do enunciado como unidade real da comunicação discursiva: 1.
alternância dos sujeitos falantes; 2. conclusibilidade; 3. escolha de um gênero
discursivo . É neste texto também que Bakhtin afirma que “o desconhecimento da
natureza do enunciado e a relação diferente com as peculiaridades das
diversidades de gêneros do discurso em qualquer campo de investigação
linguística redundam em formalismo e em uma abstração exagerada, deformam a
historicidade da investigação, debilitam as relações da língua com a vida”.
Em Bakhtin, a ética é uma preocupação constante.
Nossa discussão fundamenta-se, especialmente, em “Para uma filosofia do ato” e
“Arte e Responsabilidade”. Nossas reflexões estão calcadas ainda em “Discurso
na vida e Discurso na arte”, tanto no que diz respeito à ética quanto à
estética, concepções impossíveis de serem pensadas isoladamente. Ato ético
refere-se ao processo, ao agir no mundo, à necessidade de ocupar o lugar
singular e único no mundo, o que se liga diretamente à realidade .
Responsabilidade e responsividade são categorias que se associam ao agir ético
do sujeito . Tratar da ética em Bakhtin significa pensar a integralização
arquitetônica das dimensões do sujeito humano estudadas pelo Círculo, “na
unidade da responsabilidade ”. Responsabilidade de todo e qualquer sujeito
humano. Bakhtin afirma que todo discurso é respondível porque todo discurso é
dialógico e porque o sujeito responde por seus atos no mundo, porque ele é
responsável por eles. O ato respondível corresponde, então, ao ato ético, pois
envolve o conteúdo do ato, o seu processo, valorado (avaliado) pelo sujeito com
respeito ao seu próprio ato, quando reflete sobre ele e lhe dá um acabamento
(estética ). A ética bakhtiniana corresponde ao espaço de decisões cronotópicas
no hic et nunc (agora e então) concretos do agir humano. Assim, a ética , para
Bakhtin, é um conjunto de obrigações e deveres concretos. O mais fundamental
compromisso humano é o ato de pensar, que se põe como uma necessidade
ética. Apenas eu, do lugar que ocupo no mundo, consigo dizer o que digo daquele
lugar. E minha obrigação é pensar e dizer, já que ninguém mais poderá ver
o mundo como apenas eu vejo. O sujeito é responsável por todos os momentos
constituintes de sua vida porque seus atos são éticos. Em outras palavra
s, a ética refere-se ao ato de viver uma vida singular, de arriscar, de ousar,
de comprometer-se, de assinar responsavelmente seu ponto de vista e seu viver;
isso é que é responsabilidade e responsividade imediata do sujeito , parte da
vida, portanto.
Por referir-se, na maior parte de sua obra, ao
discurso literário, o estilo está presente em toda a obra de Bakhtin e se
apresenta como acabamento estético. Estilo, em Bakhtin, está intimamente
relacionado à composição e ao tema de um texto. É no estudo das formas, das
categorias [contextualizadas], que encontramos o estilo : é a maneira do
acabamento - essencialmente interlocutivo e dialógico - que nos dá o estilo de
um texto e, é a maneira singular com que um autor faz uso dessas categorias, as
quais, para Bakhtin, nunca estão divorciadas de definições ideológicas, que
possibilita um estilo ao autor . Dessa forma, o estilo traz consigo a avaliação
do autor e uma possibilidade de comunhão avaliativa com o interlocutor. Isso
significa que o estilo está relacionado a um querer dizer do locutor, que ganha
forma, que define seus limites sob as condições de interlocução. Trata-se de um
acabamento que é estético e provisório, sempre aberto a novos sentidos por
estar submetido a condições sócio-históricas de possibilidade. É preciso levar
em conta, para um estudo do estilo em Bakhtin, que as condições de interlocução
incluem também o que Bakhtin define como estilo de gênero , que impõe certas
constrições ao querer dizer do locutor e à forma como esse querer dizer se
manifesta. Por relacionar-se às atividades humanas, a percepção de acabamento
[acabamento estético e, portanto, estilístico], em um gênero de discurso, é uma
relação entre um “aqui” e um “agora”, pertencentes a uma cadeia infinita de
enunciado s que se articulam e que determinam, situada e provisoriamente, as
coordenadas genéricas.
A estética é uma das principais concepções bakhtinianas.
Para compreendê-la, precisamos pensá-la em diálogo com a ética . E esses dois
conceitos se encontram esparsos, mas sempre presentes ao longo de toda a obra
de Bakhtin. Para tratar da estética, embasamo-nos, especificamente, nos textos
“Estética da Criação Verbal” e “Questões de Literatura e Estética”. A estética
aparece como acabamento do agir do sujeito . O ato estético é a valorização, a
reflexão elaborada, portanto, com acabamento – e não necessariamente
acabada – acerca da ação ética realizada pelo sujeito . A concepção de estética
resulta de um processo que busca representar o mundo do ponto de vista da ação
exotópica do sujeito (lugar de fora, ainda que um fora relativo, pois uma
posição de fronteira, lugar móvel, sem delimitação pré-determinada, de onde o
sujeito vê o mundo com certa distância, a fim de transfigurá-lo na construção
de seu discurso estético), fundada no social e no histórico. A posição
exotópica é a posição a partir da qual é possível o trabalho estético, a ação
de construir o objeto estético. O sujeito artista compõe o dizer estético a
partir da forma, efetivamente material, e inteiramente realizada no material a
ele ligada e, por outro lado, como valor , indo além dos limites da obra como
material organizado, como coisa. A obra estética (produto nem sempre acabado,
mas sempre com acabamento ) resulta da articulação de vários elementos. A
articulação que constitui a composição da obra é definida a partir da potência
que é sua arquitetônica . Assim, a obra exterior está ligada ao material;
enquanto o objeto estético refere-se à forma, tanto de composição
(textualização) quanto arquitetônica (criação de um todo integrado). Em outras
palavras, a estética é a forma do dizer na arte, a reflexão posterior e
exotópica (de fora, distante) do ato, a fim de dar-lhe acabamento.
É a possibilidade que o sujeito tem de ver mais de
outro sujeito do que o próprio vê de si mesmo, devido à posição exterior
(exotópica) do outro para a constituição de um todo do indivíduo. Nas palavras
de Geraldi, o outro tem “uma experiência de mim que eu próprio não tenho, mas
que posso, por meu turno, ter a respeito dele.” Bakhtin defende que “o
excedente de minha visão, com relação ao outro, instaura uma esfera particular
da minha atividade, isto é, um conjunto de atos internos ou externos que só eu
posso pré-formar a respeito desse outro e que o completam justamente onde ele
não pode completar-se”. Nesse sentido, o excedente de visão só é possível
porque há essa possibilidade de se situar fora do outro . É o olhar de fora:
“exotopia – no espaço, no tempo, nos valores”. O sujeito olha o outro de um
lugar, de um tempo e com valores diferentes; vê nele mais do que o próprio
consegue ver. Quando alguém atribui a outro seu excedente de visão ,
permite-lhe completar-se como sujeito naquilo que sua individualidade não
conseguiria sozinha. Ou seja, não conseguimos nos ver por inteiro, totalmente.
Precisamos do outro para nos completar. É a exotopia do observador que,
possibilitado de ver alguém de fora, constrói um excedente de visão , ou seja,
vê no outro algo a mais que o próprio sujeito não vê.
Exotopia e extralocalidade são categorias
filosóficas de base sobre as quais Bakhtin desenvolverá as discussões sobre
Ética e Estética e, principalmente, suas considerações sobre as relações
dialógicas entre o Autor e o Herói, possibilitando o desenvolvimento da idéia
de excedente de visão . Bakhtin diz que “em todas as formas estéticas, a força
organizadora é a categoria axiológico de outro , é a relação com o outro
enriquecida pelo excedente axiológico da visão para o acabamento
transgrediente”. Diante do outro, estou fora dele. Não posso viver a vida dele.
Da mesma forma que ele não pode viver a minha vida. Mesmo para compreender o
outro, vou até ele, mas volto ao meu lugar. Apenas do meu lugar, único, singular,
ocupado apenas por mim, é que posso compreender o outro e estabelecer com ele
uma inter-ação. A extralocalização é que põe meu compromisso ético na roda. Se
outro vivesse minha vida, se pudesse ver o mundo como apenas eu vejo, se
tivesse os mesmos pontos de vista que eu, então eu não precisaria pensar, e
expressar meu olhar único sobre as coisas e a vida. A exotopia é minha
possibilidade de responder. E também é minha obrigação de assumir minha
responsabilidade. Ser responsivo e responsável são decorrências de minha
extra-localização em relação ao Outro.
Quando discute a relação entre o romance e a
estilística, no capítulo “A estilística contemporânea e o romance” do livro
“Questões de literatura e estética”, Bakhtin defende, primeiramente, que o
romance, enquanto gênero literário caracterizado pela diversidade social de
linguagens esteticamente compondo um todo, envolve a narrativa do autor, a
estilização de diversas formas da narrativa tradicionalmente oral, diversas
formas literárias fora do discurso literário do autor e os discursos da
personagem estilisticamente individualizados. A partir desta compreensão, ele diz
que a filosofia da linguagem, a linguística e a estilística, quando refletem
sobre a linguagem do romance, variam nas compreensões sobre o sistema da
linguagem e o indivíduo que fala nela, mas partem de um conteúdo estabilizado,
ora historicamente, ora por meio de problematizações internas da língua. Para
Bakhtin, isso é um avanço para os estudos estilísticos, mas é, ao mesmo tempo,
uma limitação, pois prioriza uma compreensão compartilhada por um grupo social
privilegiado, vinculado a uma visão de mundo considerada dominante. Este tipo
de compreensão orienta um olhar para o estilo no romance marcado pela
“unificação e a centralização das ideologias verbais”, chamadas por ele de
forças centrípetas da vida social, linguística e ideológica. É preciso considerar
que, apesar de se constituir como homogênea e centrípeta, esta tendência traz
consigo a própria realidade da diversidade estilística, a qual ele chama de
plurilinguismo real, considerado por Bakhtin a dinâmica da vida real. Este
plurilinguismo ganha força na medida em que se tende a insistir na
supervalorização da língua única, o que nos permite entender que, junto com as
forças centrípetas, existem as forças centrífugas , configuradas pela tensão e
abertura, revelando, ideologicamente, as relações sociais efetivas,
relacionadas à vida. Portanto, para Bakhtin, ao se considerar somente uma
dessas forças em uma análise sobre a linguagem, tende-se a uma compreensão
monológica do fenômeno estudado, separada da dialogia constitutiva das relações
humanas.
Todo texto participa de uma relação humana, de uma
atividade humana. Essa é a proposta bakhtiniana: “Todos os diversos campos da
atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente
que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da
atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma
língua”. Compreendemos que os trabalhos que se fazem com o conceito de gêneros
do discurso estejam imprescindivelmente vinculados ao movimento com uma
percepção global da arquitetônica bakhtiniana, em que: 1) Desenvolva a
compreensão sobre a TOTALIDADEESTABILIDADE, onda a relativa estabilidade de um
gênero estaria relacionada a sua historicidade passada (memória do passado).
“Os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros discursivos [...]” são o
retrato dos usos já feitos anteriormente, em várias atividades humanas, e são a
memória e o acúmulo da história de suas utilizações; assim os enunciados vão se
constituindo em tipos e formas mais consistentes para uso em esferas
específicas, com estilos específicos, tratando de temas específicos, se
compondo com formas específicas. Daí a discussão da relativa estabilidade para
esses tipos e formas de enunciados: a repetição de uso daqueles enunciados
naquela situação precisa, naquela atividade humana precisa, naquele jogo
interativo preciso, vai estabilizando determinados tipos de enunciados que são
os que chamamos de gêneros do discurso. Esses enunciados, relativamente
estáveis, também se constituem como lugar de emergência dos sentidos históricos
das comunicações existentes em determinados contextos e com determinadas
significações, e mantém vivas aquelas significações já socialmente
consolidadas. 2) Desenvolva a compreensão sobre a SINGULARIDADE-INSTABILIDADE,
na qual a possibilidade de os gêneros irem se atualizando, se modificando,
está relacionada ao trabalho desenvolvido pelo sujeito ocupado com um projeto
de dizer, junção de seu passado e de seu futuro, frente a uma alteridade viva e
atuante, seu interlocutor. O trabalho responsivo do sujeito instabiliza o
gênero a cada vez que determinado enunciado é empregado em determinada
atividade humana. Esse movimento não nega a historicidade do sentido, nem
o tipo e a forma já relativamente estabilizada, mas a movimenta para novas
possibilidades, instaurando novas formas e novos tipos de enunciados ,
relacionando com tipos e formas que são usualmente empregados em outras
atividades humanas; esse movimento relaciona gêneros , joga um dentro de
outro, obriga enunciados a frequentar novas atividades e significálas e, ao
mesmo tempo, renova o gênero dentro do qual se enuncia. Esse trabalho
dialógico, responsivo, centrado na alteridade , está sempre prenhe de
perspectivas, e buscas por completudes de sentidos, de identidades, de relações
sociais, sempre inconclusas. Esse trabalho responsivo instaura a renovação do
gênero , veste novos temas sobre significações históricas dos enunciados e das
palavras , faz com que o estilo do gênero se conflite com o estilo individual e
vice-versa, reconfigura sua composição formal. Vale a pena aqui fazer um leve
aceno para o jogo que Bakhtin clareia ao posicionar os gêneros discursivos como
primários e secundários. Os gêneros primários, ele chama de simples, e os
secundários, de complexos. Simples porque “se formaram nas condições da
comunicação discursiva imediata”, e complexos porque “surgem nas condições de
um convívio cultural mais complexo e relativamente mais desenvolvido e
organizado”; e se estabelecem como relacionais entre si, numa troca infinita de
sentidos e renovando continuamente os gêneros. E se conseguimos nos comunicar é
porque dominamos os gêneros empregados naquela atividade verbal. E quanto mais
os dominamos, mais livres nos sentimos no seu uso – um uso que é também
renovação pelos diálogos com outros gêneros – e nas construções de sentidos
possíveis que nosso projeto de dizer possibilita no jogo com o outro que também
se comunica comigo. Compreender gêneros do discurso a partir das leituras das
obras do Círculo de Bakhtin é compreender o texto como parte fundante das
atividades humanas dos sujeitos . Essa compreensão revela um sujeito produtor
de linguagem , de enunciados e de discursos ; e também nos mostra que o texto é
fundamental não somente para os estudos da língua mas para a própria
reconstrução da compreensão do homem e das Ciências Humanas.
O herói/personagem, para Bakhtin, “vive de modo
cognitivo e ético. Seu ato se orienta em um acontecimento aberto e ético da
vida ou no mundo dado do conhecimento.” O herói possui uma “realidade cognitiva
ética (da realidade do ato, da realidade ética do acontecimento único e
singular do existir)”, uma realidade , portanto, diferente da realidade
estética do autor , mas não indiferente a ela. Isso significa que o herói não
tem um excedente de visão do todo da obra em que está inserido como o autor tem
o excedente de visão do herói em relação aos outros elementos da obra (outros
personagens, outros acontecimento s internos a obra) lhe confere também certa
autonomia em relação ao autor . No romance polifônico, o herói é um sujeito que
aparece na obra e os traços identificadores desse herói nos são dados com os
pontos de vista e as idéias que ele tem em relação ao mundo e sua existência.
Mesmo quando o herói é autobiográfico, ele não coincide com o autor , porque o
autor , para construir esse personagem, deve tornar-se outro em relação a si
mesmo, encontrar-se em uma extralocalidade , em exotopia . Somente poderá
vê-lo, como herói , com um excedente de visão específico para atingir o todo
desse herói , o todo com valores que são transgredientes a sua própria vida. A
relação entre autor e herói é uma relação entre um Eu e um Outro, uma relação
de alteridade , fundada na dialogia , em relação de responsividade .
Materialidade, acontecimento e
descontinuidade. A história é o horizonte social de uma época. Como sujeitos
ativos e inacabados que somos, a história que produzimos e pela qual somos
produzidos é descontínua. Na teoria bakhtiniana, a história tem como noção
central a possibilidade de revisitar, refazer ou fazer de outra forma o que já
está constituído. Só nosso nascimento físico não é suficiente para nos dizermos
sujeito s-históricos; para sermos sujeitos-históricos é necessário um segundo
nascimento, o nascimento social . É enquanto inseridos no contexto
sócio-econômico de uma sociedade, que os indivíduos podem construir sua
existência e, em decorrência, sua produtividade cultural. A história é,
portanto, um fenômeno social, uma produção social, um acontecimento descontínuo
comum a uma comunidade linguística. Descontínuo devido ao fato de que é a
linguagem que cria e recria o mundo histórico e valorativo. A história é móvel,
é tanto memória do passado quanto memória do futuro. Mais precisamente, a
história é como o veículo de todo signo produzido, funcionando como a
transportadora de signos ditos ao encontro de signos ainda não ditos. A cada
novo acontecimento, a cada nova produção ideológica a história se recompõe,
reescreve-se, atualiza-se. A grande percepção de Bakhtin é justamente de que a
história não está estagnada, pronta, concluída, já-dada, mas se rematerializa
no uso do signo. É por isso que materialidade, nesse sentido preciso, não
se contrapõe a descontinuidade.
Toda produção enunciativa relaciona-se com o
conteúdo interior e com a expressão exterior. A expressão é caracterizada
exatamente pelo signo que parte de um sujeito e direciona-se a outro.
Essas relações se concretizam a partir de um horizonte social envolvido na
expressão. O horizonte social orienta os valores construídos na interação; é o
espaço-tempo compreendido em uma relação verbal, ou seja, o espaço-tempo da
enunciação. Essa relação espaço-temporal envolve um tempo mais prolongado e um
mais imediato, considerando, também, a memória do futuro na relação entre os
interlocutores. Da mesma forma, o espaço envolve tanto configurações mais
amplas, como específicas. Cada grupo construirá seu repertório de signos e
enunciados que direcionarão as criações ideológicas de sua época. É preciso
estabelecer diferenciação entre o horizonte e o ambiente: enquanto o primeiro
coloca-se em relação ao signo , o segundo referese ao lugar fora do signo ; o
primeiro é social e o segundo, apesar de social, é mais voltado para o
físico.
Para Bakhtin, a ideologia é social e se contrói em
todas as esferas das interações: “A ideologia não pode derivar da consciência,
como pretedem o idealismo e o positivismo psicologista, pois a consciência
adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso
de suas relações sociais”. Reforçando esse entendimento, a ideologia poderia
caracterizar-se, na perspectiva bakhtiniana, como a expressão, a organização e
a regulação das relações histórico-materiais dos homens. Seguindo esta linha de
raciocínio, também pode-se ver ideologia como uma representação. Isso porque se
dá na/pela linguagem . Precisa dela para poder manifestar-se e essa é
caracterizadamente representativa (simbólica) e constituída por signos
ideológicos. Isso significa que esses signos não só denominam um ser no mundo,
mas também fazem referência a uma outra realidade fora da imediata. Para
Bakhtin, “tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado
fora de si mesmo”. Por ser ideológico, o signo comporta as crenças, os sonhos,
as visões de mundo, os modos de interpretar a realidade, etc. Se o signo não
fosse também ideológico, nada disso poderia ser identificado nele. O signo
carrega, em sua constituição, numa face, uma oficialidade que o faz pertencer a
determinado sistema ideológico e, na outra, uma necessidade de reorganização a
partir do contato desse signo nas relações cotidianas travadas pelos sujeitos .
A ideologia é essa dupla face que faz com que o signo se mantenha na história e
também se transforme na interação verbal. Podemos definir a ideologia ,
portanto, como um conjunto de valores e de ideias que se constitui através da
interação verbal de diferentes sujeitos pertencentes a diferentes grupos
socialmente organizados na história concreta.
A infraestrutura é a realidade concreta de
onde parte o processo de comunicação. Os signo s ideológicos se formam a partir
desta realidade social, por isso a importância de entender o contexto em que os
signo s são formados, ou estudar sempre a situação imediata em que a interação
verbal ocorre para formá-los. A infraestrutura sempre está relacionada com a
superestrutura. É nesta relação que os sujeito s vivenciam a sua história
através da linguagem . Os sujeito s constroem sua identidade tanto na sua vivência
concreta em uma realidade infraestrutura l, quanto em uma realidade semiótica
superestrutural . Precisamos porém tomar cuidado ao analisar essa relação, pois
por vezes caímos no erro de separá-las, como se ora estivéssemos numa realidade
infraestrutural e ora estivéssemos na outra. Estamos sempre nessa região
limítrofe entre as duas realidades. A superestrutura transforma o objeto em
signo . O objeto se transforma em signo quando se envolve em uma esfera
ideológica, quando a ideologia constituída em um determinado grupo o faz
funcionar no interior de um sistema de valores. No grupo e no horizonte social
tal objeto é determinado pelo valor semiótico e se transforma em signo . Daí
dizermos que o signo se desenvolveu da infraestrutura para a superestrutura , ou
seja, da realidade concreta para o sistema ideológico de um determinado
horizonte social
Fundada sobre pilar da heteroglossia , isto é,
sobre o conjunto múltiplo e heterogêneo de vozes sociais que habitam a
consciência humana ou, nas palavras de Voloshinov, sobre um auditório
social interior bem estabelecido, em cuja atmosfera se constroem nossas
deduções, nossas motivações, apreciações etc, a interação é a própria
concepção de linguagem em Bakhtin. A linguagem é inter-ação. Em “Marxismo e
filosofia da Linguagem” , Bakhtin (Voloshinov) diz que “Toda palavra comporta
duas faces . Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém quanto
pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da
nteração do locutor e do ouvinte” (grifos do autor ). Dessa forma, no próprio
dizer de Bakhtin, “a interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental
da língua”. Mas, o filósofo russo nos chama a atenção para não reduzirmos a
interação ao diálogo, no sentido estrito do termo (interação face a face).
Este, para o autor, constitui uma das formas primordiais de interação , mas ele
deve ser compreendida em uma concepção mais ampla, que engloba toda a
comunicação verbal de qualquer tipo. É importante termos em mente que, para
Bakhtin, a palavra é ideológica por natureza e comporta nossas avaliações, de
forma que a interação é um evento dinâmico onde o que está em jogo são posições
axiológicas, confrontos de valores sociais. A interação é, portanto, o diálogo
ininterrupto que resulta desse confronto e que constitui a natureza da
linguagem . Para Bakhtin [e isso permeia toda a sua obra], viver é tomar
posições continuamente, é enquadrar-se em um sistema de valores e, do
interior dele, responder axiologicamente.
Em “Para uma filosofia do Ato Responsável”, a
preocupação com a linguagem aparece de forma secundária e vinculada à uma
discussão ética -filosófica. Nesse texto, ela é tida como atividade (e não como
sistema abstrato), vinculada à dimensão da vida, sendo, por isso, concreta: a
linguagem é vista em relação aos atos únicos e singulares realizados e ao
ser-evento-unitário. Com isso, a linguagem carrega expressividade, ou seja, ela
carrega a atitude valorativa dos sujeito s em relação ao seu objeto discursivo.
Já em o Discurso na vida e discurso na arte (1926), a questão da linguagem
(poética e cotidiana) ocupa lugar central nas reflexões de Bakhtin/Voloshinov.
Trata-se de reforçar a relação intrínseca que existe entre a linguagem
-enunciado e as situações sociais mais amplas e mais específicas, que inclui o
compartilhamento pelos interlocutores do horizonte cronotópico, do conhecimento
da situação e de avaliações e julgamentos. A distinção entre linguagem tida
como sistema e comoenunciado concreto é esmiuçada em “Marxismo em
Filosofia da Linguagem”, nas distinções que Bakhtin/Voloshinov estabelece
entre, por exemplo, significação e tema, sinal e signo, entre outras. Por
um lado, tem-se a dimensão singular, plurivalente, concreta e irrepetível da
linguagem , ou seja, os enunciados; por outro, tem-se a dimensão
reiterável, abstrata, unívoca, estrutural e previsível da linguagem , ou seja,
o sistema da língua . Essas duas realidade s linguísticas, apesar de serem
apresentadas a partir de uma série de distinções, não constituem uma dicotomia,
sendo que a linguagem-enunciado se apóia na linguagem -sistema e vice-versa. Em
“Problemas da poética de Dostoievski”, além de focar a dimensão
discursiva dos estudos da linguagem , Bakhtin reforça a relação mútua existente
entre a metalinguística e a linguística, que tem como objetos, o discurso e a
língua - sistema, respectivamente: as duas “devem completar-se mutuamente e não
fundir-se”, sendo que a primeira lida com as relações dialógicas e a segunda
com os elementos da estrutura linguística. Enriquecendo a concepção enunciativa
da linguagem , “O discurso no romance” esmiuça as noções de plurilinguismo
(dialogizado), de plurivocalidade e de pluridiscursividade. Trata-se de ver as
estratificações social, ideológica, intencional e valorativa como
características inerentes às linguagens (do romance e da vida). Tais estratificações
fundam-se tanto nas relações dialógicas entre as vozes sociais e ideológicas
como na tensão existente entre as forças de unificação (centrípetas ) e de
descentralização (centrífugas) operantes sobre as ideologias e línguas. E o elo
comum a todas as linguagens funda-se na ideia de que “são pontos de vista
específicos sobre o mundo, formas de sua interpretação verbal, perspectivas
específicas objetais, semânticas e axiológicas”, podendo, assim, estabelecer
relações dialógicas entre si. Nesta obra, o caráter dialógico da linguagem é
desdobrado e amplamente reafirmado: todo discurso é orientado (i) para um
objeto já constituído por discursos de outrem, (ii) para um já-dito e uma
resposta antecipada, (iii) para os interlocutores.
Podemos entender como literatura carnavalizada
aquela em que percebemos as categorias de carnavalização e as imagens do corpo
grotesco em evidência. Para discutir os conceitos de carnavalização e corpo
grotesco, Bakhtin vai à literatura. Ele toma os romances Gargântua e
Pantagruel, do autor francês Rabelais, e escreve a sua tese de doutorado que,
num primeiro momento, foi recusada. Em Gargântua, desde o início do livro,
podemos perceber as imagens do corpo grotesco que, em Rabelais, são gigantes e
muito exageradas, características típicas do grotesco. Após comer grande
quantidade de tripas em um banquete, Gargamelle, grávida de 11 meses, “sentiu
mal e começou a gemer, a gritar. Numerosas parteiras chegaram de todos os lados
e, apalpando-a por baixo, encontraram uns pedaços de pele de muito mau gosto.
Pensaram que fosse a criança, mas era o reto que escapara, por se ter afrouxado
o ânus, que vos chamais de olho-do-cu”. O bebê, que era gigante, sai pelo
ouvido da mãe e começa a gritar: beber, beber, beber. Por essa razão, o pai
deu-lhe o nome de Gargântua. Um exemplo da literatura brasileira é Macunaíma de
Mário de Andrade. Similar ao romance francês, o livro começa com o nascimento
do herói : “no fundo da mata virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era
preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi
tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu
uma criança feia”. Se Gargântua é o gigante, Macunaíma é baixinho, o herói sem
caráter e o que lhe caracteriza é a preguiça. No filme de Joaquim Pedro de
Andrade a imagem do nascimento está bem representada. Uma velha branca e feia
(o ator Paulo José), no meio do mato, parece cagar um negrinho velho e preto (o
ator Grande Otelo). Tanto em Gargântua como em Macunaíma, ambos explicitamente
calcados na cultura popular, podemos ver como os autores já anunciam a entrada
para o mundo carnavalizado onde há inversões, dialogismo, polifonia, paródia
etc. Do velho nasce o novo, indicando a renovação, a metamorfose. Mário de
Andrade mistura a linguagem indígena (não-oficial) com a oficial, cria
neologismos, macacos podem falar; Macunaíma, que é analfabeto, escreve em português
perfeito. Para roubar, Macunaíma se disfarça de mulher, mostrando a inversão
sexual por paródia. Ou ainda, podemos ler Macunaíma como uma paródia da índia
romântica Iracema, de José de Alencar, a virgem dos lábios de mel, perfeita,
idealizada. O magnata Pietro é deposto pelo herói do seu povo. Também é comum,
tanto em Macunaíma, quanto em Gargântua, as descrições de defecação e urinação.
Gargântua conta a seu pai sobre o ritual do limpa cu e, quando urina, provoca
uma inundação. Macunaíma, para espantar os mosquitos de uma velha, usa a urina
quente. Tanto a idade média, contexto de Rabelais, quanto a semana de 22,
momento em que Mario de Andrade escreveu seu romance, são momentos de grande
transformação social. Daí um retorno ao popular por meio da literatura
carnavalizada e imagens grotescas, mostrando a necessidade de renovação, de
abertura a novos diálogos. Mario de Andrade, com Macunaíma, usa de forma
extremamente criativa características que o popular lhe oferece para criticar o
colonialismo oficial e opressor de sua época.
Língua é a materialização da linguagem humana
verbalizada. É fruto do trabalho humano, o que implica dizer que é ideológica,
ou seja, é mais do que um sistema unirreferencial, pois além de referenciar o
mundo imediato, ela também representa um outro mundo para além da imediatez
interacional. Portanto, língua é um sistema linguístico-ideológico (pois
se constitui de signos linguístico-ideológicos) através do qual a linguagem
humana verbal se materializa para referenciar o mundo, representá-lo e
constituir outro mundo para além do imediato.
Divide-se em duas noções extremamente relacionadas:
memória de futuro e memória de passado. Memória de passado : pode-se definir
como o solo comum que uma comunidade linguística compartilha. São as
experiências, enunciado s, discursos e valores que nos constituem. A história
da qual somos filhos é a memória de passado. Memória de futuro : pode-se
definir como projeção. Não se deve reduzir a memória de futuro a uma relação
temporal, mas a idéia de que o sujeito está incompleto, ou seja, não foi
concluído, pois sua história está acontecendo, vai se construindo a partir de
suas movimentações. Toda vez que o sujeito fala, isso afeta a si e ao outro .
Faz-se presente na sua fala o desejo de perpetuar-se, elevar-se e ampliar-se.
Bakhtin, ao falar de memória, explica que ela é sempre de passado e de futuro,
pois ambas andam juntas, são complementares. Ao enunciar, resgatam-se os
valores já estabelecidos, mas ao invocar os valores ou significações,
concomitantemente, reinventa-se o sentido, pois o indivíduo contribui com o
tom, a expressão e o desejo do seu projeto discursivo. A memória de passado é o
que se pode chamar de atual, contemporânea; já a memória de futuro é utópica,
isto é, ainda sem lugar, não concretizada. A primeira tem a ver com a estética
, com a constituição do indivíduo. A segunda com a moral, revisão e a
reapresentação dos valores. A memória de futuro é colocada como a imagem de um
sujeito criativo, logo com responsabilidade moral. O futuro garante minha
justificação, pois ele revoga o meu passado e o meu presente, mostra minha
incompletude, exige minha realização futura, e não como continuação orgânica do
presente, mas como sua eliminação essencial, sua revogação. Cada momento que
vivo é conclusivo, e ao mesmo tempo inicial de uma nova vida.
O método, em Bakhtin, consiste em submeter a
materialidade linguística concreta - entendida como o resultado verbal das
interações sociais, geradora, por sua vez, de formas de interação verbal
específicas – a um olhar analítico que integre ideologia e linguagem. Ou seja,
não há dissociação entre os signo s e as formas concretas de comunicação
social, estas, por sua vez, intimamente relacionadas à base material da
sociedade em que se realizam. Bakhtin sugere uma orientação de pensamento a
partir do seguinte procedimento: primeiramente, identificam-se e analisam-se
“as formas e os tipos de interação verbal”, relacionando-os com “as condições
concretas” em que se realiza essa interação verbal. Em seguida, deve-se
analisar “as formas das distintas enunciações” e as “dos atos de fala
isolados”, considerandoos como elementos constituintes da interação verbal
ideológica. Seguido esse procedimento, realiza-se o “exame das formas da língua
na sua interpretação linguística habitual”. Estes procedimentos analíticos são
complexos e operam de forma conjunta.
O nascimento social do homem, para Bakhtin, é
considerado como algo indissociável do seu nascimento biológico, pois o nascimento
concreto ocorre em sua classe social, ou seja, a partir do seu contato com
a sociedade. Bakhtin elaborou sua teoria da consciência fundamentando-se nos
aspectos sociológicos, rompendo com os aspectos fisiológicos ou
biológicos. Ele não compreendeu a consciência aliada a processos internos, mas
sim ao contexto ideológico e social. Não julgou admissível a existência da
consciência individual; considerou possível somente a consciência social. No
nível individual existiriam apenas os signos, elementos externos emergentes do
processo social), criados pelo homem. O escritor russo viu a necessidade de
criação de uma psicologia fundada no estudo das ideologia s, conferindo à
palavra o lugar de destaque na constituição da consciência – sendo social (ou
coletiva) – permeada pela existência dos signo s. A atividade mental do
indivíduo estaria concentrada na expressão anterior, por meio da palavra, da
mímica ou de outro canal de comunicação e internamente para o próprio
indivíduo, constituindo-se no “discurso interior”. O interesse de Bakhtin
pela psicologia se relacionou à “necessidade de compreender a construção da
consciência e, por aí, apreender especificidades da criação artística”. A
análise que fez da psicologia foi baseada na perspectiva semiológica e social,
tendo-se fundamentado na linguagem e utilizado o método dialético. Ao
considerar o homem como ser histórico e social Bakhtin “historicizou” também a
linguagem . Para ele, o mundo é pluralista e polifônico, e a interação verbal é
o fator essencial para a consciência do homem. É na coletividade da sociedade
que tomamos consciência. “O fenômeno ideológico por excelência e o modo mais
puro e sensível de relação social é a palavra , ou seja, a linguagem no sentido
mais amplo (...)”.
De acordo com Bakhtin, cada sujeito é único e
ocupa um lugar único na existência; por isso, ninguém tem álibi para a
existência, ninguém tem como escapar da sua responsabilidade existencial:
temos o dever de responder. Trata-se, nesse sentido, de uma ética sem
concessões. Bakhtin vai dizer também que viver é responder; é assumir, a cada
momento, uma posição axiológica frente a valores. Viver é participar desse
diálogo inconcluso que constitui a vida humana. A dialogia é, portanto,
fundante do nosso ser no mundo e da nossa própria consciência. Na expressão
consciência individual há, na concepção bakhtiniana, uma contradictio in
adjecto, porque a consciência é sempre plural, no sentido de ser povoada por
inúmeras vozes sociais que ali estão como efeito do nosso existir no diálogo
inconcluso com a alteridade. Nossa consciência é sempre uma realidade
plurivocal (heteroglóssica): Eu vivo em um mundo de palavra s do outro. E toda
a minha vida. Não há um álibi, “um ser divino” que esteja por trás de cada
atitude humana. Cada um de nós é responsável e, por isso, chamado a responder
eticamente pelos seus atos, sem álibi, sem proteção.
Bakhtin faz uma crítica ao objetivismo abstrato ,
pois esse incide em um apagamento do sujeito falante. Em “Marxismo e filosofia
da linguagem”, Bakhtin desenvolve seus argumentos dizendo que o objetivismo,
herança de uma tradição filosófica presente já em Descartes e Leibniz, postula
que os sujeito s recebem a língua finalizada, pois essa é transmitida aos
indivíduos pronta para ser usada. Na Linguística, o objetivismo abstrato foi
desmembrado pelo linguista Saussure, quando afirmou que a língua seria o ápice
para toda e qualquer análise linguística. A fala, o contexto, o extra-verbal,
os elementos transitórios, para Saussure, não seriam objetos de estudo dessa
corrente. Disso decorre que o sujeito e sua produção comunicativa são deixados
de lado, pois os sujeito s deveriam, nesta compreensão, conformar-se com a
estrutura da língua dada. Para Bakhtin, o objetivismo separa da língua o
conteúdo ideológico, acreditando que uma mesma palavra usada nos mais diversos
contextos será sempre determinada por um mesmo e único significado.
Bakhtin discute as formas sintáticas em “Marxismo e
Filosofia da Linguagem” , por exemplo, no cap.8 (“Teoria da Enunciação e
problemas sintáticos”) , no qual o autor diz que “todas as análises sintáticas
do discurso constituem análises do corpo vivo da enunciação . As formas
sintáticas são mais concretas que as formas morfológicas ou fonética s e
são mais estreitamente ligadas às condições reais de fala”. Com isso não se
quer dizer que Bakhtin não dê também grande importância às categorias fonéticas
e morfológicas. O que ele ressalta o tempo todo é que “nenhuma das categorias
linguísticas convém à determinação do todo. Com efeito, as categorias
linguísticas, tais como são, só são aplicáveis no interior do território da
enunciação”. Isto é, Bakhtin toma a enunciação como o território para o estudo
produtivo das formas, quer sintáticas, quer morfológicas, quer fonológicas, com
destaque para as primeiras por serem as que mais se aproximam das formas
concretas da enunciação . Para Bakhtin, um “corpo monológico”, como os
parágrafos, por exemplo, que tem a pretensão de ser um pensamento completo,
contem elementos essenciais que são análogos às réplicas de um diálogo :
pergunta e resposta; suplementação; antecipação de possíveis objeções; e
exposição de aparentes incoerências ou contradições no próprio discurso, onde
encontramos “ o ajustamento às reações previstas do autor e do leitor”. Sendo
assim, a organização sintática de um discurso, para Bakhtin, é a própria
realização do dialogismo, especialmente em um fenômeno que ele caracteriza por
“nodal” que é o discurso citado (discurso direto, discurso indireto,
discurso indireto livre), cujas modificações e variantes podem ser encontradas
na língua e servem para a transmissão da palavra de outrem. Para Bakhtin,
somente a orientação sociológica foi capaz de “descobrir toda significação
metodológica e o aspecto revelador desses fatos.”
A interação entre o falante(locutor) e o ouvinte (interlocutor),
para Bakhtin, é constituída através dos signos. As palavra s funcionam como um
elo entre os sujeito s (interlocutores) e surgem carregadas de valores sociais
que já foram também constituídos socialmente. Essa interlocução entre sujeitos
é construída por meio da enunciação , dos discursos. Bakhtin atenta-nos, a todo
instante, que o sujeito se constitui socialmente, através de suas interações e
de seus diálogo s. Ao abordar o diálogo, Bakhtin, em “Marxismo e Filosofia da
Linguagem”, explicita que “ a unidade real da língua que é realizada na fala
não é a enunciação monológica individual e isolada, mas a interação, isto é o
diálogo”. A recepção torna-se fundamental na consolidação do diálogo entre os
indivíduos. Ao ser interpelado pela enunciação de outrem, no processo de
compreensão e interpretação desses enunciados, o interlocutor oferece
suas contrapalavras, o que torna a relação falante-ouvinte dialógica.” Os
sujeitos, carregando consigo suas orientações ideológicas, se constituem através
do(s) outro (s), dialogicamente, em uma interatividade complexa e dinâmica.
Essa concepção de interlocução entre sujeito s, no entanto, não deve se limitar
à fala propriamente dita, uma vez que existem outros tipos de diálogo s, outras
interações.
Na teoria bakhtiniana, a palavra é um
fenômeno ideológico por excelência. Relaciona-se, portanto, diretamente com a
realidade, quando se transmuta em signo e adquire significação. Em Bakhtin, a
palavra se posiciona sempre na relação eu-outro . Ele explica que, no início,
trata-se de palavra interior, quando se relaciona diretamente com o
psiquismo , concretizando-se como a base da vida interior. Depois, a palavra
ganha um caráter refratário, inserida no seio social como uma
palavra exterior, caracterizando e permeando as diferentes formas de
interação verbal. Por meio da interação contínua, da realidade concreta, a
palavra assume sentido ideológico enquanto enunciado e não como parte da língua
sistêmica. Com isso, no jogo social, carrega consigo uma expressividade
entonativa – classificada como um ato ativo, contendo uma ubiquidade social.
Assim, a palavra é o elemento essencial para acompanhar e constituir a
concepção ideológica, enquanto material semiótico da vida interior e
eternamente presente no ato de compreender. Logo, por estar diretamente
envolvida nas relações humanas, é o indicador mais sensível das transformações
sociais, contendo em si as lentas acumulações que ainda não ganharam
visibilidade ideológica, mas que já existem.
É a intertextualidade com intenção de produzir um
efeito cômico. A forma como se processa esse intertexto, a motivação e as
consequências esperadas para esse ato determinam a natureza literária da
paródia . Há muitos recursos estéticos e estilísticos para que este recurso se
desenvolva focando a produção do riso na literatura. Podemos citar os jogos de
palavra s, a ridicularização, o estereótipo, o grotesco, o burlesco, a
obscenidade e a ironia, normalmente combinados entre si. De acordo com Bakhtin,
esses recursos evoluíram durante o Renascimento, no século XVIII até
tornarem-se “componentes estilísticos dos gêneros sérios, principalmente o
romance”. É nesse contexto que se destaca a paródia como um gênero peculiar de
produção artística que rompe com a vertente da seriedade na literatura,
mostrando-se mais recreativa, em uma atmosfera de liberdade e de licença. Ela é
carnavalesca, ambivalente, bivocal (a voz do parodiado e do parodiante) e
dialógica. Nela, zomba-se da voz séria e, ao mesmo tempo afirma-se uma alegria
com a outra voz. Com isso, nega-se o discurso de autor idade e afirma-se a
relatividade das coisas. Bakhtin destacou o papel do dialogismo na sua
construção, cujo resultado ele chamou “híbrido premeditado”. Com isto,
referia-se à inseparabilidade da essência da paródia que, ao mesmo tempo em que
dialoga propositalmente com o texto parodiado, não se confunde com ele. As
dicotomias sério/cômico, gravidade/riso, sobriedade/embriaguez,
espiritualidade/carnalidade parecem evidenciar que a natureza humana subsiste
em duas bases que se opõem e se complementam ao mesmo tempo: de um lado a visão
séria/trágica da existência humana; do outro , a celebração da vida através do
prazer e do riso. Dessa inversãose constitui e efetiva a paródia .
Ao falarmos em realidade , a partir de Bakhtin,
precisamos pensar na realidade per se (o mundo, existente) e na realidade
discursiva (construída e existente por meio da e na linguagem ). A linguagem é
histórica e constituída por sujeito s. A associação entre cultura e realidade,
entre mundo sensível e mundo inteligível, entre conteúdo e processo, entre
repetibilidade e irrepetibilidade caracteriza a vida (realidade per se)
complexa humana, composta pelo diálogo entre o agir concreto dos sujeitos
(ética ) e o pensar sobre o agir dos sujeito s (estética ). O empreendimento
bakhtiniano consiste em propor que há entre o particular (aquilo que só nele se
faz presente) e o geral (aquilo que cada ato tem em comum com outros atos), a
vida e a arte, uma relação de interconstituição dialógica que não privilegia
nenhum desses termos, mas os integra na produção de atos, de enunciados, de
obras, enfim, de dizeres que produzem a realidade discursiva. Bakhtin propõe a
interconstituição entre texto e contexto, sujeito discursivo e sujeito humano,
e realidade discursiva (criada no e pelo discurso) e realidade per se. Essa
aproximação ocorre porque o sujeito , para o filósofo russo, é agente de sua
consciência e a consciência depende da linguagem para se formar e se
manifestar. A linguagem só existe imersa no mundo (real), por isso a
consciência não é uma instância anterior que impõe suas categorias ao mundo. Ao
contrário, ela precisa do mundo para se constituir, ao mesmo tempo em que
também o constrói (realidade discursiva). Afinal, as situações vividas (reais)
chegam à consciência por meio da linguagem , no âmbito do processo de
interiorização do signo ideológico (realidade discursiva).
Em “Arte e Responsabilidade”, um dos primeiros
textos publicados após a conclusão dos estudos na Universidade de São
Petersburgo, Bakhtin expõe sua força dialogizadora o propor a ligação com os
diversos campos da cultura humana: a ciência, a arte e a vida. Segundo ele,
para vencer o mecanicismo dialético é preciso garantir o nexo entre elementos
diferentes para compreendê-los em uma unidade de responsabilidade. “O poeta
deve compreender que a sua poesia tem responsabilidade pela prosa trivial da
vida, e é bom que o homem da vida saiba que a sua falta de exigência e a falta
de seriedade de suas questões vitais respondem pela esterilidade da arte”.
“Arte e vida não são a mesma coisa, mas devem tornar-se algo singular em mim,
na unidade da minha responsabilidade”. Uma boa maneira de se pensar isso é
aliar responsabilidade e responsividade: ao mesmo tempo em que sou responsável
pelo que faço e digo, também faço e digo em resposta a uma série de elementos
presentes em minha vida como signos.
Para Bakhtin, é um gênero literário desenvolvido
por Dostoievski. Como o próprio nome revela, é um romance no qual há muitas
vozes que convivem de modo a impedir que o narrador seja a voz central. Em
outras palavra s, não há narrador central, protagonista, pois todas as vozes
presentes no texto dialogam em pé de igualdade. Por ser dialógica e polifônica,
a narrativa no Romance polifônico, em vez de alimentar a centralidade e o
monólogo, caracteriza-se por vozes que, livres do domínio de um narrador
central, produzem significados em interação. Os elementos que constituem esse
tipo de narrativa são diferentes entre si, e é justamente essa diferença que
potencializa o texto, enriquecendo tanto seus feitos como efeitos. No romance
polifônico destaca-se a potência das paixões representada nas vozes de
personagens marcantes. Tais potências, para Bakhtin, expressam o ativismo do
indivíduo, isto é, o indivíduo não está finalizado, ele está em movimento de
criação constante. Deve estar evidente que as vozes em um romance polifônico
não se sujeitam a um centro do qual emanariam as palavra s finais. Nesse
sentido, uma palavra não pode ser vista como a finalização de uma ideia, mas
sim, como uma nova retomada e ressignificação dos sentidos.
De início, Bakhtin é contundente em afirmar que
tudo que é ideológico é signo . E ele vai mais além ao dizer que o signo não se
constitui fora de uma realidade material , mas reflete e refrata outras
realidades. Os signos somente emergem e podem existir dentro da interação
social, adquirindo significação dentro de uma realidade material e concreta.
Eles comportam em si índices de valores que espelham e constituem os sujeitos
que os utilizam e a realidade social por onde circulam. Tais índices operam
como arenas de lutas em que diferentes ideologias entabulam entre si relações
dialógicas e disputas pelos sentidos. Dentro do universo da linguagem , o signo
tem seu espaço particular por operar como uma ponte entre a língua sistêmica e
a realidade sócio-histórica, articulados pela ideologia . Assim, podemos dizer
que o signo se dá em uma encruzilhada tripartite e inseparável: uma parte de
material, uma parte de materialidade sócio-histórica, e uma parte do meu ponto
de vista.
A noção de subjetividade criticada pela obra de
Bakhtin implica o limite do ser num “eu” absoluto, de modo que se exclui a
relação “eu-outro ”. Bakhtin questiona tal primazia do eu na corrente
filosófica que ele chamou de subjetivismo idealista, para a qual os resultantes
das relações sociais (inclui-se aqui a língua , a ideologia ) são
apenas produtos da consciência ou da ordem
psicológica. Bakhtin refuta essa concepção ao demonstrar que a consciência não
pode derivar da natureza, nem a ideologia derivar da consciência. Pelo
contrário, a própria consciência toma forma e existência nos signos
ideológicos, de modo que o indivíduo somente se constitui, identifica-se e
difere-se na relação com o outro .
Na obra “Marxismo e filosofia da linguagem”,
Bakhtin critica o subjetivismo idealista , pois esse, assim como a compreensão
da realidade marcada pelo objetivismo bstrato , não dariam conta de explicar a
complexidade sociológica (e discursiva) da realidade. A diferença básica do
subjetivismo em relação ao objetivismo seria que o primeiro tentaria
explicar o ato de fala a partir da vida psíquica dos sujeito s falantes, sendo
a fala vista como o fundamento da língua . Para o subjetivismo, nada é imóvel,
nada consegue conservar uma identidade, sendo o sujeito individual o ponto de
origem da enunciação. Desconsideram-se, portanto, a natureza social
da enunciação, a natureza da palavra como produto da interação entre o
locutor e o interlocutor, e o fato de que toda enunciação surge de certas
pressões sociais que configuram, também, os ouvintes possíveis.
Para Bakhtin e seu Círculo, a questão do sujeito
está entre as mais importantes, pois envolve diretamente conceitos fundamentais
para sua teoria como dialogia , alteridade e ideologia. Como aborda em
“Marxismo e Filosofia da Linguagem”, o sujeito é constituído socialmente, a
partir da interação verbal na relação com o outro. Esta concepção diferencia-se
de outras trazidas pelo objetivismo abstrato (tendo Saussure como maior
representante) e o subjetivismo idealista (representado, entre outros,
pela escola de Vossler), correntes do pensamento linguístico discutidas por
Bakhtin na obra citada. Para o objetivismo abstrato , há um distanciamento do
indivíduo com relação à língua – tomada como autônoma; ou seja, o indivíduo
utiliza-se deste código imutável para comunicar-se, não tendo participação
ativa sobre ele. Já para o subjetivismo idealista , há uma defesa do indivíduo
como ser criativo, que tem uma relação psicológica com a língua – tomada como
os outros tipos de arte, criada e expressa a partir de pura inspiração, ou
seja, num movimento do interior para o exterior do sujeito . Ao criticar estas
vertentes, Bakhtin é incisivo na defesa de um sujeito ativo na constituição da
língua , sendo assim também constituído por ela e a partir do diálogo e
da interação verbal com o outro. O sujeito é constituído de fora
para dentro. Como afirma Bakhtin, até mesmo o consciente e o discurso interior
são formados socialmente; e a língua está sempre em movimento na interação dos
sujeito s, numa relação de estabilidade e instabilidade entre estes e o meio
social. Portanto, o sujeito na teoria bakhtiniana é considerado como um ser de
ações concretas, em contraposição à concepção de sujeito abstrato ou
idealizado.
Uma questão primordial para todos e quaisquer
estudos marxistas é a noção de superestrutura . Trata-se de todo o sistema
social-ideológico que uma sociedade constitui na sua história . Bakhtin, no
livro “Marxismo e filosofia da linguagem” , vai dedicar um capítulo para
discutir a relação entre Superestrutura e Infraestrutura, nos mostrando que o
lugar onde encontraremos a materialização da superestrutura é a palavra , ou
ainda, o signo ideológico. A superestrutura , como a ciência, a cultura , a
religião, a educação e a mídia, por exemplo, forma seus tipos relativamente
estáveis de signos ideológicos. Não devemos, entretanto, colocar a
superestrutura como fundadora desses signos, pois os signos se constituem
na relação dialógica entre infraestrutura e superestrutura .
É o conjunto de instituições jurídico-políticas
(Estado, direito, etc) e as “formas de consciência social” que correspondem a
uma dada infra-estrutura. É preciso lembrar, no entanto, que essa
correspondência não é mecânica, mas a superestrutura tem uma relativa autonomia
em relação à infraestrutura. (Linguagem e Ideologia, José Luiz Fiorin, pág
83)
A noção de tema vincula-se à perspectiva
semântica presente nas obras do Círculo de Bakhtin. Tal perspectiva contempla uma
tensão existente entre a significação, que contempla os sentidos reiteráveis,
previsíveis, cristalizados, estabilizados e dicionarizados da língua , e o
tema, que trata dos sentidos verbais e não-verbais, singulares, únicos,
ideológicos, históricos, valorativos da língua. O tema é determinado tanto
pelas formas linguísticas quanto pelo contexto extraverbal que compreende o
compartilhamento pelos interlocutores do horizonte espaço-temporal, do
conhecimento da situação e de avaliações e julgamentos. O tema
(conteúdo temático), juntamente com o estilo e a construção composicional,
ao serem marcados pelas especificidades de uma dada esfera sócio-verbal,
caracterizam o enunciado . A relação entre a significação e o tema pode
ser transposta tanto para as noções de linguagem -enuciado e linguagem-sistema,
como para o que Bakhtin (1919) definiu como o mundo da cultura (das
representações, objetificações, teorizações) e o mundo da vida (do ato único,
singular e vivido); assim, o ato vivido, ao ter seu sentido teorizado pela
ciência, filosofia, história ou estética , passa a assumir um valor abstrato,
distante do que era enquanto experiência.
Segundo
Bakhtin, "O excedente da minha visão contém em germe a forma acabada do
outro, cujo desabrochar requer que eu lhe complete o horizonte sem lhe tirar
a originalidade. Devo identificar-me com o outro e ver o mundo através de
seu sistema de valores, tal como ele o vê; devo colocar-me em seu lugar, e
depois, de volta ao meu lugar, completar seu horizonte com tudo o que se
descobre do lugar que ocupo, fora dele; devo emoldurálo, criar-lhe um ambiente
que o acabe, mediante o excedente de minha visão, de meu saber, de meu desejo
e de meu sentimento". É pela memória que se estabelece os valores de nosso
julgamento. E essa valoração somente se concretiza através da exotopia (só um
outro pode me dar acabamento, assim como só eu posso dar acabamento a um
outro). O sentido estético se processa através do excedente de visão, no tempo
e no espaço, em relação à consciência do outro, dá-lhe forma e acabamento, as
quais jamais se podem ter por conta própria, do “eu-para-si”. O valor estético
para Bakhtin, não decorre da definição de uma forma acabada, mas de um processo
axiológico, ou exotópico da minha relação com o outro, da consciência que eu
tenho do outro.
Acesso em 12 de abril de 2011, às 11:33h
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