A Arte da Vida na Sala de Aula

"A meninada precisa ser seduzida. Ler pode ser divertido e interessante, pode entusiasmar, distrair e dar prazer"

Os gêneros textuais sob uma nova perspectiva de ensino

Para que o ensino-aprendizagem se efetive de maneira satisfatória é preciso que o educador esteja totalmente engajado a fim de promover e instigar o aluno para novas descobertas...

Alfabetização e Letramento

As dimensões do aprender a ler e a escrever

Como lidar com as dificuldades da leitura em sala de aula

Para lidar com as dificuldades da escrita em sala de aula, devemos ter consciência de que essa dificuldade está ligada ao desenvolvimento das habilidades na escrita perceptíveis pelas alterações ou erros na sintaxe, estruturação, pontuação de frases ou na organização dos parágrafos enfim nas habilidades necessárias na composição de um texto.

A Língua Portuguesa sob a ótica da Linguística – abordagens metodológicas

"Seria inviável discutirmos acerca das contribuições que a Linguística proporcionou ao longo dos anos em que se faz presente enquanto ciência, sem enfatizarmos acerca da efemeridade da gramática tradicional, vista como elemento prioritário, em termos didáticos."

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Recredenciamento dos membros do GT Estudos Bakhtinianos


Prezados Membros do GT/ANPOLL/Estudos Bakhtinianos
Considerando a Resolução 01/ANPOLL/2012
http://www.anpoll.org.br/portal/index.php/resolucoes/ que estabelece normas para a constituição e funcionamento dos GTs, e que o Presidente da ANPOLL, Prof. Dr. Heronides Moura, no uso de suas atribuições e com base no Estatuto da ANPOLL, resolveu aprovar as seguintes normas para a constituição e funcionamento dos Grupos de Trabalho (GTs) da ANPOLL:
Art. 1º. Os GTs são constituídos por professores e/ou pesquisadores em estágio pós-doutoral, vinculados a programas de pós-graduação, conforme definido pelo estatuto da ANPOLL (Art. 15º).
Parágrafo único:
Pós-graduandos podem, a critério da cada GT, participar das atividades dos Grupos de Trabalho, mas não podem ser considerados membros dos GTs.
Art 2º. Os coordenadores dos GTs devem promover o recredenciamento bianual de todos os membros, segundo normas estabelecidas pelos próprios GTs, e informar, no Plano de Atividades do biênio, a lista de membros recredenciados, e as regras estabelecidas para o recredenciamento.
Parágrafo único:
O número mínimo, por GT, de membros recredenciados deve ser de dez professores e/ou pesquisadores.
Art 3º. Os coordenadores de GT, para terem direito ao auxílio financeiro da ANPOLL quando da participação nos encontros da Associação, devem apresentar os seguintes documentos, no prazo estabelecido pela Diretoria da ANPOLL:
  1. Relatório de Atividades do biênio anterior.
  2. Plano de Atividades do biênio em curso, contendo a lista atualizada de membros recredenciados do GT.
  3. Descrição da programação a ser desenvolvida, pelo GT, nos encontros da ANPOLL.
Art. 4º Para que o auxílio financeiro ao coordenador seja disponibilizado, é preciso que a programação apresentada conte com a participação de ao menos oito professores e/ou pesquisadores.
Nós, Beth Brait e Maria Inês Campos, coordenadora e vice-coordenadora do GT Estudos Bakhtinianos, informamos que:
  1. O Relatório de Atividades do biênio anterior (2010-2012) está no site http://www.linguagemememoria.com.br/mater
  2. O Plano de Trabalho para 2012-2014, discutido no XXVII Encontro Nacional da ANPOLL, realizado no período de 10 a 13 de julho, em Niterói/RJ, quando o GT Estudos Bakhtinianos se reuniu durante dois dias, está no site http://www.linguagemememoria.com.br/materias.php?cd_secao=145 ;
  3. A Programação completa encontra-se em http://www.linguagemememoria.com.br/materias.php?cd_secao=178 ;
  4. O Plano de Atividades do Biênio em curso deve conter a lista atualizada de membros recredenciados do GT.

    Nesse sentido, e para atender as normas da ANPOLL, essa coordenação levou em conta, para o recredenciamento, o LATTES de cada participante, observados dois itens:
    a) projeto de pesquisa contemplando os estudos bakhtinianos;
    b) produção intelectual nos últimos dois anos relacionada aos estudos bakhtinianos.
  5. Quanto ao próximo recredenciamento dos membros, é importante destacar a participação nos próximos dois Encontros Acadêmicos (anual/2013/2014), previamente marcados em assembleia pelo GT, caso contrário, acarretará no não recredenciamento do pesquisador;
  6. Membros recredenciados e credenciados recentemente:

    Adail Ubirajara Sobral, UCPEL;
    Doris de Arruda Carneiro da Cunha/UFPE/CNPq;
    Elisabeth Brait (Beth Brait)/ PUCSP/USP/CNPq;
    Jean Carlos Gonçalves/UFPR/CNPq (último membro credenciado);
    João Bosco Cabral dos Santos/UFU;
    Juscelino Pernambuco, Universidade de Franca;
    Maria Cristina Hennes Sampaio/UFPE;
    Maria de Fátima Almeida/UFPB;
    Maria de Fátima F. G. de Castro/UFU;
    Maria Inês Batista Campos/USP;
    Maria da Penha Casado Alves/UFRN;
    Miriam Bauab Puzzo/UNITAU;
    Pedro Farias Francelino/UFPB;
    Renata Coelho Marchezan/UNESP;
    Sheila Vieira de Camargo Grillo/USP/CNPq;
    Sonia Sueli Berti Santos/UNICSUL.
  7. Descrição da programação a ser desenvolvida, pelo GT, nos encontros da ANPOLL; Art. 4º Para que o auxílio financeiro ao coordenador seja disponibilizado, é preciso que a programação apresentada conte com a participação de ao menos oito professores e/ou pesquisadores.
Conforme definido no Encontro de julho de 2012/ XXVII ANPOLL, o tema previsto para os próximos encontros é Contribuição de Bakhtin e do Círculo para uma teoria da linguagem e para o ensino e a previsão, salvo impedimento pessoal de última hora, é a de que todos os membros participem, discutindo o tema a partir de suas pesquisas em andamento.
Lembramos que ficou definido que cada membro do GT/Estudos Bakhtinianos enviaria, à coordenação e aos demais colegas, até setembro de 2012, uma Proposta de Trabalho que contemple a temática prevista para o biênio 2012- 2014.
Todos que ainda não enviaram, poderão fazê-lo até 15 de março de 2013 para organizarmos a Programação do próximo encontro, que acontecerá de 09 a 11 de outubro de 2013, durante a realização do InPLA em São Paulo.
São Paulo, 20 de novembro de 2012.
Beth Brait
Maria Inês Campos
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mercadante comenta o tema da redação do ENEM


"Temos uma comissão competente que considerou, entre tantas sugestões de tema, este o mais adequado. Ele pressupõe a capacidade de articular informações e refletir sobre o momento que o Brasil está vivendo. O Brasil é um País que teve uma diáspora, mas com a estabilidade, a democracia, hoje atrai povos. Acho que é um tema bastante contemporâneo, desafiador e não previsto", disse, após participar de cerimônia no Palácio do Planalto. Ele acrescentou que, ao longo das questões, a prova trazia exemplos que ajudavam na reflexão sobre o tema da redação.
Para Mercadante, não se deve comemorar o sucesso do Enem já que o exame só pode ser considerado encerrado após o dia 28 de dezembro, quando for divulgado o resultado. "Não tem nada para comemorar. A equipe tem que continuar trabalhando com seriedade e pé no chão", minimizou.
Em relação à segurança das provas, o ministro avaliou que os problemas ocorridos em edição anterior fizeram com que o planejamento fosse reforçado, evitando novas ocorrências. "Todos aprendem com os erros e os erros serviram para triplicarmos o nível de exigência no planejamento. Ampliamos o esforço na área de segurança, de elaboração de provas", explicou.
Sobre a informação falsa divulgada, duas vezes, na internet que a prova do Enem teria sido cancelada, Mercadante reforçou que a Polícia Federal investiga o caso. "Precisamos inclusive de ajustes na legislação para que não tenha tentativa de desestabilizar o processo que para a ampla maioria dos brasileiros é um momento decisivo".
O Enem deste ano registrou abstenção de 27,9% dos participantes. Ao todo, compareceram 4,1 milhões de alunos nos 15.076 locais de provas localizados em 1.615 municípios.
Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 pelo governo federal com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica. A partir de 2009, o teste passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para ingresso no ensino superior.
Neste ano, o candidato resolveu no sábado, dia 3 de novembro, questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias e de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Já no domingo, dia 4, foi a vez dos testes de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, e Redação. O gabarito oficial tem divulgação prevista para 7 de novembro e os resultados, para 28 de dezembro.
Escrito por Stella Bortoni

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Projeto Pontes


Grupo de Pesquisa coordenado pela professora Stella Maris Bortoni-Ricardo, da UnB, com o objetivo de construir "pontes" entre a Sociolinguística Educacional e a formação de professores.

A proposta desse projeto é construir pontes entre a pesquisa sociolinguística e a formação de professores de várias áreas do conhecimento e níveis de ensino, para posterior intervenção na práticas pedagógica..

Clique aqui para ir no grupo do Facebook.

IV SIMPÓSIO MUNDIAL DE ESTUDOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

O IV SIMELP ocorrerá de 02 a 05 de julho de 2013, na Faculdade Letras da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, Goiás, Brasil.

O SIMELP tem como concepção básica a ideia de congregar estudiosos da língua portuguesa de todo o mundo – no que diz respeito à divulgação, ao ensino e à pesquisa – em Simpósios constituídos como espaços de discussão nas áreas da língua, da linguística, da literatura e da cultura. Para isso, como na primeira edição em 2008 (na USP, Brasil), na segunda em 2009 (na Universidade de Évora, Portugal), e na terceira em 2011 (na Universidade de Macau), contamos com a participação de universidades de todos os continentes. Pretende-se que esse evento seja democrático e crie um ambiente propício para trocas entre experientes pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas que têm a língua portuguesa como objeto de interesse.

Diálogo é a palavra-chave do IVSIMELP GYN. O IV SIMELP integra o conjunto de eventos comemorativos aos 50 anos da Faculdade de Letras e aos 40 anos do Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da UFG.

 Queremos realizar um grande evento em 2013 e será muito bom ter você conosco!

 COMISSÃO EXECUTIVA
Vânia Cristina Casseb Galvão
Tânia F. Rezende Santos
Silvia Lúcia Bigonjal Braggio
Leosmar Aparecido Silva
 Lennie Aryete Dias P. Bertoque

 COORDENAÇÃO GERAL
Vânia Cristina Casseb Galvão
Francisco José Quaresma de Figueiredo

Mais informações aqui.

GT - Estudos Bakthinianos





O GT Estudos Bakhtinianos foi idealizado em três importantes eventos científicos:
  • Thirteenth International Mikhaïl Bakhtin Conference, realizado de 28 de julho a 01 de agosto de 2008, na University of Western Ontario, London/ Canadá;
  • XV Congreso Internacional da Asociación de Linguistica y Filología de America Latina/ALFAL, em Montevideo, em agosto de 2008;
  • VI Congresso Internacional e XIX Instituto de Linguística da ABRALIN, em João Pessoa, em março de 2009.
Antes dessas reuniões, pesquisadores de diferentes universidades, interessados na análise dialógica do discurso (ADD), advinda do pensamento bakhtiniano, assim como em seu diálogo com outras vertentes dos estudos do discurso, vinham se comunicando com o objetivo de organizar e oficializar um grupo de trabalho que os congregasse.
Esses contatos foram se constituindo a partir de várias atividades acadêmico-científicas, desenvolvidas ao longo de vários anos:
  • apresentação e discussão de pesquisas em vários encontros científicos nacionais e internacionais;
  • cursos regulares e minicursos ministrados em IES e em eventos científicos, tendo por tema e base a teoria/análise do discurso bakhtiniana;
  • orientação de Iniciação Científica, dissertações e teses;
  • participação em bancas Mestrado e Doutorado, em que, de alguma forma, os trabalhos apoiavam-se na fundamentação teórica advinda de Bakhtin e o Círculo;
  • publicações de livros (teóricos, didáticos e paradidáticos), capítulos de livros e artigos que explicitam, divulgam, tornam visível e aplicável a vertente bakhtiniana dos estudos da linguagem;
  • grupos de pesquisa certificados pelo CNPq em que uma das fontes teórico-metodológicas é Bakhtin e o Círculo;
  • intercâmbios com algumas universidades brasileiras:
ECA/USP - Irene Machado;
IEL/UNICAMP – Silvana Serrani;
FE/UNICAMP - Luci Banks;
UFSCar – Roberto Leiser Baronas;
UFRGS- Ana Zandwais;
UFRN - Maria da Penha Casado Alves;
UFPB - Maria de Fátima Almeida/Pedro Farias Francelino.



Linhas de pesquisa
  1. Análise dialógica do discurso: fundamentos teóricos e metodológicos do verbal e do verbo-visual
  2. Diálogo entre a perspectiva bakhtiniana e outras abordagens
  3. Estudo, tradução e divulgação de textos de Bakhtin e o Círculo
Para mais informações, acesse a página do GT aqui.

Chamada Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso

 

Chamada: Bakhtiniana - Volume 8/Número 2 - a ser publicada em novembro de 2013 Tema: ANÁLISE DA VERBO-VISUALIDADE, CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS DO DISCURSO

Diferentes tendências de análise de discurso passaram a incorporar a relação verbo-visual, que caracteriza produções advindas de diferentes campos e esferas de atividades, como um de seus objetos de reflexão. Sem se confundir com a Estética ou com as propostas da Semiótica e da Semiologia, as diferentes ADs propõem assumir o mesmo rigor que assumem com os discursos unicamente verbais com esse novo objeto. Este número espera contar com reflexões que contribuam para o dimensionamento, leitura e análise do discurso verbo-visual. Os artigos aprovados para este número serão reenviados aos autores para que providenciem a versão em inglês. Desde o número 7, Bakhtiniana é bilíngue.

Solicitamos que os autores leiam cuidadosamente as orientações das Normas de Submissão em http://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/about/submissions

Prazo limite para submissão dos originais: 15 de fevereiro de 2013.

Chamada: Bakhtiniana - Volume 8/Número 1 - a ser publicada em junho de 2013 Tema: A PRODUTIVIDADE DOS CONCEITOS DE DIALOGISMO E POLIFONIA NOS ESTUDOS DA LINGUAGEM

Considerando que esses dois conceitos têm grande abrangência teórica e implicam controvérsias no que se refere à mobilização em análises de textos e discursos, este número espera contar com reflexões que contribuam para o dimensionamento da produtividade de ambos nos estudos da linguagem.
Os artigos aprovados para este número serão reenviados aos autores para que providenciem a versão em inglês. Desde o número 7, Bakhtiniana é bilíngue.

Solicitamos que os autores leiam cuidadosamente as orientações das Normas de Submissão em http://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/about/submissions

Prazo limite para submissão dos originais: 15 de fevereiro de 2013.

VIII CONGRESSO INTERNACIONAL E XXI INSTITUTO DA ABRALIN



Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) e o Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) têm o prazer de anunciar o VIII CONGRESSO INTERNACIONAL e o XXI INSTITUTO DA ABRALIN, a realizar-se no período de 28 de janeiro a 06 de fevereiro de 2013, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Serão aceitas inscrições para comunicações orais em Grupos Temáticos, apresentação de pôsteres e inscrição em minicursos. Informações sobre o evento no site www.abralin.org.

Normas para inscrição na ABRALIN/2013:
  • As inscrições para participação no VIII Congresso Internacional da ABRALIN, em todas as modalidades, serão feitas exclusivamente pelo site www.abralin.org.
  • Somente os sócios da ABRALIN podem apresentar comunicação oral nos Grupos Temáticos. Os alunos de graduação, que só podem apresentar trabalhos na modalidade pôster, não precisam se associar.
  • Para se inscrever em minicursos, o participante não precisa ser sócio da ABRALIN.
  • Para se inscrever, os associados precisam estar em dia com a anuidade de 2012.
  • Todos os pagamentos deverão ser efetuados através do site da ABRALIN.
  • Todos os participantes poderão inscrever,no máximo, duas propostas de trabalho – em duas modalidades distintas (pôster e comunicação oral) ou em uma mesma modalidade –, independentemente do fato de ser autor ou coautor. Importante considerar que aluno de graduação poderá apresentar apenas pôster.
  • Trabalhos em coautoria: para cada proposta de trabalho submetida APENAS o primeiro autor deverá enviar o resumo. Os coautores (no máximo no número de 4) devem estar inscritos no Congresso e efetuar o pagamento da inscrição referente a sua categoria.
  • Contatos para esclarecimentos sobre inscrição poderão ser feitos através do endereço eletrônicoabralinrn@gmail.com, disponibilizado na página da ABRALIN.
Prazos e Valores
* Obs.: Os valores serão convertidos para Real no momento do pagamento.

LEITURAS: VIVÊNCIAS COM O ENSINO FUNDAMENTAL


Maria de Fátima Almeida (UFPB)
                                                                              falmed@uol.com.br
1.      INTRODUÇÃO
            Apresentamos uma experiência do projeto Formação docente: uma proposta dialógica de leitura, mostrando práticas leitoras desenvolvidas com professores do ensino fundamental em escolas públicas em João Pessoa. Fundamentamo-nos na concepção dialógica de linguagem de Bakhtin (2004) e no aporte teórico-metodológico da Educação Básica voltada para o ensino e aprendizagem da leitura. O eixo central das reflexões concentra-se na formação continuada de professores, destacando a importância de os professores manterem-se informados e sempre atualizados para o exercício profissional. Articulam-se ações que integram docentes e discentes de diferentes áreas do conhecimento, compartilhando e interagindo os diversos saberes. A metodologia aplicada permite aos educadores utilizarem diversas modalidades e estratégicas pedagógicas de ler para dinamização da sala de aula de diferentes escolas. Sugerimos que a formação continuada de docentes do ensino fundamental deva ser executada a partir de um conjunto de estratégias compostas por cursos, oficinas, palestras, seminários temáticos e de avaliação. Os resultados sugerem o trabalho com linguagem e não apenas com língua, pois abrange aspectos lingüísticos e não lingüísticos bem como o contexto sócio-histórico. Esperamos contribuir não só com a formação de educadores capazes de atuar nas escolas, mas também que formem outros membros da comunidade para uma educação cidadã. A sociedade atual carece de bons profissionais e de indivíduos competentes para um mundo melhor e mais educado. Concluímos que a formação docente na perspectiva do dialogismo bakhtiniano produz  leitores críticos e criativos para a sociedade globalizada. Faz-se necessário uma formação permanente de estudos para acompanhamento e atualização dos educadores de todos os níveis.

2.      A  ABORDAGEM TEÓRICA
A abordagem teórica é constituída pela orientação dialógica da linguagem, pautada em Bakhtin (1929/1981 e 1992), em François (1996/1998/2000) e pelas teorias sobre os gêneros discursivos e as do ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. Abordamos, também, a importante contribuição de Paulo Freire (1982b) ao afirmar que o processo de compreensão crítica do ato de ler não se esgota na decodificação pura e simples da palavra ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se amplia na compreensão do mundo do leitor. A concepção dialógica de Bakhtin (1929) é a contribuição maior para as mudanças que se desenvolvem, atualmente, nos diversos domínios de estudo da linguagem. A posição desse autor contra os partidários das tendências linguístico-filosóficas coloca em evidência, também, o comportamento dos interlocutores na interação. Na visão dialógica, o locutor constrói seu enunciado em função do interlocutor, que tem um papel ativo constitutivo na formulação dos enunciados. Visivelmente, é o outro (interlocutor) quem condiciona o que o locutor diz e, desse modo, ambos são colocados no mesmo plano. A contribuição da perspectiva bakhtiniana para o ensino tem avançado e revelado a necessidade do trabalho com a linguagem na escola.
Para este estudo, fundamentamo-nos na concepção de linguagem de Bakhtin/Volochinov (1929/1981) e Bakhtin (1992) para quem a linguagem é interação que só existe na reciprocidade do diálogo e, que se caracteriza pela diversidade de movimentos e modos de significar. A teoria dialógica da linguagem que fundamentará a análise das práticas leitoras postula que linguagem é fenômeno heterogêneo, vivo, variável e flexível, sempre situada num contexto sócio-histórico. A leitura é atividade multifacetada, que se realiza pela interação do autor/leitor/texto ou autor/professor/aluno/texto, no contexto de sala de aula.  Desse modo caracterizada a leitura permite visualizar suas modalidades ou estratégias reveladas pelos movimentos e papéis do sujeito no processo de construção de sentido, no espaço escolar.
Nessa perspectiva, mostramos que a leitura é interação e compreensão responsiva, que a produção de sentido resulta das múltiplas formas de ver e de ser do sujeito leitor no mundo e não apenas das formas da língua. Tal como afirma Brandão (1997), na leitura, o leitor se situa entre a disseminação dos sentidos (a polissemia) e as coerções, os artefatos que organizam o texto. Consideramos que a prática de leitura no processo dialógico é capaz de minimizar as dificuldades do ensino e aprendizagem, decorrentes de várias falhas na formação do educador e do aluno leitor, dentre elas: a falta de condição para a produção da leitura e de acesso às novas teorias lingüísticas, acerca do funcionamento da linguagem; da falta de aquisição de livros e de participação em eventos culturais que lhe propiciem uma melhor formação; o não prazer pela leitura por não a experimentarem desde cedo, tendo os primeiros contatos na escola.
               Essa é uma proposta interdisciplinar voltada para a formação e o letramento docente, mais particularmente comprometido com a ampliação das competências técnico-científicas e metodológicas do docente para trabalhar as noções de linguagem, de leitura, de texto, de gênero textual, de letramento e outras indispensáveis à sua formação e atuação nos nível Fundamental de Ensino.  Outro fator relevante é articular teoria e prática e possibilitar a integração dos alunos dos cursos de Letras e professores de língua portuguesa da rede pública de ensino das áreas atendidas, assim como visar à melhoria do ensino de língua portuguesa nas escolas públicas do Estado da Paraíba.

3.  A ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE PEDAGÓGICA

              A experiência está dividida em diversas modalidades práticas e teve maior visibilidade articulada a projetos de extensão, em que foram realizadas leituras dos textos teóricos sobe a literatura e usados para embasar as atividades e oficinas aplicadas na escola, assim como participação em encontros periódicos para as discussões e debates dos textos e para esclarecimentos de dúvidas. Outro momento importante foi a elaboração do material didático para as oficinas, confecção de slides e seleção de gêneros para as atividades dinâmicas e interativas que foram aplicadas aos professores e alunos de uma escola da rede pública de Ensino Fundamental da cidade de João Pessoa. Destacamos as pesquisas relativas à descrição do português e às metodologias alternativas para a otimização da prática pedagógica no Ensino Fundamental. Ao final, houve um tempo especial para a divulgação, socialização e exposição do material produzido, em eventos que participamos  na escola, através  das oficinas mostrando os resultados obtidos.

4.      VIVÊNCIAS COM A LEITURA E A ESCRITA
           
             As principais atividades foram desenvolvidas pela bolsista e se apresentam da seguinte maneira: oficinas pedagógicas de leitura e escrita, realização de dinâmicas, exposição dos pressupostos linguísticos e pedagógicos que fundamentam os conteúdos trabalhados nas oficinas, elaboração de material e leituras de textos; socialização e exposição do material produzido; participação em eventos (XIII Encontro de Extensão/SECITEAC e I Seminário de Extensão do CCHLA: o pensar e o fazer extensionista); divulgação do projeto e dos resultados. 

Tomamos como exemplo a oficina realizada na sala de informática e áudio visual de uma escola do ensino fundamental. As estratégias usadas para a elaboração e aplicação da oficina de leitura e escrita foram divididas em seis passos específicos.

No primeiro passo foram discutidos os procedimentos das atividades a serem desenvolvidas. Durante a apresentação foram introduzidos, inicialmente, os objetivos da oficina, para que os participantes conhecessem e percebessem a importância dos gêneros textuais que estavam sendo usados.
Apesar dos docentes estarem em contato com os gêneros textuais, eles desconhecem, quase sempre, a importância desses textos dentro da sociedade. Assim, levá-los a conhecer diferentes gêneros textuais, promoverá uma reflexão sobre a função social que eles exercem na vida das crianças e jovens e na constituição do leitor enquanto ser humano.

No segundo passo foi realizada uma dinâmica. Nela foram usadas duas caixas com objetos dentro para que os alunos, somente, através do toque com as mãos, descobrissem quais eram os objetos. Fez necessário que os participantes, envolvidos na atividade, pudessem explicitar para seus colegas os procedimentos que utilizaram para identificar e atribuir “sentidos”, como e por quais pistas foi possível realizar inferências e fazer antecipações. No jogo de construir sentido, afirma Bakhtin (1981), “a linguagem e a leitura são processos de interação e na construção do sentido cruzam-se o dito e o não-dito, os implícitos e os entornos que circulam nas atividades comunicativas”. Esta dinâmica, posteriormente, foi relacionada com as leituras de diferentes gêneros textuais, assim como proporcionou a participação ativa dos envolvidos na atividade.
No terceiro passo – a estratégia didática – foi feita a leitura de um gênero textual (conto) para o trabalho de formação de leitores. O conto é um ensinamento que versa sobre a verdade da vida, ou seja, a postura que cada indivíduo assume para julgar algo e chegar a uma determinada verdade. Se julga cegamente ou procura ouvir todos os lados. A aprendizagem de leitura assumiu uma função social de resgate de cidadania, uma vez que possibilitou aos leitores conhecer, refletir e atuar sobre uma dada realidade.


No quarto passo, após a leitura do conto, foram feitos questionamentos acerca de quais pistas possibilitaram a atribuição de determinados sentidos ao texto. Os questionamentos foram direcionados às vivências, experiências e conhecimentos de mundo dos participantes e os levaram a compreender a melhor maneira de como os textos devem ser interrogados e diferenciados entre realidade ou ficção, ajudaram na identificação de recursos persuasivos, assim como a interpretação dos sentidos figurados e a identificação de quais seriam os verdadeiros temas e a intenções dos locutores. Segundo afirma Paulo Freire ((1982b), “o processo de compreensão crítica do ato de ler não se esgota na decodificação pura e simples da palavra ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se amplia na compreensão do mundo”.
            No quinto passo foi feita uma leitura colaborativa de um outro tipo de gênero – poema. Esse texto foi usado como referencial para que se percebesse como um único tema surge e é possível e realizável em diferentes gêneros textuais, de diferentes formas de leituras e pode ser relacionado à vida de cada indivíduo.

No último passo foi solicitada uma produção textual de escrita. Nessa produção, os participantes se transformaram em personagens do conto e deram suas opiniões acerca das suas “verdades”. Na concepção dialógica de Bakhtin (1929), o comportamento dos interlocutores na interação é colocado em evidência, pois “o locutor constrói seu enunciado em função do interlocutor, que tem um papel ativo constitutivo na formulação dos enunciados”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As conclusões apontam que as atividades desenvolvidas direcionaram o público-alvo à compreensão das especificidades, dos elementos constitutivos e da função social dos gêneros textuais, assim como trabalhar as noções de texto, de leitura, de letramento e ampliar as competências metodológicas dos docentes, indispensáveis à sua formação e atuação no nível Fundamental de Ensino. Apesar dos docentes estarem em contato com os gêneros textuais, eles desconhecem a importância desses textos dentro da sociedade. Sendo assim, levá-los a conhecer os diferentes tipos de gêneros, promoveu uma reflexão sobre a função social que os textos exercem na vida das crianças e jovens, na constituição do leitor enquanto ser humano e serviu como expedientes ao ensino das boas maneiras, dos bons hábitos, dos deveres e direitos dos cidadãos, dos sentidos e multiplicidades do mundo, dos valores e da moral, entre outros.
 Portanto, os participantes tiveram contato com diferentes tipos de leitura, compreenderam o funcionamento dos gêneros textuais, suas funções e seus formatos, desenvolveram a capacidade de reflexão sobre os aspectos específicos de cada gênero textual usado nas oficinas, participaram da interação professor/aluno/texto no processo de ensino e aprendizagem, promoveram a discussão acerca dos textos e das produções textuais de leitura e escrita.
               Ao término das oficinas, os participantes compreenderam como os gêneros textuais podem ser reescritos e se relacionarem com outros textos e outros discursos. Perceberam que ao “sair do texto”, ou seja, ao procurar estabelecer relações com a realidade, encontram outras “chaves” de leitura contidas em valores ideológicos, históricos, culturais, inerentes aos discursos.
               Este projeto não busca somente uma proposta de formação de professores para trazer melhorias para a qualidade do ensino, mas apresenta os fundamentos necessários à compreensão da linguagem, gêneros textuais, ensino, leitura e escrita e contribui para o desenvolvimento da atitude crítica necessária ao desenvolvimento do conhecimento sobre o ensino de língua portuguesa e a integração com o sistema de ensino oficial. Portanto, a avaliação constante de todos os projetos vem permitindo que as ações ou mudanças de atitudes com relação ao ensino da língua portuguesa, particularmente ao ensino do processo de leitura e de escrita comprovem os resultados concretos, até então alcançados.
               As teorias usadas para embasar este projeto são importantes para o aprofundamento da área temática principal da ação e oferece possibilidades para estudantes universitários e pesquisadores, de realizar, planejar e desenvolver as próprias pesquisas na graduação e pós-graduação, utilizando-se do rigor necessário à produção de conhecimentos nessa área. É de grande auxílio, principalmente, àqueles que desenvolvem trabalhos acadêmicos no campo do ensino de língua portuguesa. O assunto sobre esse ensino é instigante e vasto, podendo ser trabalhado a partir de novas hipóteses que não foram desenvolvidos mais detalhadamente e foram deixadas como provocações e estímulo a quem se interessar a continuar na linha de Pesquisa, Ensino e Extensão.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 35. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. 276 p.
ANTUNES, Irandé. Aulas de português. São Paulo: Parábola Editorial, 2003
______. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981.
_____. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BEZERRA, Maria Auxiliadora; DIONISIO, Angela Paiva (Orgs.) O livro didático de português. 2.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
BRAIT, Beth (Org.) Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
_____ (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido.Campinas: Ed UNICAMP, 1997.
BRANDÃO, Helena Nagamine (Org.). Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político. São Paulo: Cortez, 2000.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998.
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Glossário Bakhtin

Bakhtin desenvolve a noção de acabamento ao analisar a relação entre autor e personagem e a criação dessa última. Ao pensarmos na noção de acabamento, há que se dizer, antes de mais nada, que se trata de uma especificidade estética (relacionado ao mundo artístico): não é nem ética (relacionado ao mundo da vida), nem cognitiva (relacionado ao psíquico), embora não se possa desconsiderar uma imbricação de elementos ativos éticocognitivo-estéticos. No plano artístico, elementos da vida são reorganizados de modo a compor uma nova unidade, da qual o próprio “autor -criador” aparece como sendo ao mesmo tempo um elemento constituinte e organizador. O autor aparece como a apropriação de uma voz social que ordena o todo estético e essa ordenação é sempre um “ato valorativo”, mas ela só se realiza porque a ele é conferida ao mesmo tempo uma posição privilegiada em relação ao seu herói e seu mundo: uma posição exterior. No plano da vida (o plano ético), somente um excedente de visão permite completar um indivíduo “naqueles elementos em que ele não pode completar-se.” Eu não posso, ao contemplar-me, realizar um acabamento de mim, pois não me é possível abarcar todos os elementos plásticos e picturais, isto é, o horizonte atrás de mim e a minha própria imagem externa, nem expressividades volitivoemocionais que constituirão um todo. E também porque essa minha autocontemplação se realiza na linguagem das minhas auto-sensações internas; em outras palavra s, seria demasiadamente subjetiva. Deste modo, o acabamento que o outro me dá, e que só é possível a ele pela posição que ocupa em relação a mim, é uma conferência de valores aos elementos (que me completam) que me são inacessíveis e transgredientes. Como vivo em sociedade, com outro s, este acabamento é provisório até o encontro com outra alteridade.

Interioridade, imediatidade. Nas palavra s de Bakhtin “sou o único em toda existência a ser eu-para-mim”. A alma é a percepção que o eu tem de si mesmo. Sou o único na face da Terra que posso tornar-me objeto de análise, para além do sentido empírico. Posso sentir-me em pensamento. A alma é a experiência de si. Diferente é a experiência do outro. O meu horizonte nunca se coincide com o horizonte daquele que contemplo à minha frente. Assim como dois seres não compartilham o mesmo lugar no espaço, não compartilham também a mesma alma. Sempre devemos voltar a nós mesmos quando de alguma forma participamos da alma do outro . Se não houver essa volta a nós mesmos, caímos em uma patologia que não gera nada, pois “sentiremos a dor do outro como nossa e nada mais”. O outro é um corpo que não responde as nossas vontades imediatas. Sua interioridade não nos pertence. Não conseguimos sentir em nossa pele o arrepio da pele do outro , nem conseguimos compartilhar os pensamentos do outro. Essas experiências são próprias da alma de cada um. A alma é o que é inerente a si mesmo, ou, é tudo aquilo 
que do outro nos escapa. Nossa alma tem seus limites, “é o todo fechado da vida interior, o qual é igual a si mesmo, coincide consigo mesmo e postula o ativismo amoroso distanciado do outro. A alma é uma dádiva do meu espírito ao outro ”. Só podemos abraçar o outro para nos sentirmos realmente abraçados: Minha imediatidade, minha alma, não me permite um “auto abraço” emotivovalorativo, só físico. A alma é um aqui, o outro é um ali. Essa sensação, essa impossibilidade de sentir-se outro , mas só a si mesmo, caracteriza a presença de nossa interioridade. Jamais vou conseguir me alojar por inteiro em qualquer objeto, pois “excedo qualquer objeto como seu sujeito ativo”.

Para Bakhtin, é na relação com a alteridade que os indivíduos se constituem. O ser se reflete no outro, refrata-se. A partir do momento em que o indivíduo se constitui, ele também se altera, constantemente. E esse processo não surge de sua própria consciência, é algo que se consolida socialmente, através das interações, das palavras, dos signos. Constituímos-nos e nos transformamos sempre através do outro . É isso também que move a língua . “Toda refração ideológica do ser em processo de formação, seja qual for a natureza de seu material significante, é acompanhada de uma refração ideológica verbal, como fenômeno obrigatoriamente concomitante.” Nos atos de interpretação e compreensão, a palavra alheia se faz sempre presente. Na filosofia de Bakhtin, a noção de alteridade se relaciona com pluralidade, heteroglossia, polissemia, muitas vozes, ideologia. Em “Estética da Criação Verbal”, Bakhtin afirma que “é impossível alguém defender sua posição sem correlacioná-la a outras posições”, o que nos faz refletir sobre o processo de construção da identidade do sujeito, cujos pensamentos, opiniões, visões de mundo, consciência etc. se constituem e se elaboram a partir de relações dialógicas e valorativas com outros sujeitos, opiniões e dizeres. A alteridade é fundamento da identidade.

 Para entender as considerações sobre arquitetônica, contidas em “O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária” (“Questões de literatura e estética”), devemos levar em conta algumas considerações de “O autor e o herói ” (“Estética da criação verbal”). O conceito de arquitetônica presente, inicialmente, em “Arte e Responsabilidade ”, vincula-se às considerações feitas pelo filósofo russo acerca da relação entre arte e vida e da noção de responsabilidade. A  arquitetônica é a construção ou estruturação do discurso – sempre relativamente estável -, que une e integra o material, a forma e o conteúdo. De acordo com Bakhtin, a arquitetônica da visão artística organiza tanto o espaço e o tempo quanto o sentido. Um todo arquitetônico é imbuído da unidade advinda do sentido. O “todo” tem relação com o acabamento , que se vincula ao excedente de visão como elemento constitutivo basal tanto da interação quanto da atividade autoral. As formas arquitetônicas (visão artística e processo de acabamento ) determinam os procedimentos estéticos externos (as formas de composição): a ordem, a disposição, o acabamento. Assim, a forma arquitetônica é a concepção da obra como objeto estético. A forma composicional, por sua vez, é o modo específico de estruturação da obra externa a partir de sua concepção arquitetônica. O momento arquitetônico, do objeto estético, poderia ser comparado à formação do gênero, enquanto que o momento composicional, da obra material, poderia ser pensado como a textualização do gênero concebido. Em suma, podemos dizer que a arquitetônica é a criação de um todo integrado. Diz-se, também, de uma arquitetônica do pensamento bakhtiniano, que defende que as categorias desenvolvidas em seus estudos devem ser compreendidas em diálogo.

Dado que a consciência adquire forma e existência no signo ideológico, qualquer reflexão ou tomada de consciência não dispensa a expressão exterior e tampouco pode dispensar a elaboração ideológica. Por isso, seja qual for a direção inflexiva da experiência, toda atividade mental, enquanto discurso interior, somente pode realizar-se a partir de uma orientação social. A atividade mental do eu e a atividade mental do nós são os dois limites dentro dos quais se realiza a elaboração  ideológica; os distintos graus na consciência, na clareza e na diferenciação da orientação social da experiência mental. A “atividade mental do eu” tende para a auto-eliminação; ela constitui o nível inferior da “ideologia do cotidiano”, e quanto mais próxima de seu limite, mais distante fica de uma forma acabada. Isto é, quanto menos dotada de um auditório social , menos dotada será de uma representação verbal e uma modelagem ideológica. Sua atividade está diretamente ligada ao grau de orientação social, e se não se enraíza socialmente, fenece e perde sua clareza e modelagem ideológica. Já a “atividade mental do nós”, pelo contrário, constitui um nível superior na “ideologia do cotidiano”, que está diretamente vinculada à firmeza e à estabilidade da orientação social. Quanto mais próxima de seu limite, mais distinta e definida será essa atividade mental . Tal vínculo é de grande importância, pois quanto “mais forte, mais bem organizada e diferenciada for a coletividade no interior da qual o indivíduo se orienta, mais distinto e complexo será o seu mundo interior”; a atividade mental deve buscar construir vínculos materiais objetivos sólidos com seu grupo organizado, pois isso favorece a constituição de um “terreno mais favorável para um desenvolvimento nítido e ideologicamente bem formado”; e “quanto mais acultura do for o indivíduo, mais o auditório social se aproximará do auditório médio da criação ideológica”.

“O autor é o agente da unidade tensamente ativa do todo acabado, do todo da personagem e do todo da obra, e este é transgrediente a cada elemento particular desta.” Bakhtin, em “O Autor e o Herói” (O autor e a personagem), ao conferir ao autor o caráter de unidade, o coloca em relação dialógica (de responsividade ) com todos os aspectos de sua obra. Por ter um excedente de visão específico e uma memória de futuro específica em relação a sua obra, o autor possui um domínio do todo acabado dessa obra, ao mesmo tempo em que esse domínio responde ao todo de cada uma das unidades também tensamente ativas que fazem parte da obra. A relação de responsividade entre o autor e os elementos da obra, principalmente o herói , possibilitou o desenvolvimento da noção de equipolência de vozes, fundamentando a tese de Bakhtin sobre o romance polifônico de Dostoievski, relativizando o domínio do autor em relação ao todo acabado da obra. Mesmo assim, Bakhtin enfatiza que o autor se orienta no mundo Estético e o herói “vive de modo cognitivo e ético. Seu ato se orienta em um acontecimento aberto e ético da vida ou no mundo dado do conhecimento”. Em contraponto ao formalismo, Bakhtin irá defender que para encontrarmos o autor de uma obra não é suficiente buscarmos na vida do autor acontecimento s que se liguem de forma mecânica a um ou outro elemento da obra, mas atentar para todos os elementos presentes na obra em relação com a unidade tensa e ativa do todo da obra, unidade da qual é agente o autor. O autor “é participante do acontecimento artístico”. E nem há uma passagem mecânica de pontos de vista e da vida do autor-pessoa para os trabalhos estéticos do autor. Para haver acontecimento estético é preciso haver transgrediência, é necessário haver duas consciências que não coincidem; caso contrário estamos diante de acontecimentos éticos [quando a personagem e o autor coincidem ou estão lado a lado diante de um valor comum ou frente a frente como inimigos, o que se dá no panfleto, no manifesto, no discurso-acusatório etc], ou acontecimentos cognitivos [um tratado, um artigo, uma conferência], ou até mesmo acontecimentos religiosos [a outra consciência é uma consciência englobante].

Esse conceito nos remete de imediato ao signo carnaval. Porém, é necessário esclarecer que, dentro da arquitetônica bakhtiniana, este signo possui um significado diferente do que a maioria das pessoas entende, atualmente, por carnaval, ou seja, um espetáculo de desfiles que acontece em um local fechado para um público restrito assistir ou ver por televisão. Bakhtin considera o carnaval como festa popular universal que se passa no espaço público aberto da cidade (ruas, praças), como momento de liberação das relações hierárquicas de poder, êxtase do ser, rompimento de regras e tabus, sem privilégios e assimetrias, apontando para um tempo futuro incompleto, de renovações. A lógica desse carnaval dionisíaco é a do “homo demens” que o transforma no “lócus” privilegiado da inversão, da ridicularização e da desobediência a tudo que seja oficial. A essa visão ativa e dinâmica do carnaval, que é uma forma alternativa e alegre de relativizar as verdades e o poder, podemos denominar carnavalização . Seu traço principal é o avesso que se pode evidenciar com permutações entre o alto (cabeça, face = espírito, dignidade, sagrado, puro) e o baixo (traseiro, genitais = obsceno, profano, sujo). Esses traços se evidenciam no que Bakhtin chama de corpo grotesco que está em constante movimento em torno do cosmos e seus quatro elementos: água, ar, terra e fogo. Estes elementos, submetidos às leis cósmicas, anunciam nascimento e morte de todas as coisas da terra. Ao contrário do corpo estético padrão do “homo sapiens” apolíneo, o corpo grotesco não coloca a sexualidade como “raison d’être” da existência humana, uma vez que os verbos utilizados para caracterizá-lo estão no mesmo eixo sintagmático, sem hierarquias. Desse modo, urinar, arrotar, trepar, comer, beber, cuspir, defecar etc. nos remetem a travessuras e diabruras típicas do carnaval, o que nos permite estabelecer um diálogo com o outro por meio do: a) livre contato – não há diferença entre classes sociais, pois no espaço aberto da rua e praças todos podem brincar, pular, dançar como desejam. Todas as fantasias são permitidas. Por exemplo, um homem do campo pode sair vestido de rei, uma senhora rica pode fantasiar-se de prostituta, homens se vestem de mulheres. A paródia entra como elemento essencial para separar a barreira entre o cotidiano e o privado; b) da excentricidade – violam o que é comum e deslocam a vida ao colocar, por exemplo, bolas de futebol para aumentar as nádegas ou formar os seios, o que provoca o riso indicando a mudança de poderes, de verdades, renovação; c) das “mésalliances” - aqui se dá a união de algo considerado superior (rei - oficial) com outro de valor inferior (escravo – nãooficial). As Saturnais, festa da Roma antiga, nos serve para ilustrar o que seria a união entre o oficial sério e o nãooficial do riso. Nesta festa os escravos sentavam-se à mesa e eram servidos pelos seus senhores, o que lhes conferia um poder efêmero, paródico, invertendo a ordem social; d) da profanação - o religioso é parodiado, profanado quando, por exemplo, usam-se elementos ou hierarquias da igreja, considerados sagrados, nas ruas e praças durante o carnaval: freiras grávidas, padres bêbados. Tais categorias carnavalescas apontam para a morte do velho e o nascimento do novo que, mesmo que seja de forma simbólica, nos remetem a um mundo utópico, sem privilégio do individual, sem hierarquias fechadas de valores, fenômenos e ideologias que imperam na vida extracarnavalesca. 

Bakhtin trabalha com esta categoria para mostrar que sempre quando falamos ou ouvimos, produzimos enunciados que respondem ao nosso interlocutor. Enquanto ouvimos, também falamos. Ouvir e falar são movimentos de uma mesma atividade. Desta forma, nossas respostas são formuladas a partir da nossa relação com a alteridade, ou seja, são contrapalavra s às palavra s do outro. Troco signos alheios por signos próprios. Desta forma é que construo a compreensão . Compreensão ativa e responsiva. É importante ressaltar também que a contrapalavra, assim como a palavra , está estritamente associada ao tema da interação - aos sentidos que são construídos na interação com outro, e à entonação escolhida para a enunciação . Não é possível compreender a palavra do outro arrancando a palavra da corrente da comunicação verbal. Pensando assim, a palavra já é alheia mesmo ainda não tendo sido incorporada pelo outro .
Para Bakhtin, o homem constrói sua existência dentro das condições sócio-econômicas objetivas de uma sociedade. Somente como membro de um grupo social, de uma classe social é que o indivíduo ascende a uma realidade histórica e a uma produtividade cultural . O nascimento físico não é uma condição suficiente para o homem ingressar na história, pois o animal também nasce fisicamente e não entra na história. “Portanto, é necessário, um segundo nascimento, um nascimento social , o qual se dá através de cada fenômeno da cultura que é concreto e sistemático, ocupa uma posição substancial qualquer em relação à realidade preexistente de outras atitudes cultura is e por isso mesmo participa da unidade cultura l prescrita”. O domínio da cultura não é uma entidade espacial qualquer. Todo ato cultural vive por essência sobre fronteiras, sem estas ele perde terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera e morre. Enfim, deve-se dizer que nem um ato vive nem se movimenta no vazio, mas na atmosfera valorizante, tensa, em um mundo vivo e também significante, assim proporcionando e proporcionado pela cultura em determinado tempo e espaço. 

Conceito da dialética do movimento, da dialética que não exclui, que não exauri a essência da linguagem: o diálogo Eu/Outro. Dialogia é atividade do diálogo e atividade dinâmica entre EU e Outro em um território preciso socialmente organizado em interação linguística. Seria uma dialética que explica o homem pela produção do diálogo , pela atividade humana da linguagem . As ideias de Bakhtin sobre o homem e a vida são caracterizadas pelo princípio dialógico. A alteridade marca o ser humano, pois o outro é imprescindível para sua constituição. A dialogia é o confronto das entoações e dos sistemas de valores que posicionam as mais variadas visões de mundo dentro de um campo de visão: “na vida agimos assim, julgando-nos do ponto de vista dos outro s, tentando compreender, levar em conta o que é transcendente à nossa própria consciência: assim levamos em conta o valor conferido ao nosso aspecto em função da impressão que ele pode causar em outrem [...]”. Ainda na mesa direção, “A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo : interrogar, ouvir, responder, concordar etc. Nesse diálogo o homem participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra , e essa palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal” (ano, p.). No movimento dialógico, Bakhtin vê três tipos de relações: a) as relações entre os objetos (entre coisas, entre fenômenos físicos, químicos; relações causais, relações matemáticas, lógicas, relações linguísticas etc; b) relações entre o sujeito e o objeto; c) relações entre sujeito s (relações pessoais, personalistas;  relações dialógicas entre enunciado s, relações éticas; relações entre consciências, verdades, influências mútuas, o amor, o ódio, a mentira, o respeito, a confiança, a desconfiança etc.). Na dialogia as vozes estão presentes, as entonações (pessoais – emocionais) são fundamentais, valoram e ideologizam, as palavra s e as réplicas são vivas, e as consciências estão em interação . Ao apagar isso tudo, temos a dialética . Pergunta e resposta não estabelecem relações lógicas, pois não podem caber em uma só consciência; elas supõem uma distância recíproca, exigem o diálogo.

Processo de interação Eu - Outro. O Eu existe em interação com o Outro , porque “ser significa ser para o outro e, através dele, para si mesmo”. Diferencia-se da dialética hegeliana, em que o Eu é a negação do Outro, já que o Ser depende do não-Ser, para constituir-se como Ser criando apenas diálogo s sintéticos e lógicos. Na dialética para Bakhtin, o Eu não apenas nega, mas, exige a presença do Outro para a constituição do EU. O Eu necessita estética e eticamente do Outro , sendo que a interação é variável de acordo com a situação, o espaço, o tempo (cronotopo) e o modo como as partes se relacionam gerando movimentos – dialogia . Bakhtin vai paulatinamente optando pelo conceito de dialogia e diálogo , pois para ele a dialética trabalha com conceitos e juízos abstratos, aceita uma consciência abstrata, transforma enunciado s em orações, transforma entonações pessoais e emotivas em sons sem relações; não exige contrapalavras , anula os inter-agentes. A dialética trata doproblema da inter-relação semântica, e é teorética,  enquanto que a dialogia é vivencial.

Bakhtin demonstra que a “dinâmica psíquica” elaborada pela psicanálise como a luta de forças psíquicas na relação entre consciência e inconsciente é uma noção arbitrária que transfere para a alma individual a complexidade do jogo social em que o indivíduo se constitui. Para Bakhtin essa relação se dá entre consciência oficial e consciência não oficial , sendo os conflitos entre motivos reflexo das inter-relações sociais e, portanto, como fenômenos da experiência objetiva, ideológicos. O conflito entre motivos, em verdade, revela a luta entre correntes ideológicas contraditórias que se desencadeia no terreno da ideologia do cotidiano (do discurso interior e exterior), de modo que a consciência não oficial (o inconsciente da psicanálise) corresponde às camadas mais instáveis dessa ideologia, as que se encontram mais distantes da ideologia oficial. Já a consciência oficial corresponde às camadas superiores, mais estáveis, próximas da ideologia oficial e enformada. Portanto, a compreensão do comportamento e do enunciado verbalizado do homem a partir de uma “dinâmica psíquica” que se dá por um conflito entre motivos subjetivos se mostra como apenas mais uma expressão de uma visão psicologizante ou de um subjetivismo idealista. 

Este termo é trabalhado por Bakhtin, mais incisivamente nos capítulos 9 e 10 do livro “Marxismo e Filosofia da Linguagem”. Nestes capítulos, Bakhtin desenvolve suas teorias sobre linguagem a partir de exemplos concretos da utilização do discurso citado (discurso de outrem) no decorrer dos últimos séculos na literatura, que desemboca em uma análise mais específica desenvolvida no capítulo 11 do mesmo livro. Tomando as palavra s do próprio Bakhtin, percebemos um direcionamento claro da discussão do Círculo com relação ao discurso de outrem: “O discurso citado é o discurso no discurso, a enunciação na enunciação, mas é, ao mesmo tempo, um discurso sobre o discurso, uma enunciação sobre a enunciação (...) o discurso citado conserva sua autonomia estrutural e semântica sem nem por isso alterar a trama linguística do contexto que o integrou”. Com isso, Bakhtin defende que o “contexto narrativo” (ou contexto de transmissão) e o discurso citado propriamente dito, incluído neste contexto, fazem parte de uma “inter-relação dinâmica”, que de certa forma “reflete a dinâmica da inter-relação social dos indivíduos na comunicação ideológica verbal”. Esta relação social entre os sujeito s falantes faz com que haja uma constante interação verbal. Assim, todo discurso concreto presente nas diferentes esferas humanas nunca é totalmente “inédito”, pois traz ecos de outro s discursos, ou seja, discursos de outrem, reorganizados dialogicamente nas falas dos sujeito s, podendo aparecer mais explicitamente marcados pelos recursos linguísticos (utilizados estilisticamente pelos falantes), como no discurso direto, ou de maneira “diluída” e menos marcada, como ocorre no discurso indireto e indireto livre, este, “a forma última de enfraquecimento das fronteiras do discurso citado ”(p.).


Bakhtin sustenta que a unidade real da língua é o enunciado posto em diálogo : “a interação de pelo menos duas enunciações”. Como mundo partilhado, lida-se com o inconcluso, com uma realidade em constante formação. Nesse mundo partilhado, afirma Bakhtin, vive-se “em um mundo de palavras do outro, de tal modo que as complexas relações de reciprocidade com a palavra do outro em todos os campos da cultura e da atividade completam toda a vida do homem”. A alternância dos sujeito s do discurso é uma das características do diálogo , que exige um princípio absoluto e um fim absoluto na ação de cada falante. Essa conclusibilidade específica do diálogo garante a ação responsiva e estabelece relações de pergunta, objeção, aceitação, ordem etc. O diálogo real entre dois falantes é constituído por ao menos dois enunciado s plenos a acabados, e se constitui na forma mais simples e clássica da comunicação discursiva.

Bakhtin vai dizer que, na interação , a forma linguística não tem importância “enquanto sinal estável e sempre igual a si mesmo”. Nesse sentido, no acontecimento das interações atribuem-se sentidos, negociam-se signo s ideologicamente marcados; e estes signos estão impregnados de valores. Dependendo da orientação de sentidos e valores que se responde à alteridade , orienta-se também uma entonação . Ela é considerada elemento expresso do enunciado , ou seja, “a relação subjetiva emocionalmente valorativa do falante com o conteúdo do objeto e do sentido do enunciado ” (“Os gêneros do discurso ”). A entonação registra claramente a presença do outro; por via da entonação , exprimimos um juízo sobre o que estamos simultaneamente transmitindo como informação em uma certa enunciação. É como se uma “mesma” palavra , impregnada de diferentes entonações, atendesse a novas, irrepetíveis e particulares situações. A entonação é a minha presença na palavra, é o modo de passar à palavra o meu ponto de vista, o valor que atribuo àquele pedaço do mundo significado; pela entonação ideologizo a palavra.

Se procurarmos diferenciar enunciado de enunciação , ao levarmos em conta a natureza dialógica da comunicação discursiva, tal diferenciação perde sua importância. Vemos que o enunciado é compreendido como elemento da comunicação em relação indissociável com a vida. Neste sentido, o enunciado concreto é um evento social e não pode ser reduzido a abstrações. Em “Marxismo e filosofia da linguagem” , a palavra enunciação é utilizada muitas vezes como ato de fala. A enunciação concreta é a realização exterior da atividade mental orientada por uma orientação social mais ampla, uma mais imediata e, também, a interação com interlocutores concretos. Em“Os gêneros do discurso”, o enunciado é definido como a  unidade real da comunicação discursiva, diferenciando esta unidade (real) das unidades da língua, como palavras e orações (convencional). Neste texto, Bakhtin discute as três principais peculiaridades do enunciado como unidade real da comunicação discursiva: 1. alternância dos sujeitos falantes; 2. conclusibilidade; 3. escolha de um gênero discursivo . É neste texto também que Bakhtin afirma que “o desconhecimento da natureza do enunciado e a relação diferente com as peculiaridades das diversidades de gêneros do discurso em qualquer campo de  investigação linguística redundam em formalismo e em uma abstração exagerada, deformam a historicidade da investigação, debilitam as relações da língua com a vida”.

Em Bakhtin, a ética é uma preocupação constante. Nossa discussão fundamenta-se, especialmente, em “Para uma filosofia do ato” e “Arte e Responsabilidade”. Nossas reflexões estão calcadas ainda em “Discurso na vida e Discurso na arte”, tanto no que diz respeito à ética quanto à estética, concepções impossíveis de serem pensadas isoladamente. Ato ético refere-se ao processo, ao agir no mundo, à necessidade de ocupar o lugar singular e único no mundo, o que se liga diretamente à realidade . Responsabilidade e responsividade são categorias que se associam ao agir ético do sujeito . Tratar da ética em Bakhtin significa pensar a integralização arquitetônica das dimensões do sujeito humano estudadas pelo Círculo, “na unidade da responsabilidade ”. Responsabilidade de todo e qualquer sujeito humano. Bakhtin afirma que todo discurso é respondível porque todo discurso é dialógico e porque o sujeito responde por seus atos no mundo, porque ele é responsável por eles. O ato respondível corresponde, então, ao ato ético, pois envolve o conteúdo do ato, o seu processo, valorado (avaliado) pelo sujeito com respeito ao seu próprio ato, quando reflete sobre ele e lhe dá um acabamento (estética ). A ética bakhtiniana corresponde ao espaço de decisões cronotópicas no hic et nunc (agora e então) concretos do agir humano. Assim, a ética , para Bakhtin, é um conjunto de obrigações e deveres concretos. O mais fundamental compromisso humano é o ato de pensar, que se põe como uma necessidade ética. Apenas eu, do lugar que ocupo no mundo, consigo dizer o que digo daquele lugar. E minha obrigação é pensar e dizer, já que ninguém mais poderá  ver o mundo como apenas eu vejo. O sujeito é responsável por todos os momentos constituintes de sua vida porque seus atos são éticos. Em outras palavra s, a ética refere-se ao ato de viver uma vida singular, de arriscar, de ousar, de comprometer-se, de assinar responsavelmente seu ponto de vista e seu viver; isso é que é responsabilidade e responsividade imediata do sujeito , parte da vida, portanto. 

Por referir-se, na maior parte de sua obra, ao discurso literário, o estilo está presente em toda a obra de Bakhtin e se apresenta como acabamento estético. Estilo, em Bakhtin, está intimamente relacionado à composição e ao tema de um texto. É no estudo das formas, das categorias [contextualizadas], que encontramos o estilo : é a maneira do acabamento - essencialmente interlocutivo e dialógico - que nos dá o estilo de um texto e, é a maneira singular com que um autor faz uso dessas categorias, as quais, para Bakhtin, nunca estão divorciadas de definições ideológicas, que possibilita um estilo ao autor . Dessa forma, o estilo traz consigo a avaliação do autor e uma possibilidade de comunhão avaliativa com o interlocutor. Isso significa que o estilo está relacionado a um querer dizer do locutor, que ganha forma, que define seus limites sob as condições de interlocução. Trata-se de um acabamento que é estético e provisório, sempre aberto a novos sentidos por estar submetido a condições sócio-históricas de possibilidade. É preciso levar em conta, para um estudo do estilo em Bakhtin, que as condições de interlocução incluem também o que Bakhtin define como estilo de gênero , que impõe certas constrições ao querer dizer do locutor e à forma como esse querer dizer se manifesta. Por relacionar-se às atividades humanas, a percepção de acabamento [acabamento estético e, portanto, estilístico], em um gênero de discurso, é uma relação entre um “aqui” e um “agora”, pertencentes a uma cadeia infinita de enunciado s que se articulam e que determinam, situada e provisoriamente, as coordenadas genéricas. 

A estética é uma das principais concepções bakhtinianas. Para compreendê-la, precisamos pensá-la em diálogo com a ética . E esses dois conceitos se encontram esparsos, mas sempre presentes ao longo de toda a obra de Bakhtin. Para tratar da estética, embasamo-nos, especificamente, nos textos “Estética da Criação Verbal” e “Questões de Literatura e Estética”. A estética aparece como acabamento do agir do sujeito . O ato estético é a valorização, a reflexão elaborada, portanto, com acabamento – e não necessariamente acabada – acerca da ação ética realizada pelo sujeito . A concepção de estética resulta de um processo que busca representar o mundo do ponto de vista da ação exotópica do sujeito (lugar de fora, ainda que um fora relativo, pois uma posição de fronteira, lugar móvel, sem delimitação pré-determinada, de onde o sujeito vê o mundo com certa distância, a fim de transfigurá-lo na construção de seu discurso estético), fundada no social e no histórico. A posição exotópica é a posição a partir da qual é possível o trabalho estético, a ação de construir o objeto estético. O sujeito artista compõe o dizer estético a partir da forma, efetivamente material, e inteiramente realizada no material a ele ligada e, por outro lado, como valor , indo além dos limites da obra como material organizado, como coisa. A obra estética (produto nem sempre acabado, mas sempre com acabamento ) resulta da articulação de vários elementos. A articulação que constitui a composição da obra é definida a partir da potência que é sua arquitetônica . Assim, a obra exterior está ligada ao material; enquanto o objeto estético refere-se à forma, tanto de composição (textualização) quanto arquitetônica (criação de um todo integrado). Em outras palavras, a estética é a forma do dizer na arte, a reflexão posterior e exotópica (de fora, distante) do ato, a fim de dar-lhe acabamento.

É a possibilidade que o sujeito tem de ver mais de outro sujeito do que o próprio vê de si mesmo, devido à posição exterior (exotópica) do outro para a constituição de um todo do indivíduo. Nas palavras de Geraldi, o outro tem “uma experiência de mim que eu próprio não tenho, mas que posso, por meu turno, ter a respeito dele.” Bakhtin defende que “o excedente de minha visão, com relação ao outro, instaura uma esfera particular da minha atividade, isto é, um conjunto de atos internos ou externos que só eu posso pré-formar a respeito desse outro e que o completam justamente onde ele não pode completar-se”. Nesse sentido, o excedente de visão só é possível porque há essa possibilidade de se situar fora do outro . É o olhar de fora: “exotopia – no espaço, no tempo, nos valores”. O sujeito olha o outro de um lugar, de um tempo e com valores diferentes; vê nele mais do que o próprio consegue ver. Quando alguém atribui a outro seu excedente de visão , permite-lhe completar-se como sujeito naquilo que sua individualidade não conseguiria sozinha. Ou seja, não conseguimos nos ver por inteiro, totalmente. Precisamos do outro para nos completar. É a exotopia do observador que, possibilitado de ver alguém de fora, constrói um excedente de visão , ou seja, vê no outro algo a mais que o próprio sujeito não vê.

Exotopia e extralocalidade são categorias filosóficas de base sobre as quais Bakhtin desenvolverá as discussões sobre Ética e Estética e, principalmente, suas considerações sobre as relações dialógicas entre o Autor e o Herói, possibilitando o desenvolvimento da idéia de excedente de visão . Bakhtin diz que “em todas as formas estéticas, a força organizadora é a categoria axiológico de outro , é a relação com o outro enriquecida pelo excedente axiológico da visão para o acabamento transgrediente”. Diante do outro, estou fora dele. Não posso viver a vida dele. Da mesma forma que ele não pode viver a minha vida. Mesmo para compreender o outro, vou até ele, mas volto ao meu lugar. Apenas do meu lugar, único, singular, ocupado apenas por mim, é que posso compreender o outro e estabelecer com ele uma inter-ação. A extralocalização é que põe meu compromisso ético na roda. Se outro vivesse minha vida, se pudesse ver o mundo como apenas eu vejo, se tivesse os mesmos pontos de vista que eu, então eu não precisaria pensar, e expressar meu olhar único sobre as coisas e a vida. A exotopia é minha possibilidade de responder. E também é minha obrigação de assumir minha responsabilidade. Ser responsivo e responsável são decorrências de minha extra-localização em relação ao Outro. 

Quando discute a relação entre o romance e a estilística, no capítulo “A estilística contemporânea e o romance” do livro “Questões de literatura e estética”, Bakhtin defende, primeiramente, que o romance, enquanto gênero literário caracterizado pela diversidade social de linguagens esteticamente compondo um todo, envolve a narrativa do autor, a estilização de diversas formas da narrativa tradicionalmente oral, diversas formas literárias fora do discurso literário do autor e os discursos da personagem estilisticamente individualizados. A partir desta compreensão, ele diz que a filosofia da linguagem, a linguística e a estilística, quando refletem sobre a linguagem do romance, variam nas compreensões sobre o sistema da linguagem e o indivíduo que fala nela, mas partem de um conteúdo estabilizado, ora historicamente, ora por meio de problematizações internas da língua. Para Bakhtin, isso é um avanço para os estudos estilísticos, mas é, ao mesmo tempo, uma limitação, pois prioriza uma compreensão compartilhada por um grupo social privilegiado, vinculado a uma visão de mundo considerada dominante. Este tipo de compreensão orienta um olhar para o estilo no romance marcado pela “unificação e a centralização das ideologias verbais”, chamadas por ele de forças centrípetas da vida social, linguística e ideológica. É preciso considerar que, apesar de se constituir como homogênea e centrípeta, esta tendência traz consigo a própria realidade da diversidade estilística, a qual ele chama de plurilinguismo real, considerado por Bakhtin a dinâmica da vida real. Este plurilinguismo ganha força na medida em que se tende a insistir na supervalorização da língua única, o que nos permite entender que, junto com as forças centrípetas, existem as forças centrífugas , configuradas pela tensão e abertura, revelando, ideologicamente, as relações sociais efetivas, relacionadas  à vida. Portanto, para Bakhtin, ao se considerar somente uma dessas forças em uma análise sobre a linguagem, tende-se a uma compreensão monológica do fenômeno estudado, separada da dialogia constitutiva das relações humanas. 

Todo texto participa de uma relação humana, de uma atividade humana. Essa é a proposta bakhtiniana: “Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma língua”. Compreendemos que os trabalhos que se fazem com o conceito de gêneros do discurso estejam imprescindivelmente vinculados ao movimento com uma percepção global da arquitetônica bakhtiniana, em que: 1) Desenvolva a compreensão sobre a TOTALIDADEESTABILIDADE, onda a relativa estabilidade de um gênero estaria relacionada a sua historicidade passada (memória do passado). “Os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros discursivos [...]” são o retrato dos usos já feitos anteriormente, em várias atividades humanas, e são a memória e o acúmulo da história de suas utilizações; assim os enunciados vão se constituindo em tipos e formas mais consistentes para uso em esferas específicas, com estilos específicos, tratando de temas específicos, se compondo com formas específicas. Daí a discussão da relativa estabilidade para esses tipos e formas de enunciados: a repetição de uso daqueles enunciados naquela situação precisa, naquela atividade humana precisa, naquele jogo interativo preciso, vai estabilizando determinados tipos de enunciados que são os que chamamos de gêneros do discurso. Esses enunciados, relativamente estáveis, também se constituem como lugar de emergência dos sentidos históricos das comunicações existentes em  determinados contextos e com determinadas significações, e mantém vivas aquelas significações já socialmente consolidadas. 2) Desenvolva a compreensão sobre a SINGULARIDADE-INSTABILIDADE, na qual a possibilidade de os gêneros irem se atualizando, se modificando, está relacionada ao trabalho desenvolvido pelo sujeito ocupado com um projeto de dizer, junção de seu passado e de seu futuro, frente a uma alteridade viva e atuante, seu interlocutor. O trabalho responsivo do sujeito instabiliza o gênero a cada vez que determinado enunciado é empregado em determinada atividade humana. Esse movimento não nega a historicidade do sentido, nem o tipo e a forma já relativamente estabilizada, mas a movimenta para novas possibilidades, instaurando novas formas e novos tipos de enunciados , relacionando com tipos e formas que são usualmente empregados em outras atividades humanas; esse movimento relaciona gêneros , joga um dentro de outro, obriga enunciados a frequentar novas atividades e significálas e, ao mesmo tempo, renova o gênero dentro do qual se enuncia. Esse trabalho dialógico, responsivo, centrado na alteridade , está sempre prenhe de perspectivas, e buscas por completudes de sentidos, de identidades, de relações sociais, sempre inconclusas. Esse trabalho responsivo instaura a renovação do gênero , veste novos temas sobre significações históricas dos enunciados e das palavras , faz com que o estilo do gênero se conflite com o estilo individual e vice-versa, reconfigura sua composição formal. Vale a pena aqui fazer um leve aceno para o jogo que Bakhtin clareia ao posicionar os gêneros discursivos como primários e secundários. Os gêneros primários, ele chama de simples, e os secundários, de complexos. Simples porque “se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata”, e complexos porque “surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente mais desenvolvido e organizado”; e se estabelecem como relacionais entre si, numa troca infinita de sentidos e renovando continuamente os gêneros. E se conseguimos nos comunicar é porque dominamos os gêneros empregados naquela atividade verbal. E quanto mais os dominamos, mais livres nos sentimos no seu uso – um uso que é também renovação pelos diálogos com outros gêneros – e nas construções de sentidos possíveis que nosso projeto de dizer possibilita no jogo com o outro que também se comunica comigo. Compreender gêneros do discurso a partir das leituras das obras do Círculo de Bakhtin é compreender o texto como parte fundante das atividades humanas dos sujeitos . Essa compreensão revela um sujeito produtor de linguagem , de enunciados e de discursos ; e também nos mostra que o texto é fundamental não somente para os estudos da língua mas para a própria reconstrução da compreensão do homem e das Ciências Humanas.

O herói/personagem, para Bakhtin, “vive de modo cognitivo e ético. Seu ato se orienta em um acontecimento aberto e ético da vida ou no mundo dado do conhecimento.” O herói possui uma “realidade cognitiva ética (da realidade do ato, da realidade ética do acontecimento único e singular do existir)”, uma realidade , portanto, diferente da realidade estética do autor , mas não indiferente a ela. Isso significa que o herói não tem um excedente de visão do todo da obra em que está inserido como o autor tem o excedente de visão do herói em relação aos outros elementos da obra (outros personagens, outros acontecimento s internos a obra) lhe confere também certa autonomia em relação ao autor . No romance polifônico, o herói é um sujeito que aparece na obra e os traços identificadores desse herói nos são dados com os pontos de vista e as idéias que ele tem em relação ao mundo e sua existência. Mesmo quando o herói é autobiográfico, ele não coincide com o autor , porque o autor , para construir esse personagem, deve tornar-se outro em relação a si mesmo, encontrar-se em uma extralocalidade , em exotopia . Somente poderá vê-lo, como herói , com um excedente de visão específico para atingir o todo desse herói , o todo com valores que são transgredientes a sua própria vida. A relação entre autor e herói é uma relação entre um Eu e um Outro, uma relação de alteridade , fundada na dialogia , em relação de responsividade . 

 Materialidade, acontecimento e descontinuidade. A história é o horizonte social de uma época. Como sujeitos ativos e inacabados que somos, a história que produzimos e pela qual somos produzidos é descontínua. Na teoria bakhtiniana, a história tem como noção central a possibilidade de revisitar, refazer ou fazer de outra forma o que já está constituído. Só nosso nascimento físico não é suficiente para nos dizermos sujeito s-históricos; para sermos sujeitos-históricos é necessário um segundo nascimento, o nascimento social . É enquanto inseridos no contexto sócio-econômico de uma sociedade, que os indivíduos podem construir sua existência e, em decorrência, sua produtividade cultural. A história é, portanto, um fenômeno social, uma produção social, um acontecimento descontínuo comum a uma comunidade linguística. Descontínuo devido ao fato de que é a linguagem que cria e recria o mundo histórico e valorativo. A história é móvel, é tanto memória do passado quanto memória do futuro. Mais precisamente, a história é como o veículo de todo signo produzido, funcionando como a transportadora de signos ditos ao encontro de signos ainda não ditos. A cada novo acontecimento, a cada nova produção ideológica a história se recompõe, reescreve-se, atualiza-se. A grande percepção de Bakhtin é justamente de que a história não está estagnada, pronta, concluída, já-dada, mas se rematerializa no uso do signo. É por isso que  materialidade, nesse sentido preciso, não se contrapõe a descontinuidade. 

Toda produção enunciativa relaciona-se com o conteúdo interior e com a expressão exterior. A expressão é caracterizada exatamente pelo signo que parte de um sujeito e direciona-se a outro. Essas relações se concretizam a partir de um horizonte social envolvido na expressão. O horizonte social orienta os valores construídos na interação; é o espaço-tempo compreendido em uma relação verbal, ou seja, o espaço-tempo da enunciação. Essa relação espaço-temporal envolve um tempo mais prolongado e um mais imediato, considerando, também, a memória do futuro na relação entre os interlocutores. Da mesma forma, o espaço envolve tanto configurações mais amplas, como específicas. Cada grupo construirá seu repertório de signos e enunciados que direcionarão as criações ideológicas de sua época. É preciso estabelecer diferenciação entre o horizonte e o ambiente: enquanto o primeiro coloca-se em relação ao signo , o segundo referese ao lugar fora do signo ; o primeiro é social e o segundo, apesar de social, é mais voltado para o físico. 

Para Bakhtin, a ideologia é social e se contrói em todas as esferas das interações: “A ideologia não pode derivar da consciência, como pretedem o idealismo e o positivismo psicologista, pois a consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais”. Reforçando esse entendimento, a ideologia poderia caracterizar-se, na perspectiva bakhtiniana, como a expressão, a organização e a regulação das relações histórico-materiais dos homens. Seguindo esta linha de raciocínio, também pode-se ver ideologia como uma representação. Isso porque se dá na/pela linguagem . Precisa dela para poder manifestar-se e essa é caracterizadamente representativa (simbólica) e constituída por signos ideológicos. Isso significa que esses signos não só denominam um ser no mundo, mas também fazem referência a uma outra realidade fora da imediata. Para Bakhtin, “tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo”. Por ser ideológico, o signo comporta as crenças, os sonhos, as visões de mundo, os modos de interpretar a realidade, etc. Se o signo não fosse também ideológico, nada disso poderia ser identificado nele. O signo carrega, em sua constituição, numa face, uma oficialidade que o faz pertencer a determinado sistema ideológico e, na outra, uma necessidade de reorganização a partir do contato desse signo nas relações cotidianas travadas pelos sujeitos . A ideologia é essa dupla face que faz com que o signo se mantenha na história e também se transforme na interação verbal. Podemos definir a ideologia , portanto, como um conjunto de valores e de ideias que se constitui através da  interação verbal de diferentes sujeitos pertencentes a diferentes grupos socialmente organizados na história concreta.

 A infraestrutura é a realidade concreta de onde parte o processo de comunicação. Os signo s ideológicos se formam a partir desta realidade social, por isso a importância de entender o contexto em que os signo s são formados, ou estudar sempre a situação imediata em que a interação verbal ocorre para formá-los. A infraestrutura sempre está relacionada com a superestrutura. É nesta relação que os sujeito s vivenciam a sua história através da linguagem . Os sujeito s constroem sua identidade tanto na sua vivência concreta em uma realidade infraestrutura l, quanto em uma realidade semiótica superestrutural . Precisamos porém tomar cuidado ao analisar essa relação, pois por vezes caímos no erro de separá-las, como se ora estivéssemos numa realidade infraestrutural e ora estivéssemos na outra. Estamos sempre nessa região limítrofe entre as duas realidades. A superestrutura transforma o objeto em signo . O objeto se transforma em signo quando se envolve em uma esfera ideológica, quando a ideologia constituída em um determinado grupo o faz funcionar no interior de um sistema de valores. No grupo e no horizonte social tal objeto é determinado pelo valor semiótico e se transforma em signo . Daí dizermos que o signo se desenvolveu da infraestrutura para a superestrutura , ou seja, da realidade concreta para o sistema ideológico de um determinado horizonte social 

Fundada sobre pilar da heteroglossia , isto é, sobre o conjunto múltiplo e heterogêneo de vozes sociais que habitam a consciência humana ou, nas palavras de Voloshinov, sobre um auditório social interior bem estabelecido, em cuja atmosfera se constroem nossas deduções, nossas motivações, apreciações etc, a interação é a própria concepção de linguagem em Bakhtin. A linguagem é inter-ação. Em “Marxismo e filosofia da Linguagem” , Bakhtin (Voloshinov) diz que “Toda palavra comporta duas faces . Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém quanto pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da nteração do locutor e do ouvinte” (grifos do autor ). Dessa forma, no próprio dizer de Bakhtin, “a interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da língua”. Mas, o filósofo russo nos chama a atenção para não reduzirmos a interação ao diálogo, no sentido estrito do termo (interação face a face). Este, para o autor, constitui uma das formas primordiais de interação , mas ele deve ser compreendida em uma concepção mais ampla, que engloba toda a comunicação verbal de qualquer tipo. É importante termos em mente que, para Bakhtin, a palavra é ideológica por natureza e comporta nossas avaliações, de forma que a interação é um evento dinâmico onde o que está em jogo são posições axiológicas, confrontos de valores sociais. A interação é, portanto, o diálogo ininterrupto que resulta desse confronto e que constitui a natureza da linguagem . Para Bakhtin [e isso permeia toda a sua obra], viver é tomar posições continuamente, é  enquadrar-se em um sistema de valores e, do interior dele, responder axiologicamente. 

Em “Para uma filosofia do Ato Responsável”, a preocupação com a linguagem aparece de forma secundária e vinculada à uma discussão ética -filosófica. Nesse texto, ela é tida como atividade (e não como sistema abstrato), vinculada à dimensão da vida, sendo, por isso, concreta: a linguagem é vista em relação aos atos únicos e singulares realizados e ao ser-evento-unitário. Com isso, a linguagem carrega expressividade, ou seja, ela carrega a atitude valorativa dos sujeito s em relação ao seu objeto discursivo. Já em o Discurso na vida e discurso na arte (1926), a questão da linguagem (poética e cotidiana) ocupa lugar central nas reflexões de Bakhtin/Voloshinov. Trata-se de reforçar a relação intrínseca que existe entre a linguagem -enunciado e as situações sociais mais amplas e mais específicas, que inclui o compartilhamento pelos interlocutores do horizonte cronotópico, do conhecimento da situação e de avaliações e julgamentos. A distinção entre linguagem tida como sistema e comoenunciado concreto é esmiuçada em “Marxismo em  Filosofia da Linguagem”, nas distinções que Bakhtin/Voloshinov estabelece entre, por exemplo, significação e tema, sinal e signo, entre outras. Por um lado, tem-se a dimensão singular, plurivalente, concreta e irrepetível da linguagem , ou seja, os enunciados; por outro, tem-se a dimensão reiterável, abstrata, unívoca, estrutural e previsível da linguagem , ou seja, o sistema da língua . Essas duas realidade s linguísticas, apesar de serem apresentadas a partir de uma série de distinções, não constituem uma dicotomia, sendo que a linguagem-enunciado se apóia na linguagem -sistema e vice-versa. Em  “Problemas da poética de Dostoievski”, além de focar a dimensão discursiva dos estudos da linguagem , Bakhtin reforça a relação mútua existente entre a metalinguística e a linguística, que tem como objetos, o discurso e a língua - sistema, respectivamente: as duas “devem completar-se mutuamente e não fundir-se”, sendo que a primeira lida com as relações dialógicas e a segunda com os elementos da estrutura linguística. Enriquecendo a concepção enunciativa da linguagem , “O discurso no romance” esmiuça as noções de plurilinguismo (dialogizado), de plurivocalidade e de pluridiscursividade. Trata-se de ver as estratificações social, ideológica, intencional e valorativa como características inerentes às linguagens (do romance e da vida). Tais estratificações fundam-se tanto nas relações dialógicas entre as vozes sociais e ideológicas como na tensão existente entre as forças de unificação (centrípetas ) e de descentralização (centrífugas) operantes sobre as ideologias e línguas. E o elo comum a todas as linguagens funda-se na ideia de que “são pontos de vista específicos sobre o mundo, formas de sua interpretação verbal, perspectivas específicas objetais, semânticas e axiológicas”, podendo, assim, estabelecer relações dialógicas entre si. Nesta obra, o caráter dialógico da linguagem é desdobrado e amplamente reafirmado: todo discurso é orientado (i) para um objeto já constituído por discursos de outrem, (ii) para um já-dito e uma resposta antecipada, (iii) para os interlocutores.

Podemos entender como literatura carnavalizada aquela em que percebemos as categorias de carnavalização e as imagens do corpo grotesco em evidência. Para discutir os conceitos de carnavalização e corpo grotesco, Bakhtin vai à literatura. Ele toma os romances Gargântua e Pantagruel, do autor francês Rabelais, e escreve a sua tese de doutorado que, num primeiro momento, foi recusada. Em Gargântua, desde o início do livro, podemos perceber as imagens do corpo grotesco que, em Rabelais, são gigantes e muito exageradas, características típicas do grotesco. Após comer grande quantidade de tripas em um banquete, Gargamelle, grávida de 11 meses, “sentiu mal e começou a gemer, a gritar. Numerosas parteiras chegaram de todos os lados e, apalpando-a por baixo, encontraram uns pedaços de pele de muito mau gosto. Pensaram que fosse a criança, mas era o reto que escapara, por se ter afrouxado o ânus, que vos chamais de olho-do-cu”. O bebê, que era gigante, sai pelo ouvido da mãe e começa a gritar: beber, beber, beber. Por essa razão, o pai deu-lhe o nome de Gargântua. Um exemplo da literatura brasileira é Macunaíma de Mário de Andrade. Similar ao romance francês, o livro começa com o nascimento do herói : “no fundo da mata virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia”. Se Gargântua é o gigante, Macunaíma é baixinho, o herói sem caráter e o que lhe caracteriza é a preguiça. No filme de Joaquim Pedro de Andrade a imagem do nascimento está bem representada. Uma velha branca e feia (o ator Paulo José), no meio do mato, parece cagar um negrinho velho e preto (o ator Grande Otelo). Tanto em Gargântua como em Macunaíma, ambos explicitamente calcados na cultura popular, podemos ver como os autores já anunciam a entrada para o mundo carnavalizado onde há inversões, dialogismo, polifonia, paródia etc. Do velho nasce o novo, indicando a renovação, a metamorfose. Mário de Andrade mistura a linguagem indígena (não-oficial) com a oficial, cria neologismos, macacos podem falar; Macunaíma, que é analfabeto, escreve em português perfeito. Para roubar, Macunaíma se disfarça de mulher, mostrando a inversão sexual por paródia. Ou ainda, podemos ler Macunaíma como uma paródia da índia romântica Iracema, de José de Alencar, a virgem dos lábios de mel, perfeita, idealizada. O magnata Pietro é deposto pelo herói do seu povo. Também é comum, tanto em Macunaíma, quanto em Gargântua, as descrições de defecação e urinação. Gargântua conta a seu pai sobre o ritual do limpa cu e, quando urina, provoca uma inundação. Macunaíma, para espantar os mosquitos de uma velha, usa a urina quente. Tanto a idade média, contexto de Rabelais, quanto a semana de 22, momento em que Mario de Andrade escreveu seu romance, são momentos de grande transformação social. Daí um retorno ao popular por meio da literatura carnavalizada e imagens grotescas, mostrando a necessidade de renovação, de abertura a novos diálogos. Mario de Andrade, com Macunaíma, usa de forma extremamente criativa características que o popular lhe oferece para criticar o colonialismo oficial e opressor de sua época. 

Língua é a materialização da linguagem humana verbalizada. É fruto do trabalho humano, o que implica dizer que é ideológica, ou seja, é mais do que um sistema unirreferencial, pois além de referenciar o mundo imediato, ela também representa um outro mundo para além da imediatez interacional. Portanto, língua é um sistema linguístico-ideológico (pois se constitui de signos linguístico-ideológicos) através do qual a linguagem humana verbal se materializa para referenciar o mundo, representá-lo e constituir outro mundo para além do imediato. 

Divide-se em duas noções extremamente relacionadas: memória de futuro e memória de passado. Memória de passado : pode-se definir como o solo comum que uma comunidade linguística compartilha. São as experiências, enunciado s, discursos e valores que nos constituem. A história da qual somos filhos é a memória de passado. Memória de futuro : pode-se definir como projeção. Não se deve reduzir a memória de futuro a uma relação temporal, mas a idéia de que o sujeito está incompleto, ou seja, não foi concluído, pois sua história está acontecendo, vai se construindo a partir de suas movimentações. Toda vez que o sujeito fala, isso afeta a si e ao outro . Faz-se presente na sua fala o desejo de perpetuar-se, elevar-se e ampliar-se. Bakhtin, ao falar de memória, explica que ela é sempre de passado e de futuro, pois ambas andam juntas, são complementares. Ao enunciar, resgatam-se os valores já estabelecidos, mas ao invocar os valores ou significações, concomitantemente, reinventa-se o sentido, pois o indivíduo contribui com o tom, a expressão e o desejo do seu projeto discursivo. A memória de passado é o que se pode chamar de atual, contemporânea; já a memória de futuro é utópica, isto é, ainda sem lugar, não concretizada. A primeira tem a ver com a estética , com a constituição do indivíduo. A segunda com a moral, revisão e a reapresentação dos valores. A memória de futuro é colocada como a imagem de um sujeito criativo, logo com responsabilidade moral. O futuro garante minha justificação, pois ele revoga o meu passado e o meu presente, mostra minha incompletude, exige minha realização futura, e não como continuação orgânica do presente, mas como sua eliminação essencial, sua revogação. Cada momento que vivo é conclusivo, e ao mesmo tempo inicial de uma nova vida.

O método, em Bakhtin, consiste em submeter a materialidade linguística concreta - entendida como o resultado verbal das interações sociais, geradora, por sua vez, de formas de interação verbal específicas – a um olhar analítico que integre ideologia e linguagem. Ou seja, não há dissociação entre os signo s e as formas concretas de comunicação social, estas, por sua vez, intimamente relacionadas à base material da sociedade em que se realizam. Bakhtin sugere uma orientação de pensamento a partir do seguinte procedimento: primeiramente, identificam-se e analisam-se “as formas e os tipos de interação verbal”, relacionando-os com “as condições concretas” em que se realiza essa interação verbal. Em seguida, deve-se analisar “as formas das distintas enunciações” e as “dos atos de fala isolados”, considerandoos como elementos constituintes da interação verbal ideológica. Seguido esse procedimento, realiza-se o “exame das formas da língua na sua interpretação linguística habitual”. Estes procedimentos analíticos são complexos e operam de forma conjunta. 

O nascimento social do homem, para Bakhtin, é considerado como algo indissociável do seu nascimento biológico, pois o nascimento concreto ocorre em sua classe social, ou seja, a partir do seu contato com a sociedade. Bakhtin elaborou sua teoria da consciência fundamentando-se nos aspectos sociológicos, rompendo com os aspectos fisiológicos ou biológicos. Ele não compreendeu a consciência aliada a processos internos, mas sim ao contexto ideológico e social. Não julgou admissível a existência da consciência individual; considerou possível somente a consciência social. No nível individual existiriam apenas os signos, elementos externos emergentes do processo social), criados pelo homem. O escritor russo viu a necessidade de criação de uma psicologia fundada no estudo das ideologia s, conferindo à palavra o lugar de destaque na constituição da consciência – sendo social (ou coletiva) – permeada pela existência dos signo s. A atividade mental do indivíduo estaria concentrada na expressão anterior, por meio da palavra, da mímica ou de outro canal de comunicação e internamente para o próprio indivíduo, constituindo-se  no “discurso interior”. O interesse de Bakhtin pela psicologia se relacionou à “necessidade de compreender a construção da consciência e, por aí, apreender especificidades da criação artística”. A análise que fez da psicologia foi baseada na perspectiva semiológica e social, tendo-se fundamentado na linguagem e utilizado o método dialético. Ao considerar o homem como ser histórico e social Bakhtin “historicizou” também a linguagem . Para ele, o mundo é pluralista e polifônico, e a interação verbal é o fator essencial para a consciência do homem. É na coletividade da sociedade que tomamos consciência. “O fenômeno ideológico por excelência e o modo mais puro e sensível de relação social é a palavra , ou seja, a linguagem no sentido mais amplo (...)”. 

 De acordo com Bakhtin, cada sujeito é único e ocupa um lugar único na existência; por isso, ninguém tem álibi para a existência, ninguém tem como escapar da sua responsabilidade existencial: temos o dever de responder. Trata-se, nesse sentido, de uma ética sem concessões. Bakhtin vai dizer também que viver é responder; é assumir, a cada momento, uma posição axiológica frente a valores. Viver é participar desse diálogo inconcluso que constitui a vida humana. A dialogia é, portanto, fundante do nosso ser no mundo e da nossa própria consciência. Na expressão consciência individual há, na concepção bakhtiniana, uma contradictio in adjecto, porque a consciência é sempre plural, no sentido de ser povoada por inúmeras vozes sociais que ali estão como efeito do nosso existir no diálogo inconcluso com a alteridade. Nossa consciência é sempre uma realidade plurivocal (heteroglóssica): Eu vivo em um mundo de palavra s do outro. E toda a minha vida. Não há um álibi, “um ser divino” que esteja por trás de cada atitude humana. Cada um de nós é responsável e, por isso, chamado a responder eticamente pelos seus atos, sem álibi, sem proteção.

Bakhtin faz uma crítica ao objetivismo abstrato , pois esse incide em um apagamento do sujeito falante. Em “Marxismo e filosofia da linguagem”, Bakhtin desenvolve seus argumentos dizendo que o objetivismo, herança de uma tradição filosófica presente já em Descartes e Leibniz, postula que os sujeito s recebem a língua finalizada, pois essa é transmitida aos indivíduos pronta para ser usada. Na Linguística, o objetivismo abstrato foi desmembrado pelo linguista Saussure, quando afirmou que a língua seria o ápice para toda e qualquer análise linguística. A fala, o contexto, o extra-verbal, os elementos transitórios, para Saussure, não seriam objetos de estudo dessa corrente. Disso decorre que o sujeito e sua produção comunicativa são deixados de lado, pois os sujeito s deveriam, nesta compreensão, conformar-se com a estrutura da língua dada. Para Bakhtin, o objetivismo separa da língua o conteúdo ideológico, acreditando que uma mesma palavra usada nos mais diversos contextos será sempre determinada por um mesmo e único significado. 

Bakhtin discute as formas sintáticas em “Marxismo e Filosofia da Linguagem” , por exemplo, no cap.8 (“Teoria da Enunciação e problemas sintáticos”) , no qual o autor diz que “todas as análises sintáticas do discurso constituem análises do corpo vivo da enunciação . As formas sintáticas são mais concretas que as formas  morfológicas ou fonética s e são mais estreitamente ligadas às condições reais de fala”. Com isso não se quer dizer que Bakhtin não dê também grande importância às categorias fonéticas e morfológicas. O que ele ressalta o tempo todo é que “nenhuma das categorias linguísticas convém à determinação do todo. Com efeito, as categorias linguísticas, tais como são, só são aplicáveis no interior do território da enunciação”. Isto é, Bakhtin toma a enunciação como o território para o estudo produtivo das formas, quer sintáticas, quer morfológicas, quer fonológicas, com destaque para as primeiras por serem as que mais se aproximam das formas concretas da enunciação . Para Bakhtin, um “corpo monológico”, como os parágrafos, por exemplo, que tem a pretensão de ser um pensamento completo, contem elementos essenciais que são análogos às réplicas de um diálogo : pergunta e resposta; suplementação; antecipação de possíveis objeções; e exposição de aparentes incoerências ou contradições no próprio discurso, onde encontramos “ o ajustamento às reações previstas do autor e do leitor”. Sendo assim, a organização sintática de um discurso, para Bakhtin, é a própria realização do dialogismo, especialmente em um fenômeno que ele caracteriza por “nodal” que é o discurso citado (discurso direto, discurso  indireto, discurso indireto livre), cujas modificações e variantes podem ser encontradas na língua e servem para a transmissão da palavra de outrem. Para Bakhtin, somente a orientação sociológica foi capaz de “descobrir toda significação metodológica e o aspecto revelador desses fatos.” 

A interação entre o falante(locutor) e o ouvinte (interlocutor), para Bakhtin, é constituída através dos signos. As palavra s funcionam como um elo entre os sujeito s (interlocutores) e surgem carregadas de valores sociais que já foram também constituídos socialmente. Essa interlocução entre sujeitos é construída por meio da enunciação , dos discursos. Bakhtin atenta-nos, a todo instante, que o sujeito se constitui socialmente, através de suas interações e de seus diálogo s. Ao abordar o diálogo, Bakhtin, em “Marxismo e Filosofia da Linguagem”, explicita que “ a unidade real da língua que é realizada na fala não é a enunciação monológica individual e isolada, mas a interação, isto é o diálogo”. A recepção torna-se fundamental na consolidação do diálogo entre os indivíduos. Ao ser interpelado pela enunciação de outrem, no processo de compreensão e interpretação desses  enunciados, o interlocutor oferece suas contrapalavras, o que torna a relação falante-ouvinte dialógica.” Os sujeitos, carregando consigo suas orientações ideológicas, se constituem através do(s) outro (s), dialogicamente, em uma interatividade complexa e dinâmica. Essa concepção de interlocução entre sujeito s, no entanto, não deve se limitar à fala propriamente dita, uma vez que existem outros tipos de diálogo s, outras  interações. 

 Na teoria bakhtiniana, a palavra é um fenômeno ideológico por excelência. Relaciona-se, portanto, diretamente com a realidade, quando se transmuta em signo e adquire significação. Em Bakhtin, a palavra se posiciona sempre na relação eu-outro . Ele explica que, no início, trata-se de palavra interior, quando se relaciona diretamente com o psiquismo , concretizando-se como a base da vida interior. Depois, a palavra ganha um caráter refratário, inserida no seio social como uma palavra exterior, caracterizando e permeando as diferentes formas de interação verbal. Por meio da interação contínua, da realidade concreta, a palavra assume sentido ideológico enquanto enunciado e não como parte da língua sistêmica. Com isso, no jogo social, carrega consigo uma expressividade entonativa – classificada como um ato ativo, contendo uma ubiquidade social. Assim, a palavra é o elemento essencial para acompanhar e constituir a concepção ideológica, enquanto material semiótico da vida interior e eternamente presente no ato de compreender. Logo, por estar diretamente envolvida nas relações humanas, é o indicador mais sensível das transformações sociais, contendo em si as lentas acumulações que ainda não ganharam visibilidade ideológica, mas que já existem.
É a intertextualidade com intenção de produzir um efeito cômico. A forma como se processa esse intertexto, a motivação e as consequências esperadas para esse ato determinam a natureza literária da paródia . Há muitos recursos estéticos e estilísticos para que este recurso se desenvolva focando a produção do riso na literatura. Podemos citar os jogos de palavra s, a ridicularização, o estereótipo, o grotesco, o burlesco, a obscenidade e a ironia, normalmente combinados entre si. De acordo com Bakhtin, esses recursos evoluíram durante o Renascimento, no século XVIII até tornarem-se “componentes estilísticos dos gêneros sérios, principalmente o romance”. É nesse contexto que se destaca a paródia como um gênero peculiar de produção artística que rompe com a vertente da seriedade na literatura, mostrando-se mais recreativa, em uma atmosfera de liberdade e de licença. Ela é carnavalesca, ambivalente, bivocal (a voz do parodiado e do parodiante) e dialógica. Nela, zomba-se da voz séria e, ao mesmo tempo afirma-se uma alegria com a outra voz. Com isso, nega-se o discurso de autor idade e afirma-se a relatividade das coisas. Bakhtin destacou o papel do dialogismo na sua construção, cujo resultado ele chamou “híbrido premeditado”. Com isto, referia-se à inseparabilidade da essência da paródia que, ao mesmo tempo em que dialoga propositalmente com o texto parodiado, não se confunde com ele. As dicotomias sério/cômico, gravidade/riso, sobriedade/embriaguez, espiritualidade/carnalidade parecem evidenciar que a natureza humana subsiste em duas bases que se opõem e se complementam ao mesmo tempo: de um lado a visão séria/trágica da existência humana; do outro , a celebração da vida através do prazer e do riso. Dessa inversãose constitui e efetiva a paródia . 

Ao falarmos em realidade , a partir de Bakhtin, precisamos pensar na realidade per se (o mundo, existente) e na realidade discursiva (construída e existente por meio da e na linguagem ). A linguagem é histórica e constituída por sujeito s. A associação entre cultura e realidade, entre mundo sensível e mundo inteligível, entre conteúdo e processo, entre repetibilidade e irrepetibilidade caracteriza a vida (realidade per se) complexa humana, composta pelo diálogo entre o agir concreto dos sujeitos (ética ) e o pensar sobre o agir dos sujeito s (estética ). O empreendimento bakhtiniano consiste em propor que há entre o particular (aquilo que só nele se faz presente) e o geral (aquilo que cada ato tem em comum com outros atos), a vida e a arte, uma relação de interconstituição dialógica que não privilegia nenhum desses termos, mas os integra na produção de atos, de enunciados, de obras, enfim, de dizeres que produzem a realidade discursiva. Bakhtin propõe a interconstituição entre texto e contexto, sujeito discursivo e sujeito humano, e realidade discursiva (criada no e pelo discurso) e realidade per se. Essa aproximação ocorre porque o sujeito , para o filósofo russo, é agente de sua consciência e a consciência depende da linguagem para se formar e se manifestar. A linguagem só existe imersa no mundo (real), por isso a consciência não é uma instância anterior que impõe suas categorias ao mundo. Ao contrário, ela precisa do mundo para se constituir, ao mesmo tempo em que também o constrói (realidade discursiva). Afinal, as situações vividas (reais) chegam à consciência por meio da linguagem , no âmbito do processo de interiorização do signo ideológico (realidade discursiva). 

Em “Arte e Responsabilidade”, um dos primeiros textos publicados após a conclusão dos estudos na Universidade de São Petersburgo, Bakhtin expõe sua força dialogizadora o propor a ligação com os diversos campos da cultura humana: a ciência, a arte e a vida. Segundo ele, para vencer o mecanicismo dialético é preciso garantir o nexo entre elementos diferentes para compreendê-los em uma unidade de responsabilidade. “O poeta deve compreender que a sua poesia tem responsabilidade pela prosa trivial da vida, e é bom que o homem da vida saiba que a sua falta de exigência e a falta de seriedade de suas questões vitais respondem pela esterilidade da arte”. “Arte e vida não são a mesma coisa, mas devem tornar-se algo singular em mim, na unidade da minha responsabilidade”. Uma boa maneira de se pensar isso é aliar responsabilidade e responsividade: ao mesmo tempo em que sou responsável pelo que faço e digo, também faço e digo em resposta a uma série de elementos presentes em minha vida como signos.

Para Bakhtin, é um gênero literário desenvolvido por Dostoievski. Como o próprio nome revela, é um romance no qual há muitas vozes que convivem de modo a impedir que o narrador seja a voz central. Em outras palavra s, não há narrador central, protagonista, pois todas as vozes presentes no texto dialogam em pé de igualdade. Por ser dialógica e polifônica, a narrativa no Romance polifônico, em vez de alimentar a centralidade e o monólogo, caracteriza-se por vozes que, livres do domínio de um narrador central, produzem significados em interação. Os elementos que constituem esse tipo de narrativa são diferentes entre si, e é justamente essa diferença que potencializa o texto, enriquecendo tanto seus feitos como efeitos. No romance polifônico destaca-se a potência das paixões representada nas vozes de personagens marcantes. Tais potências, para Bakhtin, expressam o ativismo do indivíduo, isto é, o indivíduo não está finalizado, ele está em movimento de criação constante. Deve estar evidente que as vozes em um romance polifônico não se sujeitam a um centro do qual emanariam as palavra s finais. Nesse sentido, uma palavra não pode ser vista como a finalização de uma ideia, mas sim, como uma nova retomada e ressignificação dos sentidos. 

De início, Bakhtin é contundente em afirmar que tudo que é ideológico é signo . E ele vai mais além ao dizer que o signo não se constitui fora de uma realidade material , mas reflete e refrata outras realidades. Os signos somente emergem e podem existir dentro da interação social, adquirindo significação dentro de uma realidade material e concreta. Eles comportam em si índices de valores que espelham e constituem os sujeitos que os utilizam e a realidade social por onde circulam. Tais índices operam como arenas de lutas em que diferentes ideologias entabulam entre si relações dialógicas e disputas pelos sentidos. Dentro do universo da linguagem , o signo tem seu espaço particular por operar como uma ponte entre a língua sistêmica e a realidade sócio-histórica, articulados pela ideologia . Assim, podemos dizer que o signo se dá em uma encruzilhada tripartite e inseparável: uma parte de material, uma parte de materialidade sócio-histórica, e uma parte do meu ponto de vista.

A noção de subjetividade criticada pela obra de Bakhtin implica o limite do ser num “eu” absoluto, de modo que se exclui a relação “eu-outro ”. Bakhtin questiona tal primazia do eu na corrente filosófica que ele chamou de subjetivismo idealista, para a qual os resultantes das relações sociais (inclui-se aqui a língua , a ideologia ) são
apenas produtos da consciência ou da ordem psicológica. Bakhtin refuta essa concepção ao demonstrar que a consciência não pode derivar da natureza, nem a ideologia derivar da consciência. Pelo contrário, a própria consciência toma forma e existência nos signos ideológicos, de modo que o indivíduo somente se constitui, identifica-se e difere-se na relação com o outro .

Na obra “Marxismo e filosofia da linguagem”, Bakhtin critica o subjetivismo idealista , pois esse, assim como a compreensão da realidade marcada pelo objetivismo bstrato , não dariam conta de explicar a complexidade sociológica (e discursiva) da realidade. A diferença básica do subjetivismo em relação ao objetivismo seria que o primeiro tentaria explicar o ato de fala a partir da vida psíquica dos sujeito s falantes, sendo a fala vista como o fundamento da língua . Para o subjetivismo, nada é imóvel, nada consegue conservar uma identidade, sendo o sujeito individual o ponto de origem da enunciação. Desconsideram-se, portanto, a natureza social da enunciação, a natureza da palavra como produto da interação entre o locutor e o interlocutor, e o fato de que toda enunciação surge de certas pressões sociais que configuram, também, os ouvintes possíveis. 

Para Bakhtin e seu Círculo, a questão do sujeito está entre as mais importantes, pois envolve diretamente conceitos fundamentais para sua teoria como dialogia , alteridade e ideologia. Como aborda em “Marxismo e Filosofia da Linguagem”, o sujeito é constituído socialmente, a partir da interação verbal na relação com o outro. Esta concepção diferencia-se de outras trazidas pelo objetivismo abstrato (tendo Saussure como maior representante) e o subjetivismo idealista (representado, entre outros, pela escola de Vossler), correntes do pensamento linguístico discutidas por Bakhtin na obra citada. Para o objetivismo abstrato , há um distanciamento do indivíduo com relação à língua – tomada como autônoma; ou seja, o indivíduo utiliza-se deste código imutável para comunicar-se, não tendo participação ativa sobre ele. Já para o subjetivismo idealista , há uma defesa do indivíduo como ser criativo, que tem uma relação psicológica com a língua – tomada como os outros tipos de arte, criada e expressa a partir de pura inspiração, ou seja, num movimento do interior para o exterior do sujeito . Ao criticar estas vertentes, Bakhtin é incisivo na defesa de um sujeito ativo na constituição da língua , sendo assim também constituído por ela e a partir do diálogo e  da interação verbal com o outro. O sujeito é constituído de fora para dentro. Como afirma Bakhtin, até mesmo o consciente e o discurso interior são formados socialmente; e a língua está sempre em movimento na interação dos sujeito s, numa relação de estabilidade e instabilidade entre estes e o meio social. Portanto, o sujeito na teoria bakhtiniana é considerado como um ser de ações concretas, em contraposição à concepção de sujeito abstrato ou idealizado. 

 Uma questão primordial para todos e quaisquer estudos marxistas é a noção de superestrutura . Trata-se de todo o sistema social-ideológico que uma sociedade constitui na sua história . Bakhtin, no livro “Marxismo e filosofia da linguagem” , vai dedicar um capítulo para discutir a relação entre Superestrutura e Infraestrutura, nos mostrando que o lugar onde encontraremos a materialização da superestrutura é a palavra , ou ainda, o signo ideológico. A superestrutura , como a ciência, a cultura , a religião, a educação e a mídia, por exemplo, forma seus tipos relativamente estáveis de signos ideológicos. Não devemos, entretanto, colocar a superestrutura como fundadora desses signos, pois os signos se constituem na relação dialógica entre infraestrutura e superestrutura . 

É o conjunto de instituições jurídico-políticas (Estado, direito, etc) e as “formas de consciência social” que correspondem a uma dada infra-estrutura. É preciso lembrar, no entanto, que essa correspondência não é mecânica, mas a superestrutura tem uma relativa autonomia em relação à infraestrutura. (Linguagem e Ideologia, José Luiz Fiorin, pág 83)

 A noção de tema vincula-se à perspectiva semântica presente nas obras do Círculo de Bakhtin. Tal perspectiva contempla uma tensão existente entre a significação, que contempla os sentidos reiteráveis, previsíveis, cristalizados, estabilizados e dicionarizados da língua , e o tema, que trata dos sentidos verbais e não-verbais, singulares, únicos, ideológicos, históricos, valorativos da língua. O tema é determinado tanto pelas formas linguísticas quanto pelo contexto extraverbal que compreende o compartilhamento pelos interlocutores do horizonte espaço-temporal, do conhecimento da situação e de avaliações e julgamentos. O tema (conteúdo temático), juntamente com o estilo e a construção composicional, ao serem marcados pelas especificidades de uma dada esfera sócio-verbal, caracterizam o enunciado . A relação entre a significação e o tema pode ser transposta tanto para as noções de linguagem -enuciado e linguagem-sistema, como para o que Bakhtin (1919) definiu como o mundo da cultura (das representações, objetificações, teorizações) e o mundo da vida (do ato único, singular e vivido); assim, o ato vivido, ao ter seu sentido teorizado pela ciência, filosofia, história ou estética , passa a assumir um valor abstrato, distante do que era enquanto experiência. 

Segundo Bakhtin, "O excedente da minha visão contém em germe a forma acabada do outro, cujo desabrochar requer que eu lhe complete o horizonte sem lhe tirar a originalidade. Devo identificar-me com o outro e ver o mundo através de seu sistema de valores, tal como ele o vê; devo colocar-me em seu lugar, e depois, de volta ao meu lugar, completar seu horizonte com tudo o que se descobre do lugar que ocupo, fora dele; devo emoldurálo, criar-lhe um ambiente que o acabe, mediante o excedente de minha visão, de meu saber, de meu desejo e de meu sentimento". É pela memória que se estabelece os valores de nosso julgamento. E essa valoração somente se concretiza através da exotopia (só um outro pode me dar acabamento, assim como só eu posso dar acabamento a um outro). O sentido estético se processa através do excedente de visão, no tempo e no espaço, em relação à consciência do outro, dá-lhe forma e acabamento, as quais jamais se podem ter por conta própria, do “eu-para-si”. O valor estético para Bakhtin, não decorre da definição de uma forma acabada, mas de um processo axiológico, ou exotópico da minha relação com o outro, da consciência que eu tenho do outro.

Acesso em 12 de abril de 2011, às 11:33h